A poucos dias do desfecho das eleições municipais, a Transite “percorreu” as nove regionais de Belo Horizonte para saber como votaram os moradores da cidade no primeiro turno. Onde foi que João Leite, do PSDB, saiu na frente? E onde seu adversário, Alexandre Kalil, do PHS, conseguiu ultrapassá-lo?

Nesta reportagem, a Transite passou por bairros com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) melhores ou igual ao da Noruega – para constatar, logo ao lado, bairros com índices da Índia ou da Bolívia. E nessa cidade profundamente desigual os votos também mudaram conforme a região.

Houve lugares que deram uma vantagem enorme para João Leite, outros que apostaram em Kalil. Há também bairros nos quais outros candidatos despontam, como o PMDB de Rodrigo Pacheco – apoiador de João Leite – e o tradicional Barreiro, de Marcelo Álvaro, do PR . Já na Pampulha, um reduto católico reservou muitos votos a Eros Biondini (Pros). E, claro, muitos bairros preferiram apostar no “prefeito nulo”.

Confira abaixo, como votaram bairros com os maiores e menores índices de cada uma das regiões da cidade.

(Clique nos botões à esquerda para ver o resultado de cada regional. Se estiver acessando de um celular, vire a tela no modo horizontal para melhor visualização)

No Barreiro, Marcelo Álvaro e votos nulos batem recorde 

Por Kaio A. Silva

O Barreiro é a regional da cidade com o IDHM médio mais baixo – mas nem todos os bairros da região são parecidos.

O Vale do Jatobá tem o IDHM de 0,685, considerado médio pela ONU e parecido ao IDH da Indonésia. Já o bairro Teixeira Dias tem IDHM muito alto, de 0,894 – o número do IDH de Israel. No primeiro, a Transite analisou os votos na Escola Estadual Dr. Aurino Morais e na Escola do SESI Hamleto Magnavacca. Já no segundo, levamos em consideração os votos na Escola Estadual Cecília Meirelles.

No Vale do Jatobá, o candidato do PSDB, João Leite, liderou o 1º turno. Seu desempenho, contudo, ficou próximo aos dos votos nulos e brancos. A diferença entre João Leite e Kalil, segundo colocado e candidato do PHS, foi 6% do total de votos (589 votos).

O cenário no bairro Teixeira Dias foi um pouco distinto. Por lá, os votos nulos e brancos tiveram a maior porcentagem de todos os bairros analisados pela Transite e ficaram em primeiro lugar, com 25,8% dos votos. João Leite continuou na liderança, mas com uma diferença pequena para o segundo colocado, Kalil, de apenas 1,4% dos votos (68 votos)

O desempenho de Marcelo Álvaro Antônio, do PR, nos dois bairros do Barreiro surpreende quando comparado ao seu desempenho em toda BH. Marcelo, que fez sua carreira política no Barreiro e já manifestou apoio a Kalil no segundo turno, ficou na 10ª posição em toda BH, com 2,7% dos votos. Já nos bairros Vale do Jatobá e Teixeira Dias, Marcelo foi o terceiro candidato mais votado, com 7,1% e 7,6% dos votos, respectivamente. São os melhores resultados de Marcelo Álvaro de todos os bairros analisados pela Transite.

Na Centro-Sul, região mais rica e mais desigual, João Leite dispara na frente

Por Laura Pessoa

A regional Centro-Sul é a que possui o maior IDHM médio de Belo Horizonte, de 0,914: praticamente o mesmo que o do Canadá. Contudo, a regional é também uma das mais desiguais. Nela está a maior diferença entre IDHM máximo e mínimo da cidade.

Na região Centro-Sul está o Santo Agostinho, bairro com maior IDHM de BH, de 0,955. Não existe um país no mundo que tenha IDH médio igual ao bairro. O mais próximo é o da Noruega, que é de 0,944.

Na mesma região está a Vila Acaba Mundo, que tem IDHM 0,617- o menor valor dentre todos os bairros e vilas de BH. Pela ausência de pontos de votação na Vila, utilizamos os dados de Santana do Cafezal, uma das vilas que compõe o Aglomerado da Serra. Santana tem índice de 0,665, próximo ao IDH do Vietnã, ocupando a posição de segundo menor IDHM da Região Centro-Sul.

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O Santo Agostinho marcou o segundo melhor resultado de João Leite, do PSDB, dentre todos os bairros de todas as regionais analisados pela Transite. É também o bairro com a maior vantagem de João Leite para o segundo colocado nas urnas, Alexandre Kalil, do PHS, que ainda ficou atrás dos votos nulos e brancos no bairro.

Já no Santana do Cafezal, os quatro primeiros colocados são os mesmos, mas a liderança de João Leite é bem menor. Além disso, Luis Tibé, do PTdoB, que ficou em 10º no bairro mais rico da regional, aparece bem à frente, em 5º lugar no bairro com menor IDHM. A porcentagem de votos nulos e brancos também é maior em Santana do Cafezal que no Gutierrez.

Na região Leste, João Leite tem votos parecidos em bairros ricos e pobres – e Kalil fica atrás dos nulos

Por Mateus Santos

O Santa Efigênia é um dos bairros com IDHM mais alto da região Leste, com 0,907. Para se ter uma ideia, este número é o mesmo do IDH da Suécia em 2014. Já a Granja de Freitas, que também fica na mesma regional, possui IDHM de 0,650, considerado médio, pela ONU, e próximo ao IDH do Iraque.

Apesar da enorme diferença de IDHM, os votos no Santa Efigênia e no Granja de Freitas não foram muito diferentes entre si no 1º turno. Os dois bairros colocaram João Leite, do PSDB, em primeiro lugar, com praticamente a mesma porcentagem: cerca de 25% dos votos. Alexandre Kalil, do PHS, ficou em segundo, com 17% no Granja e 19% no Santa Efigênia.

Votos nulos e brancos foram bastante expressivos, quase empatando com João Leite no Granja de Freitas e acima de Kalil no Santa Efigênia.

A Transite usou como referência os votos nas escolas estaduais Arthur Joviano e Henrique Diniz, no Santa Efigênia, e na Escola Estadual Dr. Júlio Soares, no Granja de Freitas.

Na região Nordeste, Kalil empata ou sai na frente de João Leite

Por Vitória Brunini

Na segunda regional mais populosa de BH (de acordo com o Censo 2010), o Bairro Fernão Dias tem um IDHM de 0,653 – considerado médio, pela ONU, e próximo ao IDH do Iraque. Já o União, tem IDHM de 0,814, alto e próximo ao IDH da Croácia.

No Fernão Dias, a Transite considerou os votos da Escola Municipal Henriqueta Lisboa e da Estadual Mendes Pimentel. No União, os da Escola Estadual Laudieme Vaz de Melo e a Municipal Anísio Teixeira.

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No bairro União, João Leite, do PSDB, e Alexandre Kalil, do PHS, praticamente empatam, com uma diferença de 0,2%. Já no Fernão Dias, Kalil sai na frente, com uma vantagem de 3%.

A porcentagem de votos brancos e nulos também merece destaque: nos dois bairros, a quantidade passou dos 20%. No Fernão Dias, votos nulos e brancos praticamente empatam com Kalil e João Leite.

Na região Noroeste, bairros muito diferentes votam parecido – e Rodrigo Pacheco tem seu melhor resultado

Por Letícia Almeida

Na Regional Noroeste, dois bairros se destacam por seus IDHM. O Padre Estáquio tem o maior IDH da região, 0,885, igual ao IDH da Áustria. já o Prado Lopes – não muito longe do primeiro bairro – aparece com o menor IDH, de 0,661, menos que da Bolívia.

Para entender como funcionou a votação nos dois bairros, analisamos, no Padre Eustáquio, quatro pontos de votação: Escola de Musica da UEMG, Colégio Padre Eustáquio, Escola Estadual Cristiano Macho e Estadual Pedro Dutra. No Prado Lopes, o ponto foi a Escola Municipal Carlos Góes.

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Assim como na maior parte de toda a capital mineira, João Leite foi o primeiro colocado em ambos os bairros. Kalil, também nas duas regiões, seguiu logo abaixo, assumindo o segundo lugar. Os brancos e nulos ficaram em terceiro, mas com uma porcentagem bem próxima aos votos de Kalil.

Rodrigo Pacheco, do PMDB, foi o terceiro candidato mais votado (sem considerar nulos e brancos). No Prado Lopes, ele teve seu melhor resultado de todos os bairros analisados pela Transite, com quase a metade dos votos do primeiro colocado, João Leite – para quem declarou apoio no segundo turno.

 

Na região Norte, João Leite e Kalil têm resultado parecido – e quase igual aos que anularam o voto

Por Larissa Costa

Na regional Norte, a menos populosa de BH (segundo o Censo 2010), a região da Vila Nova, no bairro Jaqueline, é um dos menores IDHM da região, com apenas 0,664 – próximo ao IDH do Vietnã. Já o bairro Planalto possui IDHM alto, de 0,894, igual ao IDH de Israel.

No Jaqueline, a Transite considerou os votos nas escolas estaduais Professora Maria Coutinho e Paschoal Comanducci. Já no Planalto, levantamos os votos da Escola Estadual Maria Luiza de Miranda Bastos e da Municipal Tristão da Cunha.

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No bairro Planalto, João Leite, do PSDB, e Alexandre Kalil, do PHS, praticamente empataram, com diferença de 0,5% nos votos. Os votos nulos e brancos vieram logo atrás, com 20,5%.

 

No Jaqueline, a distância de João Leite para Alexandre Kalil foi maior, com o tucano saindo quase 4% na frente. Os votos nulos e brancos ficaram em segundo lugar, à frente de Kalil e cerca de 1% abaixo de João Leite.

Na região Oeste de BH, a mais populosa, João Leite vai bem em bairro rico e tem seu melhor resultado em bairro pobre

Por Bruno Fonseca

A regional Oeste é a mais populosa da cidade, a única que no Censo do IGBE de 2014 passou dos 300 mil habitantes. Nela também está um dos maiores IDHM de BH, o bairro Buritis, com 0,943 – quase o IDH da Noruega, pais com melhor índice do mundo. Mas a regional Oeste também abriga a Vila Vista Alegre, com IDHM de 0,676 – praticamente o IDH da Palestina.

A Transite levou em consideração os votos no Uni BH, no Buritis, e na Escola Estadual Hermenegildo Chaves, na Vila Vista Alegre.

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No rico bairro do Buritis, João Leite, do PSDB, teve o segundo melhor resultado de todas as regiões analisadas pela Transite, com mais que o dobro dos votos de Alexandre Kalil, do PHS.

Curiosamente, foi no Vila Vista Alegre o melhor resultado de João Leite dentre todos os bairros analisados pela Transite, que saiu 21% à frente de Kalil – a segunda maior distância, atrás apenas do Santo Agostinho, na regional Centro-Sul.

A porcentagem de nulos e brancos na Vila Vista Alegre foi maior que no Buritis e também os votos para Kalil – quem teve desempenho pior foi o candidato do PMDB, Rodrigo Pacheco, que teve 4% a menos de voto que no vizinho Buritis.

Na Pampulha, João Leite e Kalil revezam no 1º lugar – e Eros Biondini colhe os frutos da rede Católica

Por Júlia Valadares

Na Regional Pampulha, o segundo maior IDHM médio de Belo Horizonte, com 0,853, nem todos os bairros possuem o mesmo nível de desenvolvimento humano.

A área do Aeroporto da Pampulha, onde estão bairros como o Jaraguá, o Universitário e o Aeroporto, possui o maior índice da regional, 0,914 – próximo ao IDH dos Estados Unidos. Já a região da Vila Maloca e da Vila Nova Cachoeirinha, próximas ao Anel Rodoviário, tem um dos menores índices da Pampulha, de 0,661 – similar ao IDH da Bolívia.

Foram selecionados, na área de maior IDHM, os seguintes pontos de votação: as escolas estaduais Anita Brina Brandão e Coronel Juca Pinto, o Jaraguá Country Club, o Colégio Pampulha, a Escola Municipal Aurélio Pires e a Unidade Jaraguá do Campus BH da UNIFENAS. Já na área próxima ao Anel Rodoviário, foram selecionados três pontos de votação: a Escola Estadual Pero Vaz de Caminha, a Nona Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte e a Escola Municipal Eleonora Pierucetti.

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No Jaraguá, João Leite, do PSDB, recebeu a maior quantidade de votos, seguido dos nulos e brancos e do candidato Alexandre Kalil, do PHS. Uma curiosidade é que, no Jaraguá, Eros Biondini, do Pros, teve seu melhor desempenho dentre todos os bairros analisados pela Transite, ficando em quarto lugar dentre os mais votados. Não por acaso, é no Jaraguá que fica a sede mineira da rede Canção Nova, da Igreja Católica, da qual Biondini faz parte.

Já no Vila Nova Cachoeirinha, foi Kalil quem saiu na frente, seguido por João Leite e nulos e brancos. Apesar das diferenças, é interessante observar que o percentual de votos nulos e brancos sobre a quantidade total de votos foi similar em ambas as áreas.

Em Venda Nova, “Polônia” e “Nicarágua” votam parecido

Por Gabriel Rodrigues

A Polônia, na Europa, e a Nicarágua, na América Central, são dois países separados por um oceano. Já para ir da região C do bairro Copacabana e chegar à Vila Universo, ambos na regional Venda Nova de Belo Horizonte, basta percorrer alguns quarteirões.

A comparação tem motivo: a diferença entre os IDH da Polônia e da Nicarágua é parecida com a que existe entre os IDHM das duas regiões do bairro Copacabana: a região C do bairro tem IDHM de 0,834; já a Vila Universo, tem de 0,617.

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Apesar da diferença, ambos os bairros votam 45. João Leite é o primeiro colocado nas urnas tanto da Escola Municipal Cora Coralina, no Copacabana C, quanto na Escola Estadual Afrânio de Melo Franco, na Vila Universo, com praticamente a mesma porcentagem de votos. O segundo colocado também é o mesmo nas duas regiões: “o candidato” nulos e brancos, com porcentagem parecida. Alexandre Kalil, do PHS, também não tem diferença significativa na votação entre os dois bairros.

 

 

Como foi feita esta reportagem?

A Transite se baseou na lista do IDHM dos bairros de Belo Horizonte disponibilizada pelo Atlas Brasil. Os dados são de 2010 e foram produzidos pela Fundação João Pinheiro, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o  Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A seguir, consultamos na lista de zonas e seções eleitorais da Justiça Eleitoral, quais os pontos de votação nos bairros selecionados, ou que estavam mais próximos.

Através da divulgação de resultados das Eleições 2016 do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE MG), a Transite somou todos os votos e elaborou os gráficos. Foram somados votos nulos e brancos.