Dossiê: Outro Olhar

Uma crônica sobre o retorno ao Shopping Oiapoque depois de quase uma década e capinhas, muitas capinhas de celular.

Por Thaiane Bueno

 

shopping oi

Quando eu era mais nova e morava no interior, vir à capital parecia uma grande viagem. Tudo ao redor era tão cheio, tumultuado e confuso. Foi essa a sensação que eu tive na minha primeira visita ao Shopping Oiapoque. Eu tinha por volta dos doze anos e era quase Natal. Os estreitos corredores do Oiapoque estavam repletos de gente, eu me sentia sufocada e queria sair dali o mais rápido possível.

Demorei oito anos para fazer minha segunda visita ao centro comercial. Cheguei antes das nove da manhã, próximo ao início do horário de funcionamento, que, de segunda a sábado, é de oito da manhã às sete da noite. Mesmo com o dia apenas começando, a movimentação já era perceptível por ali, e aos poucos as últimas lojas terminavam de abrir as portas. “Vamo comprar uma camisa pro seu namorado, moça?” – e por aí começavam as abordagens dos comerciantes.

Talvez seja devido à época do ano, talvez seja pelo fato de eu já ter me acostumado ao ritmo da capital, mas o Oiapoque da minha memória era bem diferente do que encontrei desta vez. As pessoas pelos corredores já não me deixam sufocada e não tenho mais vontade de sair correndo dali. Acho que essa vontade deu lugar à de comprar. Tantas opções com preços atrativos acabam despertando o lado consumista de quem passa por ali. Dentre os itens disponíveis, é impossível não se lembrar de algum que você precisava comprar e estava enrolando há séculos.

No meu caso foi uma capinha de celular e uma película. Tenho um smartphone há um ano e ainda não tinha procurado esses assessórios. Resolvi dar uma olhada nas opções, mas a dificuldade já começou em escolher o local. É incrível o número de lojas que vendem esse produto no Oiapoque. Também é incrível a quantidade de orientais por ali.

Não sei se são da China, Japão, Coréia, Taiwan… Mas os olhos puxados se multiplicam naquele lugar. O sotaque carregadíssimo da moça que me atendeu na loja de capinhas de celular indicava que provavelmente a chegada ao Brasil era recente. O mesmo podia ser notado na fala de outros orientais. Tive vontade de questioná-los sobre como vieram parar no Brasil, o motivo, se valeu a pena. Mas lembrei do sotaque carregado, imaginei minha dificuldade para entender, e desisti da aproximação. Quem sabe numa próxima visita.