A Transite visitou o Estadual Central, primeira escola de BH a ser ocupada contra a “PEC do teto dos gastos” e a “Reforma do Ensino Médio”.

Entre conversas sobre o futuro da educação no Brasil e sobre quem irá preparar a macarronada do almoço, acompanhamos o que esses jovens buscam com um punhado de barracas no saguão da escola.


 

Atualização às 11h35 de 30 de out:  houve tumulto na manhã da sexta-feira, dia 28 de outubro, durante discussão sobre o prosseguimento da ocupação no Estadual Central (que havia sido marcada por estudantes contrários ao movimento, como apontamos nesta reportagem). Segundo um ocupante, “algumas pessoas do MBL [Movimento Brasil Livre], e do Direita Minas, que não eram estudantes da escola […] e estudantes da escola também” compareceram ao protesto. A Polícia Militar esteve presente. Os organizadores do protesto no Facebook foram procurados pela Transite, mas não se pronunciaram. Em vídeo, o Movimento Brasil Livre confirmou a participação no ato. O Direita Minas respondeu o seguinte quando questionado sobre a presença na manifestação: “O Movimento Direita Mina esteve na INVASÃO atendendo a pedidos de alunos insatisfeitos com aquele ambiente promíscuo, apenas os apoiamos. Sabe-se claramente que os jovens militantes de esquerda estão sendo usados para atender interesses de partidos políticos. A intenção do nosso movimento foi dar voz àqueles alunos que querem apenas exercer o seu direito de estudar em paz. Deixamos claro que a hegemonia da esquerda acabou e ela não vai fazer desse país o seu ‘vaso sanitário'”.

 

Recreio: hora zero da ocupação

 

Na manhã do dia 6 de outubro, uma quinta-feira, Michel Temer (PMDB) se reunia no Palácio do Planalto, em Brasília, com governadores de sete estados, inclusive o de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), para discutir reformas na previdência, parte das medidas de ajuste fiscal do novo governo. Na mesma manhã, no bairro Lourdes em Belo Horizonte, a cerca de 630 km do centro da presidência, um grupo de alunos da Escola Estadual Governador Milton Campos, a Estadual Central, convocava os colegas durante o recreio para protestarem contra outra medida do ajuste de Temer, o Projeto de Emenda Constitucional 55 – a “PEC do teto dos gastos”, antiga PEC 241 – e também contra a Medida Provisória 746, a “Reforma do Ensino Médio”.

Com megafone em mãos, membros do grêmio estudantil recém-eleito chamavam os demais estudantes para se somarem à ocupação. As barracas já estavam prontas para serem montadas no vão sob o prédio principal do Estadual Central. “Vocês vão dormir aqui, viver aqui?”, alguns estudantes perguntaram, conta uma das alunas* que tomou a frente da assembleia no recreio. A resposta foi clara: “Vamos!”, e montaram o acampamento.
 
*Os nomes dos jovens entrevistados foram preservados por escolha editorial da revista.
 
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A ocupação começou há quase um mês, no dia 6 de outubro, quando alguns jovens, munidos de megafone e barracas, convocaram os colegas para ocuparem o Estadual Central. Nem todos concordaram ou aderiram ao movimento, no entanto.

 

A ideia, segundo ela, já era discutida em reuniões com alguns estudantes há pelo menos dois meses, e surgiu do contato de alguns deles com a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, a Ubes. No primeiro dia, eram oito ocupantes, conta – inclusive alunos do turno da tarde, que foram de manhã para ajudar na organização. A reação, ela diz, foi “mista”, e pôde ser percebida melhor no grupo do Facebook da escola, o Estadual Central 2016, onde houve quem discordasse dos ocupantes e travasse batalhas de “textão” na rede social. “A gente tem um problema muito grande de comunicação dentro da escola. Poucas pessoas chegaram ou estavam interessadas mesmo pela assembleia”, comenta a jovem.

Se dentro da escola há alunos que não se interessam pela ocupação, há quem demonstre interesse, ainda que do lado de fora. Alguns ex-alunos dividem as barracas com os estudantes e outros aparecem para oferecer oficinas e debater política.
 

Festa, vigília, limpeza e ainda os estudos: ocupar dá trabalho

 

“A gente sempre apoiou reformulação do Ensino Médio, mas uma reformulação com a nossa cara”, disse um dos participantes da ocupação da Estadual Central, enquanto a Transite acompanhava a assembleia matinal do grupo em uma sexta-feira durante o feriado de Dia das Crianças – período sem aulas na escola. “No Paraná tá tudo ocupado, a gente tem que fazer isso aqui”.

A ocupante, de 15 anos e matriculada no primeiro do Ensino Médio, mudou-se para BH este ano e, com a mudança, veio a Estadual Central: "Eu vim pra cá totalmente se imaginar que hoje eu estaria militando, lutando pelos nossos direitos (...). Eu tenho aprendido muito sobre tudo, principalmente sobre algumas questões de que eu era um pouco desligada. Eu não era tao envolvida com questões de feminismo, homofobia, racismo, e hoje eu sou bastante envolvida".

A ocupante, de 15 anos e matriculada no primeiro do Ensino Médio, mudou-se para BH este ano e, com a mudança, veio estudar no Estadual Central: “Eu vim pra cá totalmente sem imaginar que hoje eu estaria militando, lutando pelos nossos direitos […]. Eu tenho aprendido muito sobre tudo, principalmente sobre algumas questões das quais eu era um pouco desligada. Eu não era tão envolvida com questões de feminismo, homofobia, racismo, e hoje eu sou bastante envolvida”.

 

Da caixa de som ao lado da roda da assembleia, tocavam músicas de Caetano Veloso, Tim Maia, Lady Gaga – e muitos funks. Rodeados por cartazes manuscritos de “Fora Temer” e “Diversidade na nossa cidade!”, além de um cobertor aqui e ali para proteger as pernas, o grupo de doze jovens planejava a festa que aconteceria na escola naquela noite, segundo eles para chamar atenção para as causas defendidas pela ocupação. Na programação do “Show do Central” estavam bandas de rock de BH e uma batalha de MCs.

Uma das principais pautas do dia era a segurança durante o evento. Um cigarro de palha rodava de mão em mão, mas maconha, álcool e outros itens ilícitos, afirmaram os participantes, são proibidos na ocupação – “mas maconha a gente não chama de droga”, corrigiu um dos estudantes, em referência à pauta de descriminalização do uso da Cannabis. Para manter a segurança, os jovens organizaram uma escala de vigia na entrada do Estadual Central durante a festa, a fim de impedir que alguém entrasse com artigos proibidos no colégio. Outra preocupação dos estudantes era que pessoas que quisessem deslegitimar a ocupação jogassem drogas e garrafas de bebida pelo muro baixo da escola.

"Todo mundo faz sua parte, gosta de ajudar (...) A gente tava limpado, mas tava cantando, dançando, um ajudando o outro, mas se divertindo e fazendo sua tarefa", afirma uma ocupante. Um colega confirma: "A gente tá num clima muito família. No começo, a gente baixou muito guarda. Eu, sinceramente, sinto como se estivesse em casa, tirando o chão em que a gente tá dormindo".

“Todo mundo faz sua parte, gosta de ajudar […] A gente tava limpado, mas tava cantando, dançando, um ajudando o outro, mas se divertindo e fazendo sua tarefa”, afirma uma ocupante. Um colega confirma: “A gente tá num clima muito família. Eu, sinceramente, sinto como se estivesse em casa – tirando que a gente tá dormindo no chão”.

 

“Droga, Niemeyer”, comentou uma participante, em referência à baixa estatura dos muros projetados pelo arquiteto. A assinatura do carioca no desenho da escola acentua a preocupação dos ocupantes. Os prédios, cada um deles referência a um item do material escolar, são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan. Danificar um prédio tombado pode resultar em multa ou mesmo prisão (art 163 do Código Penal).

Os jovens aproveitaram a reunião para planejar os “aulões” preparatórios para o Enem e para a semana de provas de recuperação, que se aproximavam. Muitas mãos se levantaram para oferecer ajuda aos colegas em Redação, História, Sociologia e Filosofia. Alguns ocupantes estão no último ano do Ensino Médio, às vésperas do vestibular; outros acabaram de sair do Ensino Fundamental. Há ainda os ex-alunos, entre os quais alguns retornaram à escola com experiência em outros movimentos sociais e tentam ajudar os mais novos a organizarem a ocupação.

A base da ocupação, onde ficam as barracas de diferentes tamanhos e acontecem grande parte das atividades do grupo, fica sob o prédio principal da escola, “a régua”. A sugestão de um participante para impedir a pichação das paredes e muros foi estender um mural para pichação furante a festa do feriado. A maioria apoiou e logo ao fim da reunião ele já estendia um .longo pedaço de tecido TNT branco - que ficou assim depois uma semana depois.

A base da ocupação, onde ficam as barracas de diferentes tamanhos e acontecem grande parte das atividades do grupo, fica sob o prédio principal da escola, “a régua”. A sugestão de um participante para impedir a pichação das paredes e muros foi estender um mural para pichação durante a festa do feriado. A maioria apoiou e logo ao fim da reunião ele já estendia um longo pedaço de tecido TNT branco – que ficou assim alguns dias depois da festa.

 

A reunião se estendeu por mais de uma hora. Terminada a assembleia, cada um migrou para a tarefa do dia – pegar a roupa no varal, cozinhar, produzir cartazes para a festa, lavar o banheiro. Entre uma atividade e outra, e mesmo durante elas, conversavam, riam, dançavam e lembravam a política que pode existir por trás desses gestos.

Alunos do último ano de Ensino Médio, preocupados com o Enem, também participam da ocupação.

Os jovens revezam atenção entre a ocupação e o Enem, que se aproxima. Eles tentam ocupar as pausas entre as tarefas com estudo, mas também para descansar, nas barracas montadas no saguão.

 

Quem apoia a ocupação e os partidários da escola desocupada

 

“Historicamente, o Estadual Central sempre foi um centro estudantil de expressão política significativa em Minas, e isso aí é mais um exemplo de uma ação dessas, de expressão política”, afirma o diretor da escola, Jefferson Lopes. A posição oficial do colégio em relação à ocupação, ele diz, é de “respeito a todo tipo de manifestação”. E esclarece: “[A ocupação] é um movimento deles [estudantes] e tem que ser respeitado. Não é um movimento da escola, é um movimento dos jovens”. O diretor ainda acrescentou que a escola tem oferecido condições básicas para os ocupantes, como liberar os vestiários para os banhos e dar acesso à cozinha sob supervisão de um funcionário – ao menos enquanto a Transite esteve no Estadual, isso realmente ocorreu.

Na tarde do dia 18 de outubro, uma terça-feira, os ocupantes convidaram todos os demais alunos da escola a retirarem dúvidas sobre o funcionamento da ocupação e os objetivos dela. Ao menos três professores – de Filosofia, Geografia e História, favoráveis à ocupação – suspenderam os dois últimos horários de aula em sala e levaram as turmas para participar do debate.

Na semana de volta às aulas, depois do feriado prolongado do Dia das Crianças, os ocupantes chamaram todos os colegas para uma assembleia. Um ex-aluno, que foi assistir à reunião, convoca: "Na forma de vocês, venham lutar! (...) Quem vem pro Ensino Médio, acha que aqui é o 'High School Musical', que a gente vai entrar o ônibus amarelo e começar a cantar. e não é! A gente sabe que é pesado".

Na semana de volta às aulas, depois do feriado prolongado do Dia das Crianças, os ocupantes chamaram todos os colegas para uma assembleia. Um ex-aluno, que foi assistir à reunião, convoca: “Na forma de vocês, venham lutar! […] Quem vem pro Ensino Médio, acha que aqui é o ‘High School Musical’, que a gente vai entrar no ônibus amarelo e começar a cantar. E não é! A gente sabe que é pesado”.

 

Ora em clima de apoio à ocupação – ora o contrário, com estudantes acusando a ocupação de ser “manipulada” por outros movimentos sociais e ter se tornado lugar de “zoação” -, a presidente do grêmio defendeu a importância da iniciativa. “Se a gente está na escola e não defende a educação de vocês, a gente não serve pra nada. […] E é uma luta não só do grêmio estudantil, é uma luta de todo mundo!”, ela afirmou.

Alguns alunos contrários à ocupação marcaram, para o dia 28 de outubro, um evento de desocupação do Estadual Central. Além de questionar a representatividade do Grêmio, os jovens questionam que não foram avisados antes da ocupação se iniciar. “Ocupantes praticam atos impróprios dentro da escola (alguns até são menores de idade), ocupantes feriram o meu direito de ir e vir garantido pela constituição na segunda-feira, alguns ocupantes nem são da escola, ou seja, nós estamos correndo risco, afinal, não se sabe quem são”, afirmam em nota.  A proposta do evento é pedir a retirada da ocupação, “pacificamente e ordeiramente”, dizem, e propor eleição sobre os rumos do movimento. “Caso contrário, pedimos que eles respeitem a democracia e desocupem já. Não devemos feri-los pessoalmente e sim, a causa do movimento que é superficial e manipuladora”, acrescentam.

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Futuro da ocupação é incerto, com movimento de outros estudantes pedindo a retirada das barracas e “respeito à democracia”. Situação deve ser debatida nos dias 28 e 29 de outubro.

 

O apoio dos pais dos estudantes, assim como entre os colegas, não é unânime. Os jovens relataram inclusive um conflito com uma mãe quem, sem aviso, foi à escola e flagrou a filha beijando outra garota. “Evangélica e conversadora”, nas palavras dos ocupantes, a mãe se escandalizou e teria agredido a menina na frente dos outros jovens.

A Transite conversou com a garota, que voltou à ocupação dias depois, e contou que a mãe chegou a bater a cabeça dela no muro. “E a burguesada do Lourdes assistindo tudo”, comentou uma ocupante. Já o pai da garota, que apareceu algum tempo depois da mãe, teria ameaçado processar os participantes da ocupação. “Ele falava como se a gente fosse leigo”, disse uma ocupante, que diz ter retrucado: “A gente enfrentou o Cunha, você acha que a gente tem medo de promotor? Beijar mulher não é crime, mas bater em menor, sim. Sua esposa podia ser presa por isso”, a jovem afirmou que disse ao pai.

Por outro lado, Misley Pereira, estudante de Nutrição da UFMG, apoia as ocupações e trouxe a filha, de 14 anos, para o Estadual Central durante a semana de recesso escolar como “presente de Dia das Crianças”. A menina aprovou: “Eu gosto dessa coisa de movimento estudantil, eu acho importante. Eu gosto de ocupação e apoio a causa”, afirma. Misley pretende que a filha curse o Ensino Médio em uma “instituição pública de qualidade”, e a Estadual Central é a primeira escolha para 2017, porque tem, diz a mãe, “um pensamento politizado já estruturado”. Ela deixa um recado para os pais que desaprovam as ocupações: “Eu gostaria que eles viessem se politizar com seus filhos e tivessem esse entendimento de que a gente aprende com eles também”.

Mãe e filha, que está terminando o Ensino Fundamental, apoiam a ocupação, doam donativos e participam de atividades na escola. "Eu acho muito importante que a gente entenda o momento politico que a gente tá vivendo hoje. É um momento que interfere na vida da gente, no processo de educação de toda a população brasileira”, afirma a mãe.

Mãe e filha – que está terminando o Ensino Fundamental – apoiam a ocupação, doam e participam de atividades na escola. “Eu acho muito importante que a gente entenda o momento político que a gente tá vivendo hoje. É um momento que interfere na vida da gente, no processo de educação de toda a população brasileira”, afirma a mãe.

 

Além dos pais e de ex-alunos, a ocupação no Estadual também tem recebido doadores, como Marco Paulo. Ele é corretor de imóveis e participa do grupo de WhatsApp “A Luta Continua”, de organização para manifestações políticas como as que aconteceram contra o impeachment de Dilma Rousseff. “A gente tem que dar uma força pra essa juventude, porque eles estão fazendo um movimento consciente”, afirma, “Os meninos que estão aí são o futuro do Brasil”.

 

O histórico da Central e a “Primavera Secundarista”

 

A Escola Estadual Governador Milton Campos foi batizada em homenagem ao governador de Minas Gerais entre 1946 e 1950, o antecessor de Juscelino Kubitscheck que, anos mais tarde, envolveu-se nas articulações do golpe civil-militar que resultou em uma ditadura de duas décadas. Em 1959, Milton Campos havia perdido as eleições para a vice-presidência para o gaúcho João Goulart, o Jango, que era o presidente da República à época do golpe.

Curiosamente, o colégio de Ensino Médio que leva o nome de Campos, fundado em 1854 e considerado um dos mais antigos de Belo Horizonte, quando foi transferido de Ouro Preto para a cidade em 1898, tem um histórico de alunos afeitos à luta por causas sociais. Dilma Rousseff, que resistiu contra a ditadura, é uma das ex-alunas célebres.

Há ocupantes que não são matriculados na Estadual Central. Este acreano é um exemplo, Com 21 anos e formado em Agroecologia, ele participa de movimentos como a Ubes e a Juventude Socialista há cinco anos. "Eu acho que, a cada geração, é uma nova revolução", diz, "Esta revolução é pra gente não perder nenhum direito. A geração passada conquistou muito, Resistiu contra a ditadura, conquistou a redemocratização do pais, conquistou uma escoa pública – não como a gente quer, mas um avanço muito significativo – conseguiu entrar na universidade".

Há ocupantes que não são matriculados na Estadual Central. Este acreano é um exemplo. Com 21 anos e formado em Agroecologia, ele participa de movimentos como a Ubes e a Juventude Socialista há cinco anos. “Eu acho que, a cada geração, é uma nova revolução”, diz, “Esta revolução é pra gente não perder nenhum direito. A geração passada conquistou muito, resistiu contra a ditadura, conquistou a redemocratização do país, conquistou uma escola pública – não como a gente quer, mas um avanço muito significativo – conseguiu entrar na universidade”.

 

A iniciativa de ocupar a Estadual Central é parecida com a de alunos de várias escolas do Paraná, que ocuparam os colégios com motivação semelhante. Os ocupantes da Estadual Central fazem referência também às ocupações de escolas em São Paulo em 2015, e reúnem esses acontecimentos sob o nome de “Primavera Secundarista”. A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, a Ubes, atualiza constantemente uma lista com as escolas de Ensino Médio ocupadas no país. No dia 28 de outubro, ela apontava 1.177 escolas ocupadas, 75 delas em Minas e sete em BH. No dia 24, a União Nacional do Estudantes, a Une, falava em 73 campi universitários ocupados. A ocupação dos edifícios da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão incluídos na soma.

As ocupações nas universidades e nas escolas de Ensino Médio desaprovam a Proposta de Emenda Constitucional 55, que prevê limitação de gastos públicos. Segundo a equipe econômica do Governo Federal, a emenda procura balancear as contas do Estado. Funciona assim: durante os próximos 20 anos, o Governo poderá gastar somente o mesmo valor previsto no orçamento do ano em que a PEC for aprovada, mais a correção segundo a inflação. Entre outros pontos, os críticos da medida apontam que essa escolha fere a Constituição, que garante investimentos em áreas básicas como educação e saúde, que podem ser prejudicadas pelo aumento mínimo no orçamento.

Todas as atividades são momento para conversa entre os ocupantes. No feriado, a produção de cartazes era intensa, já que haveria festa na escola mais tarde.

A produção de cartazes é frequente na ocupação do Estadual. Uma das preocupações dos estudantes é evitar que jovens consumam bebidas e drogas dentro do colégio – e que isso possa servir como argumento para encerrar o movimento.

 

A preocupação dos alunos do Ensino Médio volta-se ainda para uma proposta que vai afetá-los diretamente, a da Medida Provisória 746, que prevê uma reforma no Ensino Médio. A grade curricular seria flexibilizada e a carga horária de aulas quase dobraria, entre outros pontos. Algumas críticas apontam, por exemplo, incoerência entre o congelamento de gastos da PEC 55 e esse aumento de carga horária, além do receio da fragilização do ensino de disciplinas como Educação Física, Artes, Filosofia e Sociologia, que não seriam mais obrigatórias durante todo o Ensino Médio.

Uma das ocupantes da Estadual Central afirmou que os estudantes não têm previsão de até quando continuarão com o movimento na escola. Porém, segundo ela, deve haver uma assembleia para decidir sobre o futuro do movimento com todas as escolas ocupadas em Belo Horizonte no período em que a PEC for para votação no plenário do Senado. Isso está previsto no cronograma da Casa para 29 de novembro (primeiro turno de votação) e 13 de dezembro (segundo turno). No dia 25 de outubro, a PEC foi aprovada em segundo turno na Câmara dos Deputados por 359 votos favoráveis. Foram 116 contrários.
 

Bruno Fonseca

Desde 2013, o verbo ocupar está aí, “ocupando” espaços e as discussões sobre o nosso futuro.

Gabriel Rodrigues

Primeiramente, fora um monte de coisa.

Júlia Valadares

Escolas ocupadas eram, para mim, uma realidade distante. Por isso, visitar a Estadual Central enriqueceu minha experiência. 

Colaboraram com essa reportagem Marcus Teixeira e Samuel Silveira.