O colegiado de Comunicação Social da UFMG é essencial para administrar o curso. Entenda como ele funciona e conheça um pouco mais sobre seus funcionários.
Que a Universidade Federal de Minas Gerais, intimamente chamada de Federal, recebe, a cada semestre, novas turmas de estudantes, todo mundo já sabe. E que tais alunos, carinhosamente apelidados “calouros” chegam, em sua maioria, totalmente perdidos nas faculdades, também não é lá novidade. Em meio a todo esse processo de descobertas e inserção no ambiente universitário, há, no entanto, uma importante instância, muitas vezes pouco percebida, a qual promove assistência e auxílio aos estudantes, tornando a vida de muitos um pouco menos penosa: os colegiados dos cursos.
Formados por secretários, professores e um coordenador, esses órgãos são os que se relacionam mais diretamente com a vida acadêmica de cada estudante. O que muitos não sabem é que a importância e a atuação dos colegiados vão muito além da resolução dos eventuais problemas dos estudantes. Eles também são os responsáveis pela coordenação didática do curso, orientando e coordenando atividades, elaborando currículos e decidindo questões referentes a matrículas, transferências, ofertas de disciplinas e organização de horários.
Mas, afinal, por que raios escrever uma matéria sobre colegiados? Propaganda política? Mera puxação de saco? Nem um, nem outro. O que nos interessa, de fato, é falar sobre algo que é mais íntimo e próximo de nós, comunicólogas que somos: o nosso tão famoso e querido colegiado de Comunicação Social, cujas figuras emblemáticas marcaram e ainda marcam a trajetória de muitos alunos no curso. Aqui, você confere há quantas anda esse caso de amor (e, às vezes, também de ódio) entre alunos e o colegiado de graduação da Comunicação Social.
Uma breve explicação
568 era o número de alunos que o colegiado de Comunicação Social coordenava no segundo semestre de 2014, quando foi realizada esta matéria. Ele é o segundo maior da FAFICH, atrás apenas do curso de Psicologia. Orientar e coordenar tanta gente não são tarefas fáceis, e, como toda relação humana, constituem uma rede complexa e heterogênea tecida por gostos e experiências diversas, (des)entendimentos, tensões e, claro, descontração e afeto.
Motivadas pela curiosidade de entender de que forma acontecem essas relações, conversamos com diversos alunos e ex-alunos do curso. Além disso, realizamos uma breve pesquisa com esses estudantes para entender como eles avaliam o colegiado quanto ao seu atendimento, organização, resolução de problemas e horário de funcionamento. Deixamos em aberto a opção de fazer uma sugestão, crítica e/ou elogio ao colegiado e a seus funcionários, o que se revelou uma forma bem polida de descobrirmos os principais barracos, mas também os momentos de diversão e carinho desse relacionamento.
O que você acha do colegiado?
Divulgada e compartilhada pelas redes sociais, a pesquisa, apesar de ter sido realizada por uma pequena parcela dos estudantes – mais especificamente, cinquenta e três alunos, menos de dez e mais de nove por cento do total -, serviu para entender um pouco mais sobre as percepções e avaliações dos estudantes em relação ao colegiado.
Mais de 60% disseram estar satisfeitos com a resolução de suas demandas pelo colegiado, enquanto dois por cento a consideraram insatisfatória. Já em relação aos horários de atendimento externo, quase metade dos estudantes se declarou insatisfeita. Variando a cada semestre, esses horários são distribuídos de forma alternada de segunda à quinta-feira, entre manhã, tarde e noite, buscando contemplar os dois turnos de aulas. Na seção “sugestões, elogios e críticas”, o assunto “horário de funcionamento” foi líder. Os alunos demandam maior disponibilidade para atendimento, e há uma crítica mais pontual acerca do horário de atuação da comissão de estágio, cujo atendimento ocorre em um único dia da semana, durante uma hora.
A organização, outro ponto abordado na pesquisa, parece atender à maioria, já que menos de dez por cento a qualificou como insatisfatória. Por fim, perguntamos aos estudantes se eles já tiveram algum problema com o colegiado, e 75% disseram que não. Dos 13% que responderam afirmativamente, obtivemos poucos relatos, entretanto a maioria daqueles que justificou sua opção a relacionaram ao mau atendimento da parte de um dos funcionários – sim, estamos falando do Anderson.
Sobre o tratamento dos funcionários, alguns estudantes solicitaram mais cordialidade e bom humor, alegando que alguns, em determinados momentos, atendem com mau humor e grosseria. No entanto, a satisfação vence em números: mais de 50% dos alunos qualificaram o colegiado e seus funcionários como competentes e colaboradores, e quase 30% consideram o atendimento como regular.
Um bate-papo no colegiado
Ouvir apenas uma das partes da relação, entretanto, não seria o bastante. Era a vez do próprio Colegiado, através de seus funcionários, desvendar os outros lados das histórias, narrando um pouco de suas vivências e experiências nesse cotidiano acadêmico. Então, a partir das conversas realizadas com os alunos, e tendo em mãos os resultados da pesquisa, uma de nós precipita-se à porta do local, no receio e na expectativa de uma entrevista.
É um pouco mais que duas da tarde quando chego ao colegiado. Já havia estado lá mais cedo, mais especificamente às nove e vinte e uma da manhã, nove minutos para o início do atendimento externo das terças-feiras, que se repete às quintas. E também nas segundas e quartas, mas em diferentes horários. O fluxo de alunos e alunas nesse chuvoso e ensolarado pós-feriado universitário foi relativamente baixo em relação aos dias comuns de atendimento externo.
É mais de duas quando a porta se abre. Quem me recepciona é o emblemático – e, muitas vezes, temido – Anderson, que, com um sorriso no rosto, me recebe da forma mais agradável possível. Desliga o telefone, desculpando-se com o seu interlocutor do outro lado da linha por haver uma “repórter” a sua espera. “Repórter”, penso eu, entendendo a responsabilidade. Despede-se com um abraço e promete ligar mais tarde.
A sala é um típico escritório administrativo, no qual há mesas, canetas, armários, computadores, uma minicozinha e papéis, infinitas pilhas de papéis. Ele é dividido apenas por uma cabine na qual se localizam a janela e sua grade, ambas na cor verde musgo, e o tão popular balcão amarelo de atendimento aos alunos. Estão presentes ainda a doce e amada Lúci, que, assim como Anderson, é uma das secretárias do colegiado, e Nísio, o coordenador.
Dos vinte e sete anos de Comunicação de Anderson, vinte e um têm sido dedicados ao colegiado. Já Lúci, ex-secretária do departamento de Comunicação, trabalha lá há nove anos, e Nísio, há pouco mais de três anos. Liria, secretária do turno noturno, que não estava presente durante a conversa, trabalha lá há três anos também. Se gostam do trabalho? Sem pensar muito, respondem que sim, salientando as vantagens de poder estar mais próximo dos alunos, estabelecendo com eles relações de amizade, carinho e cuidado.
Apresento aos três os resultados da pesquisa realizada. Trago o tema dos horários de funcionamento da secretaria do colegiado, da coordenação e das comissões de estágios, principais reclamações dos alunos.
Segundo Nísio, os horários de atendimento externo aos alunos são mais que suficientes para a resolução de problemas. Além disso, esclarece, o colegiado não é só atendimento. Tem que cuidar, também, da parte administrativa. “Por exemplo, um requerimento de matrícula, que o aluno leva 5 minutos para fazer, nós demandamos, em média, uns 30”, esclarece Anderson.
Quanto aos horários das comissões de estágio, o critério da escolha deles depende da disponibilidade dos professores de cada habilitação. Nísio esclarece que toda empresa que tem contrato com a FAFICH – e só são aceitos estágios nessas empresas – tem a obrigação constitucional de liberar o aluno para atividades acadêmicas, e a comissão de estágio é uma delas. “Isso não é nenhum favor que a empresa faz, mas uma obrigação dela”, ele acrescenta.
Em relação à oferta de disciplinas optativas, outro tema bastante recorrente na pesquisa, eles esclarecem que ela depende de uma série de questões, tais como a disponibilidade de professores, horários e salas, e também da demanda dos alunos. É por meio do plano de estudos feito semestralmente pelos estudantes que o colegiado avalia a demanda de determinadas disciplinas para cada turno. A partir daí, é aberto um processo de negociação com o departamento para a oferta das disciplinas mais solicitadas. Infelizmente, nem sempre todas as demandas dos planos de estudos serão atendidas, mas ele é um procedimento importante pelo qual o colegiado pode entender e avaliar quais matérias são mais procuradas, em quais horários etc. Nísio complementa:
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Isto não é um Twitter
As mudanças e falhas do atual sistema online de matrículas estão entre os maiores e mais constantes problemas com que o colegiado tem que lidar, afirma Nísio. Entretanto, quando pergunto quais são os principais “pepinos” da atividade, há unanimidade: a falta de informação de alunos referente a assuntos e acontecimentos que são explicados pelos diversos e-mails que o colegiado envia diariamente. Eles ressaltam que há um constante desinteresse por parte de muitos alunos em se informar, o que dificulta e atrasa o serviço.
É muitas vezes no humor que Nísio encontra formas de chamar a atenção dos estudantes para seus comunicados, como a famosa chamada de seus e-mails “Leiam até o final, isto não é um twitter”. Agora você confere como surgiu essa estratégia:
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Anderson, o Temido
Tido por muitos como bravo, grosseiro e mau humorado, Anderson, cuja emblemática frase “qual o seu número de matrícula?” é uma das mais conhecidas em toda a Comunicação, é uma pessoa super simpática, extrovertida e muito dedicada ao seu trabalho e aos alunos. Uma coisa que o irrita? “Aluno desinteressado. Os desinformados a gente ajuda, explica. Os desinteressados são os que não leem os e-mails e vem aqui perguntar tudo o que a gente já tinha explicado”, diz em tom sério.
Os colegas explicam que o tal “tom sério” dele é só uma forma de brincar e, às vezes, intimidar um pouquinho os alunos. Se ele sempre foi assim? Não, antes da chegada de Lúci, explica Nísio, ele era um pouquinho pior. “Ela amoleceu o coração dele. São como a Bela e a Fera”, acrescenta o coordenador. Segundo Anderson, Lúci deixa os estudantes mal acostumados, sempre buscando um jeitinho de ajudá-los.
Apesar de todas essas controvérsias, ele é muito querido e admirado. Em conversa com alunos, seu nome é o mais recorrente. Atendimento fora do horário proposto, ajuda na hora de preencher os formulários e conseguir se matricular numa disciplina concorrida são algumas das situações em que Anderson deixa o papel de durão e, com toda a paciência, acode os estudantes. “Faço de tudo pra ajudar o aluno”. A gente sabe, Anderson. E agradece por isso.