A venda de balas é algo comum dentro dos ônibus de BH. Conversamos com alguns baleiros para entender melhor sua atividade.

 

É fácil para o cidadão perceber que o comércio de balas dentro dos ônibus faz parte do cenário da Avenida Antonio Carlos. No primeiro ponto da Avenida, após o viaduto do Lagoinha sentido Pampulha, a concentração dos vendedores é a maior. Eles chegam pela manhã e passam o dia indo e vindo vendendo suas mercadorias. Nesse mesmo local, do outro lado da via, existe um bar que serve muitas vezes de ponto de encontro, banheiro e restaurante desses baleiros, ainda que seja muito comum que alguns deles troquem as refeições principais por lanches rápidos. Muitos desses ambulantes também vendem de água, dentro e fora dos ônibus. Devido ao calor e a falta de outros comércios na região eles são a única forma que o passageiro tem para se refrescar no calor belo-horizontino. Segundo eles, “vende como água”.

Por volta das 17h quando o sol abaixa, e o movimento de ônibus é maior, a concentração de baleiros aumenta. De acordo com Alex, um dos baleiros que trabalha na região, a concorrência chega a ser de mais de 40 ambulantes. E enquanto alguns desses vendedores embarcam sentindo Pampulha, do outro lado da avenida, outros acabam de chegar. Já atravessam a Antônio Carlos, ansiosos, atentos a próxima oportunidade de venda. Devido a essa grande concorrência, às vezes acontecem confusões, como explica Alex:

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É fácil entender como funciona o comércio. Os baleiros pedem a autorização dos motoristas para entrar no ônibus pela porta traseira. Quando algum motorista deixa, eles entram, assumem uma postura e uma fala mais formal e fazem a propaganda de sua mercadoria. Eder, por exemplo, vende balas de goma, paçoca e outros doces:

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BHTrans, Legislação e Compreensão

 

Esse grande número de baleiros se explica por alguns fatores. A via é um dos principais corredores de ônibus da cidade, já que por ali circulam diversas linhas que dão acesso as regiões da Pampulha, Venda Nova e outras cidades da região norte da Grande BH. Além disso, os baleiros contam que a fiscalização é consideravelmente menor nessa região quando comparada ao centro da capital, reduzindo assim a chance de prejuízo, como conta Alex:

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De acordo com o art 70 do Regulamento do Transporte Coletivo da BHTrans, o comércio ambulante e a mendicância são proibidos no interior dos veículos. É de responsabilidade da empresa, proibir e fiscalizar a entrada dessas pessoas. Mesmo que essa seja uma atividade considerada ilegal, existe uma compreensão dos motoristas com relação à atividade, uma relação de camaradagem. Os vendedores imaginam que pelo reconhecimento do esforço ou de que é um trabalho honesto.

 

 BRT e a ameaça a atividade na região

 

Além da fiscalização, os baleiros da Antonio Carlos ainda têm que se preocupar com outra situação: A conclusão das obras do BRT. O sistema está sendo implantado nas avenidas Vilarinho, Pedro I, Cristiano Machado, Santos Dumont, Paraná e na Antonio Carlos. Sua implantação trará profundas mudanças nessas regiões. Com o BRT o lado de embarque será diferente, a passagem passará a ser cobrada nas estações e provavelmente outras mudanças acontecerão. Os baleiros ainda não sabem se, com a implantação completa, eles conseguirão continuar trabalhando ali.

Segundo os ambulantes dessa região, eles têm tentado negociar uma solução para esse problema junto à prefeitura, inclusive com pessoas e advogados mobilizados, ainda que sem sucesso até o momento. Todos desejam continuar seu trabalho ali ou em novas oportunidades de emprego, e afirmam que até aceitariam pagar as taxas necessárias a prefeitura ou às empresas desde que pudessem continuar trabalhando como baleiros.

Percebemos que não é preciso ficar mais que alguns minutos naquele ponto da Antônio Carlos em qualquer horário da tarde pra sentir os efeitos do sol e do calor que bate recorde todos os anos. O mais inquietante é que para nós era apenas um desconforto do momento, mas para as pessoas que trabalham todo o dia por longas horas naquele lugar é uma rotina.

Não é preciso parar mais que alguns minutos, naquele ponto da Antônio Carlos, pra sentir os efeitos desgastantes do sol e do calor. Nada comparado a enfrentar diariamente essa rotina. Mas todo o sol e todo o calor fazem parte do cenário de todas as histórias que aquele lugar conta. (Tayrane)

Para quem está acostumado a ficar nos pontos de ônibus da cidade apenas com o objetivo de aguardar a condução, ir a um desses espaços para observar o trabalho dos baleiros e conversar com eles foi uma experiência que me tirou do lugar-comum de usuário do transporte coletivo de BH. (Widler)

Cada ponto que se passa um vendedor diferente aparece. São tantos que é impossível reconhecer todos. O que a principio causa estranheza se explica com um olhar atento à avenida. Pouquíssimas lanchonetes, bares ou qualquer tipo de comércio. A única forma de comprar algum tipo de comida ou água é nas mãos desse pessoal. (Jayme)

Tayrane Corrêa

Estudante de jornalismo e compradora compulsiva de balas nos ônibus de BH

Widller Maciel

Pegou um bronzeado ao permanecer em um dos pontos de ônibus da Avenida Antônio Carlos durante um dos horários de maior incidência de raios solares.

Henrique Jayme Cunha

Estudante, repórter e comprador de balas de goma, chicletes e paçocas.