O Programa de Esporte Paralímpico de Alto Rendimento é referência na formação de paratletas e estará representado nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024.

Por Matheus Ribeiro Christensen

O projeto Esporte Paralímpico de Alto Rendimento do Centro de Treinamento Esportivo (CTE) da UFMG iniciou no final de 2018, visando a formação de recursos humanos e pesquisas específicas para a população de pessoas com deficiência (PCDs).

Com mais de 180 pessoas beneficiadas pela estrutura e atendimento do projeto, o CTE é um ponto de referência no universo do paradesporto, servindo de sede para os Meetings Paralímpicos JEMG paraolímpico.

Diversos profissionais das áreas de Educação Física, Fisioterapia, Medicina, Psicologia, Terapia Ocupacional e Nutrição se especializaram e realizaram pesquisas que hoje encorpam o acervo de conhecimento acerca do esporte paralímpico. Para além da área da pesquisa e conhecimento, o programa vem mostrando muita força e relevância na formação e treinamento de atletas, mandando equipes para os principais torneios paralímpicos mundiais, inclusive para as Paralimpíadas.

Jogos Paralímpicos

As Paralimpíadas são o maior evento poliesportivo do mundo para atletas que possuem algum grau de deficiência física ou intelectual. Sua primeira edição ocorreu em 1960, em Roma e, desde então são realizadas a cada 4 anos, na mesma cidade que sedia as Olimpíadas e tendo início logo após o encerramento dos Jogos Olímpicos. 

No mesmo espírito das Olimpíadas, as Paralimpíadas visam promover a paz, união e integração entre os países.  Elas se destacam pela inclusão e representatividade para um grupo que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), representa mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, ou seja, 16% da população mundial. 

Estreando apenas em 1972, em Heidelberg, na Alemanha Ocidental, o Brasil só foi conquistar sua primeira medalha 4 anos depois, nos Jogos de Toronto 1976, pela dupla Robson Sampaio de Almeida e Luiz Carlos da Costa, que conquistou a prata em bocha na grama. Desde então, o país subiu ao pódio em quase todas as edições, com exceção de  1980. 

Em 2021, nos Jogos de Tóquio, o Brasil conseguiu seu maior número de medalhas, foram 72 no total, se igualando às Paralimpíadas do Rio 2016. O Brasil alcançou, nesta época, 22 medalhas de ouro, superando o recorde anterior de 21 medalhas em Londres 2012. Vale ressaltar ainda que, em Londres, o Brasil havia conquistado sua melhor colocação geral, 7º lugar, mesma posição que conquistou no Japão. Para esta edição, que começa dia 28 de agosto e vai até 08 de setembro, o Comitê Paralímpico Brasileiro espera um desfecho ainda melhor do que foi em Tóquio.

Histórico de resultados do Brasil em Jogos Paralímpicos / CPB

Figurinha carimbada no Top 10 do quadro geral, a Delegação e o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), chegam para Paris com a expectativa de, novamente, se superarem e conquistarem um resultado ainda mais alto. “Ninguém trabalha para pegar o segundo lugar”, é o que diz Ana Carolina Moura, atleta do CTE de Parataekwondo até 65kg que vai para a disputa de Paris 2024.

Com 28 anos, esta será a primeira Paralimpíadas de Carol, que começou no esporte em 2017 após ser assaltada no caminho para o trabalho. A raiva e frustração a levou a procurar uma arte marcial a fim de aprender sobre defesa pessoal, mas ela nem cogitava entrar no esporte competitivo. Sua trajetória também não começou com o pé direito, pois ela se lesionou logo em uma de suas primeiras aulas e ficou 1 ano longe dos tatames. Porém, sua força de vontade e a paixão que tomou pela modalidade fez com que voltasse com tudo em 2018 e em 2019 já estava participando do cenário competitivo do Parataekwondo. 

Carol é a atual campeã brasileira e panamericana e chega com altas expectativas para Paris.

Sua rotina de preparação para os jogos é intensa, com o auxílio de Amanda, sua preparadora física, Carol utiliza a estrutura do CTE diariamente. De segunda, quarta e sexta ela faz um treino específico de força, depois um treino tático de taekwondo com a equipe paralímpica e depois com a olímpica. As terças e quintas começam com treino físico e específico no tatame, voltados para os movimentos do taekwondo. E no final do dia mais treino de força.

“Ser acompanhada por diversos profissionais, além de me oferecerem estrutura, sala de força e etc, eles me oferecem uma estrutura de pessoal, de conhecimento mesmo, como a fisioterapia, fisiologia, preparação física, nutrição, psicologia, então todos esses profissionais e organização toda do CTE é bem legal”, diz a atleta.

Atleta Ana Carolina Moura nos Jogos Parapan-americanos de Santiago 2023 / Site: Ação Paratleta

O projeto do esporte paralímpico opera ao redor de 4 modalidades esportivas: Atletismo, Taekwondo, Natação e Halterofilismo, tendo integrantes da seleção brasileira e topo de rankings mundiais em todas essas modalidades, contando com mais de 20 atletas em nível de alto rendimento.

O CTE UFMG virou referência no quesito acolhimento e direcionamento esportivo para pessoas com deficiência. “O CTE me ajuda, além da questão do esporte, na questão mental, me mantém feliz, alegre e positivo” é o que relata Thaylon Willian da Cunha Araújo, atleta de 17 anos do halterofilismo paralímpico. 

Thaylon iniciou no Projeto Paralímpico em 2021 na natação, após seu pai conhecer sobre o projeto em um anúncio na internet. Porém, em pouco tempo o atleta belo-horizontino trocou a piscina pelo levantamento de peso e tomou gosto pela coisa. Detentor do atual recorde mundial de sua categoria, Thaylon participou dos jogos Parapan-americanos de Jovens de 2023 em Bogotá, Colômbia. “Foi uma ótima experiência, espero seguir treinando e poder no futuro participar de várias Paralimpíadas”, conta.

Thaylon Willian da Cunha Araújo. Reprodução, Instagram

 Outro caso de um atleta promissor que já é mais do que uma realidade no esporte é de Arthur Xavier, nadador que, assim como Carol, participará de seus primeiros Jogos Paralímpicos em Paris 2024. No entanto,diferente de Carol e Thaylon, o esporte já está na sua vida desde muito cedo. Aos 4 anos, Arthur já começou a dar suas primeiras braçadas numa academia perto de sua casa. Seu talento era tanto, que aos 12 já era federado ao clube Mackenzie e participava constantemente de competições, faturando campeonatos mineiros e regionais. 

Foi apenas no ano passado que sua carreira encontrou o paradesporto.“Eu já reparava que tinha algo de diferente, aí tem um teste que você tem que fazer, por que meu treinador na época falou que eu podia ser um S14, aí eu fui lá fazer o teste, era um teste de qi, e passei”. A classe S14 nos esportes paralímpicos representam os nadadores que possuem transtorno de desenvolvimento intelectual. Após o diagnóstico, Arthur passou a ser treinado por Christopherson Dias Nascimento, o Chris. No momento o atleta conta que sua atenção está totalmente voltada as Paralimpíadas: “Tô focando bastante no “Costas” que é uma prova importante que eu vou nadar lá, treinando os fundamentos para chegar lá sem errar, focar nos detalhes pra chegar e fazer meu máximo e sem trazer arrependimento.”

Arthur Xavier na conquista do Meeting Paralímpico. (Foto: Cris Mattos/CPB)

O sentimento geral dentro do CTE é de foco, gratidão e parceria de toda a equipe, como diz Carol: “minhas inspirações são as pessoas com que convivo, principalmente dentro de CTE, acho que temos as maiores inspirações ali dentro: Izabela que está indo para o seu quarto ciclo paralímpico, Agatha, Jean, Cris, Arthur Xavier, vários outros também que na convivência se inspira, não consigo falar de um ídolo, uma inspiração distante, eu consigo falar de uma inspiração próxima que estão ali comigo todos os dias, dando seu 100% e fazendo aquilo que foi proposto para elas fazerem, e é isso que eu acredito.”


* Reportagem produzida na disciplina Laboratório de Produção de Reportagem sob supervisão da professora Dayane do Carmo Barretos