O Quarteirão do Soul conta em primeira pessoa sua história.
Crônica por Débora Helena, Laura Marques, Matheus Arvelos e Tatiana Rezende
Tudo começou de um jeito muito espontâneo. Geraldo Antônio dos Santos estava lavando carros para conseguir seu sustento e ouvindo suas músicas favoritas em alto e bom som em pleno centro da cidade. Os amigos foram aparecendo, e um momento de descontração enquanto trabalhava virou uma festa com mais ou menos duas mil pessoas dançando na rua – curiosos paravam, gostavam e ficavam. Não podia faltar James Brown, Mandreu, Lin Collis, Tof Power, Aretha Franklin, Jackson Five, entre outros cantores consagrados. Assim, o cenário foi se transformando e eu ganhei forma, nome e localização. O Quarteirão do Soul, como sou conhecido, faz muito sucesso com os belo-horizontinos.
Era bom quando eu ouvia passos diferentes que não fossem os da correria, da pressa no meio da rotina. Nos sábados, os passos saltitavam ao ritmo que contagiou os anos 60, 70 e 80: o soul. Som que o Geraldo e o José de Souza Martins Filho trouxeram, em uma pick-up, há dez anos. Aquelas décadas passaram, mas Zezinho e Geraldinho queriam continuar sentindo a batida. Foi assim que eles me criaram: para rever os amigos que também curtiam o soul de antigamente.
Nesses dez anos de existência, já passei por diversos lugares. Meu primeiro lar foi a Rua Goitacazes, esquina com a São Paulo. Fiquei durante muito tempo neste local, porém, alguns moradores começaram a reclamar do meu som bombante e acabei tendo que mudar. Assim, achei um cantinho na Rua Santa Catarina, entre a Tupis e a Amazonas. Era uma casa muito bacana e a sua localização, logo em frente ao Mercado Central, contribuía para que muitas pessoas viessem me visitar e curtir o meu som. Porém, quando a Prefeitura anunciou que o centro de BH iria receber obras do BRT, esse novo transporte de ônibus, o trânsito foi todo desviado para a Rua Santa Catarina. Novamente fui obrigado a deixar meu lar e seguir à procura de um outro espaço.
Durante esse tempo em que fiquei vagando sem rumo, a Prefeitura tentou resolver minha situação, me mandando para o Viaduto Santa Tereza. Porém, a nova casa não era favorável para mim e meus seguidores. Primeiro, porque o espaço abriga alguns moradores de rua que fazem suas necessidades fisiológicas no local. Segundo, o Viaduto Santa Tereza é escondido, o que não contribui para a minha visibilidade. E por fim, o local também está no meio de um dos maiores pontos de tráfico de drogas de BH. Todos esses fatores só me prejudicaram e cheguei a achar que seria o meu fim. Mas um dos meus criadores, o agora DJ Geraldinho, não desistiu de mim e foi em busca de um novo lar.
Agora consegui um cantinho na Tamoios, em frente ao Ministério do Trabalho, e permaneço agitando BH com os meus sons favoritos, pelo menos duas vezes ao mês. Mesmo com as trocas de localização, me mantive vivo e levo comigo a batida que contagia a todos.