Visitamos o município de Pedro Leopoldo para saber o que significa ser espírita na terra natal de Chico Xavier.
Quando um grande nome surge em uma pequena cidade, ela logo fica marcada. Basta pensar no município de Cordisburgo, e Guimarães Rosa provavelmente virá à mente. Três Corações e Pelé. Itabira e Drummond. Os exemplos são muitos, e Pedro Leopoldo é mais um deles.
O município mineiro, que fica a cerca de 46 quilômetros da capital, leva em seu nome uma homenagem a Dr. Pedro Leopoldo, engenheiro responsável pela construção da estação ferroviária que cruza as terras da cidade. Mas outro nome está também enraizado na história do lugar: Chico Xavier. O médium e filantropo pedroleopoldense é tido como o maior expoente do Espiritismo no Brasil, tendo sido nomeado ao Prêmio Nobel da Paz em 1981. Para a doutrina espírita, médium é aquele capaz de estabelecer contato com os espíritos.
Não é estranho que a cidade que viu nascer o considerado maior brasileiro de todos os tempos carregue consigo marcas de sua estadia. Quem desce na rodoviária de Pedro Leopoldo caminha poucos metros até chegar à Praça Chico Xavier, também conhecida como a Praça da Prefeitura. Em um canto, a Banca do Livro Espírita oferece assinatura do Clube do Livro – para cada mensalidade de 15 reais, o assinante recebe um livro sobre a doutrina espírita.
Lá estão ainda duas estátuas que homenageiam Chico. Do meio da praça, o busto do médium vigia o centro da cidade. Alguns passos depois, à moda Drummond de Copacabana, é possível também sentar-se ao lado de uma grande escultura de bronze feita por Vânia Braga, artista pedroleopoldense.
Teto de quem crê
Entre os moradores mais antigos de Pedro Leopoldo, corre a história de que a cidade foi tomada por garças no dia 2 de abril de 1910. Elas teriam vindo anunciar o nascimento de Francisco Cândido Xavier, que se deu na mesma data.
Durante os 48 anos em que esteve em Pedro Leopoldo, o médium morou em várias casas. A última delas é hoje a Casa de Chico Xavier, onde ele residiu por quase uma década. Ela faz parte do roteiro Caminhos de Luz, criado pela Fundação Chico Xavier a fim de preservar a memória de Chico, elencando locais que fazem referência a ele em sua terra natal.
A Casa foi idealizada e é mantida por um amigo da família Xavier, Geraldo Lemos Neto. O empresário reformou o imóvel com o objetivo de fazer do local um ponto de encontro e visita para aqueles que admiram e procuram a história do médium pedroleopoldense.
Os visitantes que entram pela porta da frente logo se deparam com um painel de fotografias de diversas épocas da vida de Chico. Em meio a elas, alguns manuscritos de poemas como “Avante!” e “O mar” chamam os olhos. A música ambiente é de cadência calma, de cordas e soprosa. No ar, essência de flor.
Do imóvel original, permanecem o banheiro e a mobília do quarto onde Chico dormia. Em cima da cama, ficam dispostos alguns dos objetos pessoais do médium, como um par de sapatos, um par de óculos, uma coberta e um travesseiro, sob o qual fiéis depositam pedaços de papel com nomes e pedidos.
“Esta casa é um ponto seguro para os espíritas, não só de Pedro Leopoldo, mas de todas as partes do Brasil”, diz Hélcio Marques, funcionário da Casa. É ele quem organiza as atividades e recepciona os que aparecem à porta. Para entrar basta querer. Assim tem sido desde os tempos em que Chico lá morava. “O quintal desta casa tinha três cômodos. As pessoas vinham e Chico as trazia para dormir aqui. Pedro Leopoldo não tinha infraestrutura suficiente para receber tanta gente”, conta Hélcio.
A Casa de Chico Xavier recebe diariamente cerca de cem pessoas. Aos finais de semana, a movimentação aumenta. Além dos próprios pedroleopoldenses e dos habitantes de cidades vizinhas, o local é visitado por espíritas das mais distintas regiões do país. De acordo com o funcionário, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul estão entre os estados que lá aparecem com mais frequência.
Chico residiu na cidade em que nasceu durante a maior parte de sua vida. A ida para Uberaba, em 1959, foi um episódio bastante conturbado para o médium. Versões discorrem sobre atritos familiares, questionamentos acerca de sua mediunidade e crises de labirintite causadas pelo clima frio de Pedro Leopoldo.
Com a saída de Chico, o intenso deslocamento à procura do médium ganhava outro destino. Uberaba é hoje muito famosa por ter sido a cidade onde Chico viveu a segunda metade de sua vida. Ele, porém, nunca abandonou a terra em que primeiro pisou. É o que garante Hélcio: “Chico sempre estava conosco, mesmo depois de ter ido embora, todo mês era sagrado estar dois ou três dias aqui. Ele chamava Pedro Leopoldo de mãe e Uberaba de tia querida”.
Em 2002, Chico desencarnou em Uberaba. Para os espíritas, isso significa que o médium, aos 92 anos, deixou o corpo material e retornou ao plano espiritual.
Os conterrâneos
Segundo o Censo 2010, cerca de 3,9% da população pedroleopoldense se diz espírita. A porcentagem é inferior aos 15,5% de Uberaba. Porém, acredita-se em uma subnotificação em ambos os resultados, devido ao trânsito entre a doutrina espírita e outras crenças.
Ser espírita e morar em Pedro Leopoldo é uma combinação especial para muitas pessoas. Veja o que dizem alguns conterrâneos de Chico sobre isso: