Dossiê: Outro Olhar

Uma crônica sobre o Zoológico de BH, animais tímidos e animais livres.

Por Natália Ferraz

 

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Cheguei ao zoológico, olhei o mapa e fiquei pensando aonde ir primeiro. Desisti e resolvi seguir pelo instinto mesmo. Estive ali tantas vezes que achei que ser guiada pelas minhas recordações seria mais interessante. Estava bem vazio e por um bom tempo só vi funcionários no lugar. Acho que era o esperado para um dia de semana. Eu sabia que a entrada não era mais gratuita na terça-feira, mas até mudei meu horário no trabalho para poder ir no dia em que eu costumava visitar o local.

Antigamente, terça virava domingo depois que se passava pela portaria. Famílias tomavam conta do lugar, e às vezes até faltava um bom cantinho para o piquenique. Agora, os animais têm mais um dia de descanso. Ainda mais necessários depois de dois feriados colados ao fim de semana. Devem ter sido dias turbulentos.

Comecei a minha caminhada e logo vi um esquilo que parecia se divertir muito carregando alimentos e caminhando entre as árvores. Achei o máximo! Nunca tinha visto um assim, de perto. Ele corria como se quisesse aproveitar aquele dia de liberdade. E se escondeu quando me aproximei. Perto dali, vários pássaros voavam de um lado para o outro. Alguns cantavam, também. “Isso é joão-de-barro?”, questionou o primeiro visitante que encontrei. “Não, é bem-te-vi”, respondeu sua companhia. Eu acho que não era nenhum dos dois, mas vi que foram os animais livres aproveitando os 1,8 milhão de metros quadrados — como diz o folheto que ganhei na entrada — é que chamaram a atenção deles. Como chamaram a minha.

Mais um pouco e encontrei os macacos-prego. A questão da ancestralidade talvez tenha um pouco a ver com isso, mas os macacos eram os meus preferidos ali. Fui chegando e o menor deles veio me receber. Parou, olhou nos meus olhos, andou um pouco. Eu o segui e ele olhou para trás, como se conferisse se eu o acompanhava. Fez isso no entorno do seu espaço todo, até chegar nos outros dois. Não sei qual é a capacidade cognitiva dos macacos-prego, mas o que senti é que ele queria que eu o livrasse daquela prisão. Já seus colegas pareciam mais resignados com a situação. Ele interagiu comigo até o momento em que peguei o celular para fotografar, quando passou a se esconder. Acho que ficou decepcionado. Fui uma visita inesperada, mas agi como todos os outros que passam por ali.

Zebra, hipopótamo e elefante não me deram bola: preferiram comer a me dar atenção. Já girafa, órix e onça pintada acharam melhor se esconder. Aquela não era mesmo uma tarde para trabalhar. Fiquei pensando sobre o que escreveria depois dessa recepção apática das celebridades do local (que os outros poucos visitantes que encontrei também tiveram), até que vi o mico-estrela. Pulou, fez graça…. “Olha o macaquinho fora da gaiola!”. “Não espanta ele, Ana Luiza!”, mas logo já estava longe.

O folheto diz que “no Jardim Zoológico, você vai poder ficar cara a cara com mais de mil animais de espécies diferentes, todos muito bem tratados e protegidos. Essa aventura vai ser o bicho!”. Mas, talvez, presos ali eles não estejam tão felizes como os que podem fugir dos visitantes.