Um perfil de uma jovem estudante viciada em maratonas na Netflix.

Quinta-feira, dez da noite… Para muitos estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais, hora de ir ao Cabral (aliás, o que será que tem lá, hein?). Mas esse não é o caso de Clarisse Rocha, de 21 anos. A jovem prefere aproveitar seus momentos de descontração em casa, de frente a televisão em que assiste as mais variadas séries pela Netflix. Uma verdadeira aficionada por narrativas seriadas.

Mas no que consiste uma série-maníaca exatamente? Como surge essa paixão? Há outras implicações além de sentar e ver os episódios por alguns motivos? Lançar o olhar para a vida de Clarisse pode proporcionar algumas respostas para essas questões.

Foto de Arquivo Clarisse Rocha

 

Episódio 1: Piloto

Apesar de hoje residir em Belo Horizonte, Minas Gerais, Clarisse é natural de Divinópolis, que fica a 120 km da capital mineira. Foi lá onde deu os primeiros passos, ou melhor, assistiu os primeiros episódios desse tipo de produção.

Sobre a influência do pai, a hoje estudante de Comunicação Social foi introduzida a esse mundo ainda muito jovem, quando possuía apenas dez anos de idade. E não começou com qualquer série, mas sim com Lost, série estadunidense do canal aberto ABC que virou fenômeno de crítica e audiência em meados dos anos 2000.

Apesar disso, Clarisse confessa que na época não entendia muito aquilo que estava assistindo, acompanhando a série mais como um ritual familiar muito comum no Brasil – afinal, quem não assistia novelas ao lado dos pais que atire a primeira pedra.

Talvez, a sensação de conforto que a menina de dez anos sentia ao lado do pai enquanto assistia Lost ainda esteja presente quando a mulher de 21 senta em frente a TV para assistir a Netflix… Mas isso só a psicologia poderia confirmar.

 

Episódio 2: Uma paixão sobrenatural

Se Lost foi o primeiro contato com as séries de TV, foi com Supernatural que Clarisse se apaixonou por esse tipo de narrativa. Lançada no Brasil pelo SBT com o título Sobrenatural, o show não apresentava índices de audiência tão bons nos Estados Unidos, mas conquistou uma base de fãs bastante fiel não só no território do país norte americano, mas também ao redor do mundo.

Ao todo, já são catorze temporadas da série (mais de 307 episódios e 204 horas), mas Clarisse se mantém como telespectadora até hoje, ainda que não tenha assistido o ano mais recente do show por estar focada nos estudos e no trabalho. Recentemente, foi anunciado que Supernatural irá se encerrar após a próxima temporada, mas Clarisse ainda não sabe o que esperar ou como irá reagir ao final.

Com toda certeza, com vazio ou tristeza, já que dá pra dizer que ela conhece esses personagens há mais tempo que seus colegas de faculdade.

 

Episódio 3: Discussão de gênero

Todo mundo tem aquele gênero favorito (e não estou falando aqui de feminino ou masculino). A princípio, Clarisse nega essa tendência: “Se eu me interesso, eu assisto”. E isso pode até ser verdade, mas quando notamos que suas séries favoritas são How I Met Your Mother  e Brooklyn Nine Nine nota-se um tendência para comédias sitcoms.

O que ela deixa bem claro é a aversão a um gênero em específico: o drama. Uma revelação curiosa, já que nossa sociedade costuma associar tal gênero a preferência feminina. Não para Clarisse, que diz também não gostar de novelas.

Os tempos são outros, mulheres consomem o que bem entenderem e é melhor os produtores perceberem isso se não quiserem perder a audiência… Quem é que disse que isso aqui não era uma discussão de gênero mesmo?

Foto de Arquivo Clarisse Rocha

Episódio 4: Quem tem séries, tem tudo

Você pode estar pensando que uma pessoa jovem como Clarisse deveria sair, fazer amizades e socializar. Mas as séries também podem ajudar ela com isso. Apesar de afirmar nunca ter feito amizades por conta de alguma série, a jovem afirmou que episódios e acontecimentos dos programas são temas recorrentes das conversas com os colegas.

Além disso, ela também afirmou que algumas de suas amizades se potencializaram devido aos constantes diálogos sobre o tema. Até porque, comentar série é algo tão cotidiano quanto comentar a notícia do jornal, o resultado do jogo de ontem ou o capítulo mais recente da novela.

Vai negar?

 

Episódio 5: Cinema em capítulos

Ao abrir uma das redes sociais de Clarisse, me deparei não com a imagem de uma de suas séries favoritas, mas sim com um grande banner de Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame) que ela ostenta como capa. Achei curioso, mas depois de pensar um pouco percebi: não seria o Universo Cinematográfico Marvel (nome dado para a franquia baseada nos personagens da editora de quadrinhos Marvel) uma grande série exibida nos cinemas? Até o número de filmes necessários para contar a história dessa primeira temporada (22 longas) coincide com o número de episódios que uma série como Supernatural costuma possuir.

Questionei Clarisse sobre o tema e ela pareceu não ter pensado muito sobre o assunto antes, mas ela chegou a uma conclusão parecida:

“Olha, acho que sim (a natureza seriada dos filmes é um aspecto importante para ela). Sou fascinada com (os filmes da) Marvel ao ponto de chorar ao assistir. Toda a história em ordem cronológica me atraiu muito mais”.

Ela também notou um paralelo interessante que reforça essa tese. Apesar de gostar igualmente dos personagens da DC Comics (concorrente direta da Marvel), ela diz não conseguir se engajar tanto com os filmes deles: ”Gosto muito da DC, mas me desanima muito eles não terem essa linha e lançarem filmes sempre sem continuidade ou aleatórios, sabe?”.

 

Episódio 6: Season finale

Depois desses cinco episódios deve ser possível conhecer um pouquinho da face “telespectadora em série” de Clarisse. O suficiente para saber que ela está mais do que apta para falar dos mais variados shows – menos os de drama – e que adora a Netflix. A próxima temporada, só quem a conhece poderá acompanhar.

Mas se ela sumir por algumas horas no fim de semana você já sabe: Deve estar maratonando How I Met Your Mother pela sexta vez.

Diego Silva