Em ano de Copa do Mundo, visitamos o clube de dois times, um no Barreiro e o outro em Venda Nova.
Duas regiões que mais parecem cidades dentro de Belo Horizonte. Venda Nova fica bem longe do Barreiro. Apesar da grande distância entre os dois lugares, encontramos muitas semelhanças entre os campos de várzea que visitamos: o do Manchester Futebol Clube, time de futebol amador cuja sede fica no bairro Rio Branco, em Venda Nova, e o da Associação Esportiva Milionários, localizado no bairro de mesmo nome do clube.
Ao chegar neles, chamam a atenção as similaridades. Os dois são equipados com alambrados; iluminação adquirida através do Programa Campos de Luz, iniciativa da Cemig; e vestiários. Nesses locais, procuramos conversar com alguém que fosse responsável pela sua gestão. Encontramos com Deraldo Costa, presidente do Manchester, e Norberto Afonso, também conhecido como Bolinha, que é diretor do Univila, time que divide o mando de campo com o Milionários.
No começo da conversa, percebem-se os motivos que fazem os dois lugares serem tão parecidos. Os campos são atualmente administrados por esses clubes, apesar de estarem teoricamente sob a responsabilidade da Prefeitura, proprietária dos terrenos. A manutenção desses espaços é realizada principalmente com recursos próprios dos times amadores. De acordo com Deraldo, a Prefeitura pouco investiu em melhorias das condições do campo do Manchester, sendo autora somente da colocação de azulejos na parte interna dos vestiários. A situação não é muito diferente no Milionários, onde a administração municipal foi responsável pela instalação de grande parte do alambrado. Segundo Bolinha, “a Prefeitura não chega aqui e fala ‘quanto que é um pacote de cal para você marcar o campo?’ A Prefeitura não te dá respaldo nenhum no futebol amador. Nada, nada. Você não tem transporte, você tem que pagar a taxa de luz, que é 180 reais por jogo”.
Para suprir alguns dos gastos com a conservação desses lugares, tanto o presidente do Manchester quanto o dirigente do Univila afirmam cobrar um “valor irrisório” para ceder os espaços. No caso do campo situado em Venda Nova, uma taxa de manutenção é recebida apenas de outros times que fazem uso de suas dependências. Conforme Deraldo Costa, se o campo estiver vazio, as crianças e adolescentes que moram nas proximidades do local podem utilizá-lo desde que “não depredem o patrimônio público”. Já no Barreiro, para usar o campo deve-se solicitar uma autorização prévia para algum dirigente do Univila, além de contribuir com uma ajuda de custo, que seria aplicada na limpeza dos vestiários.
Embora a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de BH já pareça considerar implementados os Conselhos Gestores Participativos nos dois lugares, a realidade comprova que ainda não estão totalmente em atividade. Enquanto no Milionários os representantes já foram selecionados e elegeram a sua mesa diretora recentemente, os conselheiros que administrarão o campo do Manchester ainda estão sendo indicados pelas entidades localizadas no bairro Rio Branco e pelo próprio Deraldo. Ouça quais são as expectativas do atual responsável pela gestão do campo do Manchester em relação a esse novo modelo de administração dos equipamentos esportivos da cidade:
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Baleião – a joia da coroa
Entre todos os campos de futebol sob administração da Prefeitura, o que recebeu maiores investimentos é o Baleião. Localizado na entrada do Aglomerado da Serra, em espaço cedido pelo Hospital da Baleia, esse complexo esportivo conta com arquibancada herdada das antigas cadeiras do Mineirão, que foram adquiridas após a reforma do estádio. Os camarotes são usados principalmente quando políticos comparecem a algum jogo comemorativo.
O campo costuma ser usado em jogos importantes da Copa Centenário, campeonato de futebol amador organizado pela Prefeitura, e pelo Torneio Corujão. Apesar da localização próxima a uma região cheia de jovens, o campo não pode ser utilizado pela comunidade local. Apenas uma quadra que faz parte do complexo esportivo é cedida para um projeto social com crianças, mas ela se encontra em péssimo estado.
No gramado, os jogos são realizados apenas em fins de semana e feriados, sob autorização prévia da Secretaria de Esporte e Lazer. Quando visitamos o local, trabalhavam dois porteiros, uma faxineira e o encarregado pela coordenação dos serviços. Foi esse último que conversou conosco.
Marcelo trabalha no Baleião desde 2011, e diz que não tem autonomia para tomar decisões. Por exemplo, se existe uma lâmpada quebrada, deve ligar para a Secretaria e solicitar permissão para comprar uma nova.
Com relação à limitação do uso do campo pela comunidade, Marcelo diz que acha uma pena e que não entende o porquê disso. No entanto, quando perguntado sobre o projeto de gestão participativa, mostrou-se muito insatisfeito com o fato de que integrantes do Aglomerado da Serra possam opinar sobre o uso do campo. Inclusive, falou que, a partir do momento em que ele for efetivamente implantado, vai pedir transferência. Isso porque o Conselho ainda está em processo de discussão com os seus possíveis integrantes.
Vice-versa no Concórdia
Enquanto o Baleião recebeu muitos investimentos do poder executivo municipal, o campo do Inconfidência Futebol Clube, localizado no bairro Concórdia, região Nordeste de BH, aparentemente se encontra numa situação inversa. Ao redor do terreno, observamos a presença de lixo acumulado. Além disso, segundo o presidente do Inconfidência, Alex Veiga, nesse equipamento esportivo, apenas o alambrado e a reforma de parte dos três vestiários foram integralmente custeados pela Prefeitura. As demais estruturas, como a cabine de imprensa, uma pequena arquibancada e um bar, onde também ficam os troféus do time e a sua sede administrativa, são resultado de investimentos dos dirigentes do clube e de doações.
O lote onde se encontra o campo pertence à Prefeitura, e foi concedido ao Inconfidência como forma de compensação pelo antigo terreno que o time possuía, onde atualmente está a Arena Independência. De acordo com o presidente, essa concessão não possui prazo de término, e a gestão do local compete ao clube. A Secretaria de Esporte e Lazer chegou a propor a gestão participativa, mas Alex assegura que o Inconfidência não vai permitir a criação do Conselho. Segundo ele, alguns representantes se aproveitariam da situação para participar da administração de um campo que está sob responsabilidade desse time há mais de 60 anos.
Conforme o presidente do Inconfidência, os moradores das comunidades próximas ao campo têm acesso a ele sob autorização gratuita de qualquer dirigente do clube. Além disso, existe um projeto do time, uma escolinha de futebol que visa evitar o contato dos jovens com o universo da criminalidade. Já as equipes amadoras que queiram utilizar o espaço devem pagar uma taxa de manutenção, usada no pagamento das contas de água e luz e na limpeza do lugar.
O grande sonho de Alex em relação ao campo do Inconfidência é a colocação de um gramado sintético. Segundo ele, a terra causa problemas respiratórios aos seus vizinhos por conta da poeira. Uma outra alternativa seria a grama natural, mas ele acredita que esse tipo de cobertura não permite o seu uso intenso sem o devido descanso. Enquanto a comunidade do Concórdia aguarda um desfecho satisfatório para a situação do seu equipamento esportivo, Alex escuta políticos garantindo que o espaço receberá grama sintética, mas nenhuma dessas promessas foram cumpridas até agora.
Santa Cruz no ataque
O complexo esportivo do Santa Cruz é bem amplo. Possui quadra, alojamento, bar, tribuna de imprensa, sala de troféus e secretaria. Se comparado a outros campos visitados, o estado de conservação dessas instalações é bom.
Segundo Claudinho, presidente do Santa Cruz, a área é da Prefeitura, mas o espaço é gerido pelo clube por meio de uma concessão. As decisões administrativas são tomadas pelo presidente junto a outros sete vice-presidentes.
De acordo com o dirigente, o time possui um projeto social que atende a 200 crianças e adolescentes, que treinam no clube sem pagar nenhuma taxa. Quando há viagens para outras cidades e estados, o custo do deslocamento e hospedagem é dividido entre os que fazem a excursão.
Os recursos para a manutenção do espaço, realização de atividades e pagamento de funcionários provêm de parcerias com instituições privadas, pessoas físicas e de contribuições dos vice-presidentes. Com a Lei 10.653∕2013, que permite a colocação de placas publicitárias nos campos de várzea, o clube adquiriu três anunciantes, que fornecem material esportivo para o Santa Cruz. Além disso, empresários também são uma das fontes de renda. Em troca de dinheiro, eles têm o direito de fazer contrato com os jogadores que se destacam nas categorias de base. O presidente disse que está em negociação com o Banco BMG, que investiria recursos na equipe, e em contrapartida teria a prioridade em obter o passe de jogadores.
Embora o espaço seja da Prefeitura, Claudinho afirma que ela não contribui com a conservação do local. Relatou que já encaminhou diversos ofícios solicitando a limpeza do lugar, mas que só obteve resposta uma vez e mesmo assim não foi atendido.
Ao ser questionado a respeito dos Conselhos Gestores Participativos, Claudinho disse que conhece a proposta, mas que não foi procurado pela Secretaria de Esporte e Lazer. Para ele, “esse projeto deve ser aplicado apenas nos locais em que a administração não está funcionando, do contrário é desnecessário”. E mesmo assim se mostra cético. Segundo ele, o Baleião “está mal assistido”, e se nem um campo que é gerido diretamente pela Prefeitura tem dado certo, imagina com um Conselho.
É curiosa a localização de muitos campos de várzea. Apesar de existirem vários deles, às vezes temos que perguntar para as pessoas onde eles ficam exatamente, porque grande parte deles ficam escondidos e, muitas vezes espremidos entre prédios, ruas e casas. (Pedro)
Apesar de ter nascido em Belo Horizonte e morar nesta cidade desde então, produzir uma matéria sobre os campos de várzea do município me fez visitar lugares que nunca antes havia estado, além de me motivar a lançar um outro olhar para os espaços que já conhecia. (Widller)
O Campo Inconfidência do bairro Concórdia, recebeu emenda parlamentar do então Deputado Federal Luis Tibé para realizar a obra da grama sintética, mas o safado do Kaliu não realizou a obra, todo mundo sabe que o dinheiro esta na conta da prefeitura, e o prefeito não fez a obra por não quis.