Dossiê: Transporte
Confira as produções de alunos de Comunicação da UFMG sobre o trânsito em BH para diversas plataformas jornalísticas.
M atérias publicadas noutras plataformas sobre as questões da vida cotidiana do transporte em BH. Produção dos estudantes da Disciplina Laboratório de Produção de Reportagem, do Departamento de Comunicação Social da UFMG, no segundo semestre de 2013.

Apesar do costume de viajar de trem e sua semelhança com o metrô, andei pela primeira vez de metrô durante a produção desta reportagem. Me surpreendi com a facilidade do transporte, imaginava algo um pouco mais complicado. O silêncio e a rapidez do trajeto também me surpreenderam.

Durante os 28,2km percorridos dentro do metrô de BH, a cada instante me deparava com locais importantes da cidade e que eu nem imaginava que era possível ir de metrô. Só conseguia pensar como eu poderia aproveitar mais a estação localizada a menos de dois quarteirões da minha casa.

A janela do metrô apresenta-se como uma tela corrente de formas e paisagens que notei multiformes. A cada olhar, a cada detalhe, as figuras e cores mudavam, adaptando-se, imagino eu, à experiência de cada espectador. De lagarta faceira de metal a torres cromadas em campo aberto, me pergunto se a paisagem não era, na verdade, um reflexo do íntimo do observador.

Foi com muito prazer e admiração que ouvi as histórias dos usuários da biblioteca Estação Leitura – e foi com esse mesmo carinho pelos entrevistados que tentei costurar o texto. Muitas vezes o hábito de ler se torna uma briga (contra preços, prazos e o agito de quem pega transporte público) mas, durante a apuração, eu só conheci vencedores.

Uma biblioteca no metrô é uma coisa inusitada, daí a vontade em mostrar esse lado do transporte coletivo. O melhor desta experiência foi perceber a satisfação dos usuários e funcionários da Estação Leitura com o espaço e com as histórias que se cruzam por ali. Histórias tão interessantes quanto aquelas contadas pelos prêmios Nobel escondidos entre as prateleiras.

Embora a infraestrutura seja realmente problemática, o comportamento dos pedestres impressiona bastante. Durante a observação na Avenida Augusto de Lima, um senhor de idade avançada, caminhando com dificuldade – e com auxílio de uma bengala – se aventurou entre os carros e ônibus para atravessar. A impaciência para esperar o sinal abrir é quase sempre maior que o medo de sofrer um acidente.

Foi a matéria com mais chão que já fiz. Chão cheio de buracos e dificuldades. Olhar para baixo foi interessante, pensar num problema que é mais um daqueles problemas que a gente já parou de prestar atenção. Mesmo assim, não perdi a fé em continuar sendo apenas pedestre enquanto as pernas permitirem.

Além da falta de estrutura, me chamou a atenção a imprudência dos motoristas, que parecem acreditar que as vias são apenas deles. Uma situação curiosa foi receber uma “buzinada” de indignação porque eu estava caminhando pela faixa, ao invés de parar para o carro passar!

No momento em que eu tentava encontrar um melhor ângulo para fotografar, várias pessoas se aventuravam entre os carros para atravessar a rua. O movimento era constante e o risco de acidentes parecia não intimidar ninguém.

Nos oito pontos em que estive para fazer essa reportagem, tentei cumprir as minhas obrigações de pedestre, como não atravessar fora da faixa ou enquanto o sinal estava fechado. Essa experiência foi importante para que eu pudesse sentir ainda mais o desrespeito que existe com quem caminha por Belo Horizonte.

Foram necessários seis ônibus e alguns quilômetros a pé, debaixo de sol forte. Até então eu não via nada de interessante em um ponto de ônibus, mas, no primeiro dia, um senhor me contou sua história a partir das linhas que pegara durante a vida. Percebi que minha história também podia ser contada assim, a cada mudança de percurso na cidade, um ônibus novo.

Sempre preferi andar a pé a ter que esperar pelo transporte público. Além de passar longos períodos aguardando pelos ônibus, os abrigos de BH não possuem lá as estruturas mais confortáveis. Abordar o tema na reportagem me fez entender parte do porquê dessa situação, perceber os pontos de ônibus com um outro olhar e tentar buscar alternativas para o que hoje aparenta ser apenas (des)abrigo.

O céu escurecia. Trovões anunciavam a chegada da chuva. Um raio caiu próximo ao local onde estacionou o carro que me levou para fazer as entrevistas com usuários de ônibus. Eu me assustei, mas também percebi que poderia estar no lugar e na hora certos. Durante uma dessas entrevistas, o granizo invadiu a região. A agitação tomou conta, todos se escondiam das pedras de gelo. Vi, ainda mais, o quanto faz falta ter abrigos adequados para quem espera o ônibus.

Foi durante a pré-apuração para definir o foco de uma matéria sobre transporte coletivo que um dos usuários e personagens me chamou a atenção. Tanto já se falou sobre o preço das passagens, a falta de ônibus e a ineficiência do sistema como um todo, mas pouco se olha para a questão dos abrigos. O desafio diário de quem usa os coletivos começa desde a espera pelo ônibus, embaixo de um verdadeiro “Des(abrigo)”, como classificou o usuário. De onde menos esperávamos surgiu uma pauta e tanto.





Comecei a buscar um panorama dos pedestres belo-horizontinos esperando uma confluência muito grande nas respostas – eu as imaginei prosaicas ou, usando um adjetivo próprio porém pouco usado nesse sentido, pedestres. Encontrei relatos interessantíssimos, que mostraram que os problemas dos pedestres de uma cidade refletem os problemas gerais da macro-estrutura do espaço urbano em questão.

Inicialmente, parecia um desafio encontrar pessoas com diferentes perfis e que fazem da caminhada sua principal forma de deslocamento pela cidade. No entanto, logo na primeira entrevista, foram surgindo voluntários em meio àqueles que, por acaso, ouviam a minha conversa com a entrevistada. Muito me surpreendeu o interesse dessas pessoas em tornar conhecida a sua opção por serem pedestres no cenário de um grande centro urbano, bem como a sua convicção por essa escolha por caminhar.

Conheci a história de Meire quando produzia a reportagem Acessibilidade que engana: o reflexo da atual mobilidade urbana em BH. Ela me foi indicada por uma fonte como sendo dona de uma história de superação e conquistas, e com a ressalva “você não vai se arrepender”. De fato. Ao longo de dois meses eu pude acompanhar Meire de perto, em conversas constantes e encontros que culminaram nesta reportagem-perfil multimídia. Sua história me cativou e tentei traduzir isso em texto. Pessoalmente, reafirmei o valor que os sonhos têm para as pessoas, mas principalmente o quão saboroso e importante é persegui-los, seja qual for o obstáculo imposto.



Conversar e entrevistar pessoas que viajam por meio da boa vontade de outros indivíduos é um modo de retomar a fé e perceber que ainda pode existir solidariedade. E mais do que isso, é tomar consciência de que existem muitas experiências interessantíssimas que ainda poderemos vivenciar. Tive vontade de arrumar uma pequena mala e partir.

Arrisco-me a dizer que conhecer a Débora foi como uma das múltiplas viagens que ela me contou: não gastei nenhum centavo, conheci incríveis personagens reais e rodei por inúmeras rodovias desse continente, ainda que eu não tenha feito muito mais que sentar, ligar o computador e me deixar ouvir quem tem muito a dizer.

Ver como a realidade de rede está em função das caronas foi importante profissionalmente e pessoalmente. Como pessoa pude estar por dentro das possibilidades de pegar caronas e das medidas de segurança que devem ser tomadas. Como estudante de jornalismo pude aplicar a própria realidade de rede para produzir a versão final do trabalho.

Como universitário sempre está com o dinheiro contado, já peguei algumas caronas para visitar amigos de forma econômica. Nessas viagens, ouvi histórias interessantes ocorridas nos trajetos. Foi daí que imaginei que seria interessante reunir mais relatos. A cada história ouvida foi como se eu embarcasse numa nova viagem junto com o caroneiro.

O Waze é uma alternativa para os motoristas que querem fugir de congestionamento. No Brasil, esse aplicativo acabou virando o favorito para escapar das blitze da Lei Seca. Fui à procura de respostas sobre a “má conduta” do aplicativo, se ela era responsabilidade do criador ou de quem a usava. Conheço pessoas que já dirigiram bêbadas e amigos me indicaram outros amigos que haviam usado o Waze depois de beber. Foi difícil encontrar alguém que aceitasse conversar sobre o assunto. As pessoas têm vergonha. As duas fontes desta matéria também tinham, mas decidiram falar, segundo elas, “sem hipocrisia”.