Por Gustavo de Oliveira
Biblioteca. Na definição tradicional do termo, com origem na Grécia Antiga, é chamada de “cofre do livro”. Locais em que livros, documentos e, publicações poderiam ser guardados e conservados para posteriormente serem utilizados como consulta.
Até os dias atuais, mais de 500 anos após a prensa de Gutenberg, essa função de armazenar livros ainda fundamenta a razão de uma biblioteca. Porém, tal prática se estende também para o ambiente digital, com bibliotecas e estantes virtuais, servindo de cofre para os tecnológicos e-books.
Após a pandemia de Covid-19, o mundo modificou drasticamente várias práticas. Nas bibliotecas da UFMG o cenário não foi diferente. Sem a possibilidade de auxiliar os alunos com suas obras físicas, espalhadas pelas 26 Bibliotecas Universitárias, surgiu a necessidade de explorar o ambiente virtual. “A pandemia forçou a universidade nesse processo. Com os alunos estudando em casa não teve como, a gente teve que partir em peso. E a pandemia não tinha um prazo, a gente não sabia quando que iria voltar, o aluno precisa, não tem jeito”, explica Cleide Vieira de Faria, bibliotecária da Biblioteca Central da UFMG.
Antes da pandemia, o sistema virtual de biblioteca da UFMG disponibilizava poucas obras e em áreas específicas. Isso mudou no final de 2020, já que a universidade concluiu o processo de contratação de empresas que ofereciam as licenças dos e-books, em grande quantidade e para diversas áreas do conhecimento. Sendo assim, representou uma alternativa ao momento de isolamento social, contribuindo no processo de consultas e pesquisas pelos alunos. O contrato com a fornecedora de livros virtuais durou um ano, sendo finalizado no final do ano passado. Neste momento, a biblioteca possui um projeto de renovação dos contratos por 24 meses, porém não é rápido, necessitando da conclusão da parte burocrática.
Com relação aos custos, existem diferenças entre a biblioteca virtual e a biblioteca física. Os livros impressos são comprados apenas uma vez e em quantidades específicas, suas despesas envolvem a conservação e manutenção do local de armazenamento. Para os e-books, existe um custo fixo que contém a licença das obras e as renovações de contrato com as fornecedoras desses materiais. Apesar do gasto constante, existe o benefício do empréstimo ilimitado, diferente dos livros físicos, que são limitados e podem necessitar de lista de espera, ou seja, não estão sempre à disposição de maneira imediata. Com os e-books, foi possível que todos os alunos, caso desejassem, utilizassem um mesmo exemplar.
Em conversa com Felipe Maia Marques e Ricardo Perez Filpi, servidores da Biblioteca Central, é informado que além da pandemia ter agilizado a biblioteca da UFMG no processo de virtualização dos exemplares, outros serviços também foram modificados. Como é o caso do nada consta (documento que demonstra a não existência de pendências do aluno com a biblioteca) e da quitação de débito (quando o aluno acerta a multa por ter atrasado na devolução de algum exemplar), que migraram para o virtual, e mesmo após a volta do ensino presencial continuaram sendo oferecidos de forma digital.
Física, Cálculo e Bioquímica, foram as três áreas que mais tiveram empréstimos nos últimos anos, de acordo com relatórios disponibilizados pela Biblioteca Central. Vale ressaltar que durante a pandemia a Biblioteca Central funcionou seguindo todos os protocolos de segurança. Porém, não estava aberta ao público, sendo necessário entrar em contato com a secretaria da biblioteca para marcar horário para retirada de algum exemplar. Após isso, o estudante chegava apenas até a porta da biblioteca e retirava o livro, não era possível entrar no local. Ao longo da pandemia isso aconteceu poucas vezes, a fim de evitar o deslocamento das pessoas até a instituição.
Nesta volta ao ensino presencial, Cleide, Felipe e Ricardo relataram a importância da biblioteca física aos alunos. Evidenciando a necessidade deste ambiente para convívio, troca de experiências e estudo, ainda mais após o longo período de isolamento vivenciado pela população. O espaço de leitura fica movimentado durante todo o dia, com alunos estudando nas mesas ou nos computadores. De acordo com os funcionários, a grande maioria dos frequentadores utilizam a Biblioteca Central como espaço social agradável, muito além da consulta ou empréstimo dos livros.
Matheus Coelho, estudante de Sistemas de Informação, falou que não tem o costume de frequentar as bibliotecas da universidade. “Fui na biblioteca central uma vez, para fazer o cadastro. Antes de uma prova importante já planejei ir para consultar um livro ou estudar, mas acabou não acontecendo”. Também disse que já utilizou a plataforma virtual para verificar se tinha um livro, porém acabou não pegando emprestado, e que durante a pandemia não utilizou os e-books disponibilizados.
De acordo com Vilma Carvalho de Souza, bibliotecária-chefe da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), assim como a biblioteca central, todas as outras que fazem parte das Bibliotecas Universitárias seguiram as diretrizes durante a pandemia, e que são bastante alinhadas, apesar da localização em ambientes distintos. Vilma também relatou que muitos livros foram devolvidos bem deteriorados e até rasgados, após ficarem dois anos emprestados por conta do distanciamento social. Em relação à volta dos frequentadores com o ensino presencial, ela disse que a biblioteca da Fafich possui entre seus visitantes algo semelhante ao que ocorria até março de 2020. Desde alunos que vão até a biblioteca para pegar algum exemplar emprestado ou consultá-lo, até pessoas que utilizam o espaço de leitura para estudar, principalmente alunos de pós-graduação e concurseiros.
Com relação ao futuro, Cleide, bibliotecária da Biblioteca Central, enxerga que o ideal seria a possibilidade da junção entre o ambiente social da biblioteca e a experiência virtual com os e-books, uma modalidade que a universidade deve investir cada vez mais ao longo dos próximos anos. “Eu vejo como uma oportunidade muito boa de ter os e-books, porque eu acho que a gente pode trabalhar junto. Eu acho que não pode trabalhar só com os ebooks, a gente tem essa função de fazer híbrido”, relata a bibliotecária.