“Chupa-cú”, “Fernando Caronas”, “Estação Ecológica Mal-Assombrada”… Como essas histórias surgiram? De que maneira são repassadas? Conheça aqui um pouco mais sobre os mitos da UFMG.

 Por Maria Eduarda Almeida e Yasmin Oliveira

 

As lendas urbanas ou mitos urbanos fazem parte do imaginário popular brasileiro e são passadas de geração para geração. Quem nunca ouviu as famosas histórias da “Loira do Banheiro”, “Chupa-Cabra” ou “E.T de Varginha”? Essas são caracterizadas por apresentarem um caráter fantasioso e sensacionalista, além de serem divulgadas de forma oral e, nas últimas décadas, também pelas redes sociais. Ademais, são carregadas de simbologia e ensinamentos ao apresentar um caráter autêntico e serem narradas a partir de um fato ocorrido a um “amigo de um amigo” ou de um conhecimento coletivo que foi naturalizado pelos indivíduos. 

As lendas urbanas também estão presentes no ambiente universitário, e quem é estudante da  UFMG certamente conhece os intrigantes relatos do “Chupa-Cú”, “Fernando Caronas” “A Identidade do Spotted”, “Cad 4”, “Estação Ecológica Mal-Assombrada”, “Os gatos da Fafich” ou do “Drive da Stella”. Como elas surgiram e começaram a circular nos campus da Universidade ainda é um mistério, entretanto, é inegável que essas histórias ocupam um grande espaço na vivência universitária, influenciando nos hábitos dos estudantes e tornando-se tópicos recorrentes em rodas de conversa.

Conheça abaixo algumas destas lendas que marcam a UFMG:

Chupa-Cú

Você já encontrou uma figura sombria, talvez um animal de grandes proporções, que tem um gosto peculiar por uma parte específica do corpo humano, vagando pelo campus à noite? Se a resposta for sim, então certamente você já cruzou com o famoso Chupa-Cú da UFMG.

Não se sabe ao certo quando a história do Chupa-Cú começou, mas essa é discutida por muitos estudantes, sendo motivo de risos e de teorias conspiratórias. Alguns dizem que ele é um estudante que se transforma no misterioso ser a noite. Outros afirmam que, na verdade, o Chupa-Cú não existe e que a criatura que vaga no campus pelas madrugadas é um lobisomem.

Recentemente, a lenda foi tema do documentário Projeto C (2022), produzido pelos estudantes do curso de Jornalismo da UFMG.

A diretora da obra, Carolina Cerqueira, nos concedeu uma entrevista, revelando os bastidores do filme. Ela diz que se inspirou no filme Mato Seco em Chamas (2022), do Ardiley Queirós, por se tratar de um documentário falso, e também nos relatos de pessoas no Spotted UFMG alegando ter visto o Chupa-Cú pelo campus da Universidade. O ser misterioso é constantemente mencionado nas redes sociais, sendo uma das lendas urbanas mais conhecidas entre os universitários. 

 

Postagens feitas na rede social X (antigo Twitter) sobre o Chupa-Cú.

Cerqueira também enfatiza que, apesar de se tratar de um documentário e parte de sua inspiração vir dos relatos enviados ao Spotted UFMG, o Projeto C é uma obra fictícia. O filme é encerrado por uma cena que revela o instável limite entre o real e o imaginário. No trecho, a professora Paula Ferreira diz que as aparições do misterioso ser não são confirmadas, ainda que não desacredite dos depoimentos dos estudantes que afirmam terem encontrado a criatura. A última imagem apresentada ao público é a movimentação “suspeita” da vegetação, deixando a conclusão da existência do Chupa-Cú para o telespectador.

A entidade Fernando Caronas

Imagine uma pessoa que é a única administradora dos grupos de faculdade. Bom, esse é o “Fernando Caronas”. Essa lenda tem bastante repercussão entre os universitários e domina não apenas os grupos de carona, mas os de jogos, doces e quitutes. Não se sabe ao certo quem é Fernando e quais as suas motivações, mas há aqueles que dizem que esse indivíduo está criando uma base de dados sobre os alunos da UFMG para, posteriormente, vender. Outro motivo seria o fato dele ter alguma doença, e administrar tais grupos seria algo terapêutico para ele. Alguns também afirmam que o Fernando Caronas não é uma pessoa, mas um grupo de indivíduos que percebeu como seria vantajoso fingir ser o mesmo indivíduo para gerenciar todos os grupos de carona da UFMG.

Para Patrick Tales, estudante de Cinema e Animação, entrar em um grupo do Fernando é algo difícil. “Conheço muita gente que já tentou participar, mas poucas conseguiram já que o único meio é por indicação de alguém que já esteja no grupo. É apenas para a ‘elite’ mesmo”, relata. Ele conta que os grupos de carona do Fernando são bem planejados, e já tentaram criar outros, mas nunca deram certo. Além disso, Fernando Caronas está em todas as discussões dos grupos, seja como mediador ou ditando as regras. Não se sabe ao certo quando começou a surgir esses grupos de carona, mas esse perdura até os dias atuais. 

Vitória Brunini, jornalista da TV UFMG, conta que quando era estudante chegou a participar de um dos grupos de carona. Ela havia mandado mensagem pedindo que a colocassem e 15 dias depois, Fernando a adicionou. Vitória relata que a dinâmica do grupo consistia em pessoas que ofereciam caronas e pessoas que procuravam caronas. Para quem oferecia, deveria ser informado por quais bairros a pessoa passava, em qual horário, de qual prédio está saindo, o número de vagas e também o valor. A pessoa que procurava carona também tinha que informar tudo isso, exceto o preço. “Tudo é bem organizado, tanto que os grupos são divididos por região e a demanda para entrar nos grupos é muito alta. Por isso mesmo, muitas pessoas reclamam da demora que é em conseguir entrar nos grupos, uma vez que é apenas o Fernando o responsável por todo o projeto, e vai colocando no grupo por ordem de chamada. Importante lembrar que as caronas não saem apenas da UFMG, também são oferecidas caronas saindo dos bairros”, diz. 

As frequências de caronas são movimentadas todos os dias, tendo até carona nos três turnos do dia, além daquelas pessoas que ofereciam carona fixas. Mas, o mais peculiar, é que ninguém conhece Fernando Caronas. “Até onde eu saiba, ninguém sabe quem ele é. Um dia me falaram que ele já formou, até porque o grupo existe há muito tempo, mas não sei se é verdade.”, relata Vitória. 

Print de um dos grupos administrados pelo Fernando Caronas.

 

Estação Ecológica Mal-Assombrada

Quais são os locais que você tem medo de passar pelo campus? Para alguns, a resposta pode ser a Estação Ecológica da UFMG. Segundo relatos enviados durante a produção desta matéria, o local é supostamente mal-assombrado devido ao seu passado, que é revelado parcialmente em uma matéria produzida pela TV UFMG.  

Na década de 1940, antes da UFMG se instalar no campus Pampulha, a região era ocupada por outras construções, entre elas estava o Lar dos Meninos Dom Orione. A instituição, que hoje está localizada em outra área, recebia garotos em situação de vulnerabilidade social e os acolhia, oferecendo abrigo, alimento e cuidados médicos. Nas instalações do Lar, funcionava uma olaria – local em que são fabricados tijolos, telhas e outros materiais derivados -, na qual os meninos trabalhavam, produzindo cerca de 8 a 12 mil tijolos por dia. E é aí que a lenda surge.

As pessoas que acreditam no mito afirmam que o local é mal-assombrado pelos meninos que ali residiam. “Quando eu converso com monitores e ex-monitores da Estação Ecológica e comento que, para mim, o lugar é mal-assombrado, eles geralmente concordam e acrescentam histórias.” revela Isabela Lobato, que trabalhou na Estação Ecológica durante os anos de 2019 e 2020. Tendo o seu próprio relato para acrescentar, Isabela revela que, ao fazer uma trilha noturna no local, com mais duas colegas, todas tiveram “sensações estranhas” durante o percurso e, com o sentimento crescendo conforme caminhavam pela Estação, tiveram que interromper os planos, deixando o local.

Como visto acima, as lendas urbanas da UFMG preservam muito conhecimento e são passadas de estudante a estudante, a cada semestre. Não se sabe ao certo quando começaram tais relatos e, muito menos, quando vão terminar de serem disseminadas entre os estudantes, afinal, essas histórias tornam-se lendas ao serem repassadas entre as gerações, tornando-se eternas no imaginário popular. Mas o fato é que criar e transmitir esses mitos virou uma tradição na UFMG e uma boa tradição sempre demora a desaparecer.