As catracas são um tema de constante debate nas Universidades Federais. Na UFMG, funcionários e estudantes apresentam suas visões sobre a questão.

Por João Vítor Maia de Abreu


Catracas em funcionamento no prédio da Faculdade de Ciências Humanas da UFMG. (Foto: João Vítor).

As catracas instaladas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) têm gerado debates intensos entre a comunidade acadêmica, que abrangem questões de segurança, controle de acesso e impacto na dinâmica universitária. Pensando nisso, esta reportagem busca explorar a origem e o contexto histórico dessas catracas, a partir de opiniões de estudantes, porteiros e membros de comitês de estudantes da universidade.

O livre acesso e a circulação de pessoas são temas bastante discutidos no Brasil, principalmente devido às preocupações com segurança e acesso. No caso da UFMG, a discussão sobre a permanência das catracas e o livre acesso de pessoas mostra que há uma tensão entre a segurança e o princípio de uma universidade aberta à comunidade.

Segurança e Urbanização: Contrastes e Políticas de Acesso

A questão da segurança em universidades do Brasil é intensamente afetada pelo contexto urbano do país, onde a violência leva à proliferação de muros e sistemas de segurança privados. Assim, a insegurança e a urbanização são termos bastante interligados, já que esse fenômeno cria uma percepção de insegurança que impacta diretamente as políticas de acesso em instituições públicas, incluindo universidades, que se vêem obrigadas a aumentar o nível de vigilância e controle de acesso, como com o uso das catracas.

Na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), a pressão por maior segurança levou à contratação de empresas de segurança para realizar rondas e proteger o campus. Já na UFMG, a pressão por maior segurança levou à instalação de catracas, um movimento semelhante ao que foi observado em outras universidades como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Contexto

A instalação de catracas na UFMG começou de forma efetiva em 2011, sendo ampliada nos anos seguintes. O aumento da criminalidade e os episódios de violência nas imediações da universidade impulsionaram essa medida, que foi incentivada também por parte dos estudantes. Naquela época, muitas universidades públicas brasileiras estavam adotando sistemas de controle de acesso como resposta a preocupações semelhantes, como a USP, que teve a discussão das catracas em 2011 e a implementação em 2013. Mas a implantação não foi um consenso em todas as unidades. Segundo um funcionário* da segurança, em 2015 as catracas da Faculdade de Educação foram arrancadas por alunos, e, mesmo 9 anos depois, ainda não foram recolocadas. Já na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) as catracas foram instaladas apenas em fevereiro de 2023.

Em conversa com alguns dos porteiros de prédios da universidade, eles reforçam que, para as catracas cumprirem o que propõem, o funcionamento deve ser completo. O que não ocorre totalmente, já que alguns prédios, como o Centro de Atividades Didáticas 3 (CAD 3), têm entradas abertas para além daquelas que são controladas com porteiros e catracas. Além disso, os porteiros também afirmaram que as catracas são necessárias para reforçar a segurança de todos os alunos e deles mesmos, juntamente com o registro, tanto em papel quanto digitalmente, do nome de quem entrou no prédio sem a carteirinha.


Catracas fora de funcionamento no CAD 2 da UFMG. (Foto: João Vítor).

Yuri Araújo, graduando em Direito e Ciências do Estado, elogia o sistema de segurança: “as catracas permitem um melhor monitoramento de quem entra e sai do campus, o que pode ser muito útil em emergências ou para garantir a integridade dos recursos da universidade”, afirma. 

Reações e Impactos

Um estudo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) destacou que, embora as catracas pudessem reduzir a entrada de não estudantes, elas não eram uma solução definitiva para problemas de segurança e, muitas vezes, criavam uma sensação de vigilância excessiva forte e ofuscamento de um problema social externo muito maior.

Nesse viés, a própria administração da UFMG, em diversos comunicados, afirmou que as catracas são parte de uma série de medidas para criar um ambiente universitário mais seguro para todos os seus membros, juntamente com sistemas de rondas e vigias.

Alex, secretário do DCE (Diretório Central dos Estudantes) e estudante do curso de Letras na faculdade, reflete: “as catracas trazem segurança, mas aparecem em espaços públicos e existem outras maneiras de gerar segurança sem barrar a entrada e saída de pessoas que querem conhecer o local”. Além disso, o aluno indica alternativas, como um reforço de guardas e seguranças, além de controles maiores nas portarias de acesso ao campus e não na entrada dos prédios.

O futuro das catracas na UFMG

A discussão sobre a presença das catracas na UFMG continua. Vale destacar que, com a pandemia de COVID-19, novos desafios e debates sobre controle de acesso e medidas de segurança sanitária surgiram. 

Mateus Ryan, estudante de Matemática Computacional, comenta sobre as catracas inativas na UFMG. “As catracas cumprem bem o papel que têm, o problema é que alguns dos prédios têm catracas e não usam. Como frequentante do ICEX (Instituto de Ciências Exatas) e dos CADs (Centro de atividades didáticas) não sinto nenhuma diferença”, conta. 

Bárbara Wisllan, estudante de Química também na UFMG traz opiniões semelhantes. “No ambiente como um todo, acredito que a ausência das catracas agilizaria o acesso aos prédios, mas não as vejo como restritivas, e sim como algo positivo e necessário”, ressalta.

As catracas da UFMG representam mais do que uma simples medida de segurança, elas refletem a tensão entre a necessidade de vigilância e a manutenção dos princípios de liberdade inerentes ao ambiente universitário. 

 

*As entrevistas com funcionários da segurança foram realizadas sob a promessa de anonimato, uma vez que são funcionários terceirizados e estavam com receio de falar.


* Reportagem produzida na disciplina Laboratório de Produção de Reportagem sob supervisão da professora Dayane do Carmo Barretos