“Jacaré tá na lagoa, com preguiça de nadar”. Não se sabe exatamente como chegaram ali mas vieram para ficar e não ameaçam a sociedade
por Luana Lira e Mariana de Brito
Os jacarés da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, são figuras que despertam o interesse de turistas, biólogos e curiosos. Após serem referenciados como “gordos e tranquilos”, na reportagem de 2013 do Estado de Minas, os répteis ganharam atenção especial entre a fauna local. De onde vieram? Há quanto tempo estão ali? Representam perigo?
Os jacarés estão ali há algumas décadas, mas só começaram a ser realmente monitorados pela prefeitura de Belo Horizonte em 2017. A PBH inclusive informou que não se sabe como os animais chegaram ali, já que a lagoa é artificial e eles não estavam lá antes de sua construção. Porém esse mistério fez com que o imaginário popular criasse diversas teorias que vão desde o primeiro jacaré ter sido um fugitivo do Zoológico da Pampulha (que fica na orla da Lagoa) até ele, na realidade, ser um filhote comprado ilegalmente que acabou sendo abandonado.
A espécie dos jacarés encontrados na Pampulha é a Caiman latirostris, comumente conhecida como jacaré-de-papo-amarelo, e, segundo o IBAMA, está em processo de extinção. A principal causa seria a destruição massiva do seu habitat natural e a poluição dos rios. Eles costumam habitar margens de rios, brejos, lagoas e riachos em todo o Brasil, mas predominam no Sul, Sudeste e Nordeste.
Na lagoa belorizontina, esses animais ficam espalhados em toda a margem, mas preferem locais mais tranquilos e menos poluídos. Além disso, costumam aparecer mais à noite, por serem animais com hábitos noturnos. Em 2022, nos registros mais recentes, foram contabilizados 20 jacarés adultos e 11 filhotes.
Ainda que sejam uma população tão pequena, esses jacarés já são amplamente conhecidos e muitos os consideram um ponto turístico à parte na Lagoa da Pampulha, com suas aparições sendo comentadas e divulgadas nas redes sociais. Essa fama, porém, não faz com que eles sejam considerados relevantes para as autoridades locais, isso pode ser confirmado pelo fato de existirem poucos estudos que visam entender sua origem e também pelo dado da própria Secretaria do Meio Ambiente apenas ter começado a monitorá-los em 2017, ainda que existam relatos dos jacarés terem sido avistados desde a década de 1970 na lagoa.
Mas, afinal, devemos ter medo?
Segundo a PBH, os jacarés da Pampulha não oferecem periculosidade aos humanos, pois não promovem ataques voluntários quando não são tocados. Embora não seja frequente, há casos de deslocamento de jacarés para as áreas urbanas em período de chuvas, uma vez que a extensão no fluxo de água atende às demandas naturais dos animais semiaquáticos. Em caso de identificação de jacarés em espaços urbanos, a Prefeitura recomenda que as pessoas não tentem conter ou manusear estes animais, e que seja imediatamente acionado o Corpo de Bombeiros.
Além disso, os jacarés já se tornaram parte da fauna local da lagoa, sendo parte da cadeia alimentar. Dessa forma, por não apresentarem perigo aos humanos e nem ao ecossistema da Lagoa da Pampulha, não há motivo para que eles sejam retirados. Essa atitude, inclusive, poderia resultar num desequilíbrio.
Entretanto, caso a lagoa continue sendo explorada como depósito de lixo e esgoto pelos bairros da região, o que só aumenta a poluição da água, os jacarés e todos os outros animais que ali vivem podem acabar se intoxicando e morrendo, gerando o mesmo desequilíbrio supracitado.
Portanto, para manter os jacarés “gordos e tranquilos” é necessário encontrar formas de cuidar desses bichinhos por meio de atitudes sustentáveis, cobrando da Prefeitura de Belo Horizonte ações que façam da Lagoa da Pampulha um habitat seguro para eles e para os outros animais que ali vivem.