A prática de exercícios físicos para universitários pode atuar na prevenção e controle de problemas relacionados à saúde mental
Por Vitória Alves
A rotina universitária costuma ser intensa e desafiadora. Com uma jornada de aulas, trabalhos, estágios e, muitas vezes, empregos, os estudantes precisam encontrar formas de equilibrar todas essas demandas. Um levantamento feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2018, mostrou que, cerca de um terço dos estudantes, experimentam algum problema de saúde mental durante os anos de faculdade.
Essa entrada nos cursos de graduação é combinada com o período de alguns momentos delicados com a saúde mental, por questões multifatoriais, principalmente porque, neste período, ocorrem diversas mudanças no estilo de vida. Esse momento da trajetória é atravessado por diferentes acontecimentos: saída da casa dos pais, maiores responsabilidades, demandas acadêmicas e do trabalho, contas, incertezas, entre muitas outras coisas.
Assim, a saúde mental dos estudantes universitários é um desafio crescente. Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), mais de 80% dos estudantes brasileiros relatam problemas emocionais, como ansiedade e desânimo. Para conseguir atender todas essas áreas da vida, pode haver uma certa negligência com a própria saúde física e mental. Tempo excessivo em telas, sedentarismo, alimentação pouco saudável, uso exagerado de bebida alcoólica, substâncias psicoativas e privação de sono são recorrentes durante essa trajetória e aumentam significativamente os riscos de problemas de saúde mental.
Contrariamente, a adoção de um estilo de vida mais saudável pode ser um fator crucial para um bom desempenho acadêmico. Mas, será possível equilibrar um estilo de vida saudável com a rotina universitária?
Stella Assunção de Almeida Costa, estudante de Medicina Veterinária na UFMG, de 20 anos, trabalha 4 horas por dia e faz musculação três vezes por semana. Para ela, a atividade física é essencial, mas o tempo é um empecilho. “Auxilia no foco, mas atrapalha o tempo”, conta Stella. “Ajuda com o controle do meu TDAH e na redução da dose do medicamento. Sem atividade física regular, tenho dificuldade para dormir, focar e me manter mais calma.”
A prática de exercícios físicos é benéfica não só para o corpo, mas também para a mente. A rotina, principalmente a universitária, coloca os estudantes em situações de muito estresse e ansiedade. A atividade auxilia na liberação de hormônios, aliviando o estresse, melhorando o humor e auxiliando no equilíbrio emocional.
Vale ressaltar ainda que, os esportes também promovem uma melhora na autoestima, sendo um fator crucial para saúde mental. Um estudo feito pelo professor do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade de Brasília (UnB), Amilton Vieira, mostra como a atividade física contribui para o bem-estar , diminuindo a ansiedade e aumentando a autoestima. Isso é o que afirma Lucas Fernandes Chamhum Salomão, de 22 anos, estudante de Medicina Veterinária na UFMG. Segundo o estudante, “a prática esportiva me ajudou a superar uma época de autoestima baixa e bullying.”
Esse é um efeito percebido a longo prazo, mas alguns efeitos da atividade física podem ser sentidos até no mesmo dia, como, por exemplo, se sentir mais ativo, focado e atento. Vitória Maciel de Oliveira, de 23 anos, estudante de Engenharia Ambiental da UFMG, notou isso e relatou que, quando pratica exercícios físicos, nota uma melhora significativa no desempenho acadêmico. “Quando estou praticando esporte constantemente, meu desempenho para estudos melhora muito. Consigo focar e estudar com muito mais qualidade.”
Os alunos que não praticam exercícios reconhecem que essa falta prejudica não só a saúde física, mas também a saúde mental e o desempenho acadêmico. Alexia Cavalcante Correa Dornas, de 20 anos, estudante de Enfermagem na UFMG, menciona a falta de tempo como principal motivo e fala sobre a consequência negativa que o sedentarismo tem em sua vida. “Fico menos disposta por não praticar exercícios”, admite.
Thamiris Gonçalves, psicóloga e especialista em terapia cognitivo-comportamental pela PUC, ressalta a importância do esporte para o bem-estar físico e mental. Segundo a psicóloga, “o impacto psicológico positivo que se tem ao se exercitar está relacionado a liberação de alguns hormônios como: serotonina, endorfina e dopamina”.
A Serotonina é um neurotransmissor capaz de regular as emoções, qualidade do sono, ansiedade e funções cognitivas como foco, memória e aprendizagem. Quando há uma baixa concentração de serotonina no cérebro, o indivíduo pode apresentar, segundo Thamiris, depressão e ansiedade, por exemplo.
Já a endorfina é uma substância que auxilia na redução do estresse, nos sintomas de ansiedade e depressão e promove uma sensação de felicidade e motivação. Por fim, a dopamina é um neurotransmissor que também está relacionado à motivação, reforço ou recompensa. Quando esse neurotransmissor não está com níveis adequados, o indivíduo pode apresentar sintomas como desmotivação, problemas de memória, cansaço, falta de atenção e mudanças de humor.
Diante disso, Thamiris afirma que, “o exercício físico para universitários que enfrentam estresse e pressão ao longo do processo acadêmico atua como prevenção e controle para diversos problemas causados pelo comprometimento da saúde”.
Já o treinador físico João Victor Soares, ressalta como a prática de esportes previne doenças cardiovasculares e obesidade, além de reforçar sobre a liberação de hormônios do bem-estar. Ele acredita que a escolha do esporte deve ser baseada na identificação pessoal do aluno. “A prática de esportes tem que ser incentivada como um hobby, algo que o aluno faz porque se identifica e sente prazer.”
O papel da Universidade
Considerando que estilo de vida de muitos universitários é um fator de risco que pode ser modificado e, que, a perda de qualidade de vida pode levar à perda de desempenho acadêmico, a adoção de um modo de vida mais saudável não pode depender apenas de esforços individuais. Assim, é essencial que a Universidade crie e divulgue programas que incentivem a prática de exercícios físicos.
No entanto, infelizmente, muitos alunos relatam essa falta de suporte da Universidade para a prática de esportes. Stella, Vitória e Lucas mencionam a ausência de programas que estimulem a atividade física de outros departamentos sem serem os que fazem parte. Já Alexia cita o desconhecimento de programas da Universidade como um todo.
Na Universidade existe um Centro de Treinamento Esportivo (CTE), órgão complementar da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG. O CTE, além dos treinamentos de alto rendimento, oferece algumas atividades de extensão, incluindo atendimento nutricional, natação e treinamento aeróbico. Além disso, A Universidade também possui uma Comissão Permanente de Saúde Mental, um fórum no qual são formuladas as ações e políticas relacionadas à saúde mental na UFMG.
Esse fórum apoia e suporta iniciativas, ações, projetos e todos os movimentos que visem dar concretude aos princípios e diretrizes da Política de Saúde Mental da e para a UFMG. No entanto, um dos maiores problemas desses programas é a divulgação. A divulgação se mostra insuficiente, pois os alunos entrevistados relatam o desconhecimento dos programas.
A prática de esportes durante a trajetória acadêmica não é apenas uma questão de saúde física, mas também de saúde mental e bem-estar geral. Integrar as atividades físicas na rotina dos estudantes pode ser uma ferramenta poderosa para alcançar o equilíbrio necessário para enfrentar os desafios acadêmicos e pessoais. Assim, a promoção de programas esportivos e de saúde mental pela Universidade é essencial para garantir um ambiente de aprendizado saudável e inclusivo.
* Reportagem produzida na disciplina Laboratório de Produção de Reportagem sob supervisão da professora Dayane do Carmo Barretos