Fã também é perfilada? As relações entre uma tiete e sua banda pop britânica favorita
Por Pedro Oliveira
Imagine poder acompanhar a passagem da sua banda favorita, na primeira vez que ela vem ao Brasil, em um festival idealizado para amplificar o trabalho de mulheres e suas mensagens, suas visões de mundo e suas vozes, e ser impedida pelos boatos de uma pandemia global. Imagine aí, que já voltamos nesse ponto.
Nascido no palco do The X Factor em 2011, a “girl band” Little Mix rapidamente se tornou um ícone da música pop, conquistando fãs ao redor do mundo com sua energia contagiante e hits memoráveis. Composto por Jesy Nelson, Jade Thirlwall, Leigh-Anne Pinnock e Perrie Edwards, o grupo feminino revolucionou a indústria musical, sendo o primeiro e único a vencer o reality show e a se manter no topo das paradas por anos consecutivos.
Em 2013, Larissa Thamara no auge dos seus 11 anos, estava “zapeando”, expressão dela, a MixTV, canal dedicado a músicas e videoclipes ,que na época passava no canal 16 da televisão aberta, e assistiu a How Ya Doin’? (feat. Missy Elliott).
“eu me apaixonei, eu vi aquela estética colorida, aquela música, eu fiquei encantada, encantada!”, Larissa relembra as sensações ao ver o videoclipe.
A música em questão é um marco na discografia da banda Little Mix, a faixa transcende o gênero, misturando elementos de R&B e hip-hop. Com uma sonoridade pop vibrante, a canção conta com a participação da lendária Missy Elliott, rapper, cantora, compositora e produtora musical norte-americana, reconhecida por sua inovação e influência na indústria musical. A letra inteligente, que utiliza a metáfora de uma ligação não atendida para simbolizar o fim de um relacionamento, é um dos pontos altos.. “How Ya Doin’?” não é apenas uma música, mas um manifesto de autoconfiança e independência, que ecoa em muitas mulheres que buscam se libertar de relacionamentos tóxicos.
“Conheci elas em 2013 e fiquei apaixonada! Por mais incrível que pareça, nunca tive um fã clube próprio, mas seguia absolutamente todos os que existiam. Era completamente alucinada, apaixonada: votava em todas as enquetes que encontrava na internet até o dedo doer, defendia a banda em qualquer discussão online com muito afinco. Era obcecada! Minha mãe, inclusive, me deu o CD físico do segundo álbum delas na época – é a única coisa física que tenho delas. Todo mundo em casa sabia da minha paixão”, destaca.
Por falar em casa e família, Larissa é a primeira de muitos títulos nas suas relações parentais. Nascida em um dia simbólico, 31 de outubro de 2001, – halloween nos Estados Unidos, dia do Saci aqui no Brasil – ela foi a primeira e única filha de sua mãe. A primeira neta dos seus avós maternos, que são a base de sua família. A primeira sobrinha dos seus tios e tias. A primeira bisneta. A primeira em uma Universidade Federal.
Larissa quase fez Publicidade e Propaganda, mas a nota de corte a levou para o curso que escreveu nas costas de sua blusa no terceiro ano do ensino médio. Atualmente, ela está no nono período de jornalismo na UFMG e é produtora na Globo Minas. Atuou nos noticiários MG1, MG2, Bom Dia Minas, Terra de Minas e outros produtos especiais da emissora.
Larissa Thamara entrou na graduação em 2020, e essa é a data para a imaginação inicial deste texto. Nesse mesmo ano, a banda pop britânica, favorita da jovem, anunciou que faria parte do Festival GRLS! que aconteceu nos dias 7 e 8 de março no Memorial da América Latina, em São Paulo.
“Houve apenas duas edições do evento, e a primeira ocorreu naquele ano. O show aconteceu no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Quando o show foi anunciado, fiquei muito empolgada e queria muito ir”, conta. “Na época, em 2020, eu tinha acabado de fazer 18 anos e a ideia de ir para São Paulo sozinha me assustava um pouco, afinal, é uma cidade grande. Pesquisei passagens aéreas e encontrei uma opção bem barata, além de um hotel próximo ao local do evento”.
“Eram quatro integrantes, mas uma delas não veio, então o show foi com três. Mesmo assim, foi um sucesso e elas deram muitas entrevistas”, lembra Larissa.
Contudo, não só de conquista se vive uma mulher. A progenitora de Larissa não autorizou ela a ir sozinha para São Paulo, primeiro pela idade da filha e a dimensão paulista, segundo pelos boatos de uma pandemia que estava batendo à porta. “Fiquei muito chateada por não poder ir e, por causa disso, não acompanhei muito a passagem do grupo pelo Brasil. Apesar do sucesso do show, criei um certo bloqueio e fiquei com raiva por não ter podido ir”.
Aquela acabou sendo a primeira e única vez que elas vieram para o Brasil, mesmo com uma integrante a menos. Larissa conta – “fiquei muito triste com o hiato do grupo, pois sempre achei que elas fariam mais sucesso juntas. Uma das integrantes deixou o grupo um ano antes do hiato, e houve algumas controvérsias envolvendo acusações de racismo contra ela. Por causa disso, muitos fãs a ‘cancelaram’. As outras três integrantes estão lançando trabalhos solo”.
Ao longo dos anos, as prioridades da entrevistada mudaram, e ela acompanha menos a carreira solo das ex-integrantes. Ela sente falta do grupo e considera improvável uma reunião imediata, mas acredita que uma turnê comemorativa seria uma ótima ideia. “Se elas decidirem voltar, com certeza irei a qualquer lugar do mundo para vê-las”, garante a estudante.
Para além desse “causo” todo, e todas as frustrações, eu Pedro Oliveira, conheci Larissa Thamara em 2020 – sim no mesmo ano da decepção que relatei acima. Não tive muitas interações com ela, principalmente por conta da pandemia, e 15 dias foram suficientes para nossa turma criar afetos, e mesmo online as “panelinhas” se estabelecerem. Só fui conversar honestamente com ela na produção desse perfil. Descobri que ela tem um álbum para cada situação possível (eu sempre me achei sagaz por ter uma playlist), ela gosta de livros de romance, sua vilã favorita é a Cruella, porque ela comete crimes passionais pela moda, sua série favorita – eu ainda não vi – é Modern Family.
Temos muito em comum. Gostamos de B99, eu concordo com sua afirmativa que o Spotify é confuso, e ambos deixamos a sanidade mental na pandemia. Sei que vamos trocar muitas figurinhas, já que assessorar o transporte público de maior celeuma de Belo Horizonte me coloca em contato com vários pares da minha turma inicial da graduação. Todavia, mais do que isso, há uma grande chance de nos encontrarmos em um show de Little Mix… porque agora até eu quero vê-las!
* Reportagem produzida na disciplina “Laboratório de Produção de Reportagem”, sob supervisão de Elton Antunes