Percorremos algumas passarelas de BH para descobrir o que vendem as barraquinhas espalhadas por elas.
Livros, vinis, DVD’s, perfume Floratta, d’O Boticário, camisetas Hollister, guarda-chuvas, brincos, colares, cigarros, brinquedos como trenzinhos, patinhos e sopradores de bolhas, fones de ouvido, jabuticaba, pipocas Aritana e todo tipo de balas e guloseimas. Quem caminha por Belo Horizonte em algum momento passa ou já se deparou com uma passarela, e quem anda por ela está sujeito a ver todo tipo de coisa.
A maioria dos perfumes, por exemplo, é embalada em bandejas de isopor e plástico-filme, como alimentos em supermercado. Além disso, o comércio nas passarelas acompanha as estações do ano, e alguns produtos fazem sucesso em determinadas épocas. Guarda-chuvas e sombrinhas reinam nos períodos de chuva. Até panã, fruta típica do cerrado, pode ser encontrada.
Nas passarelas mais movimentadas, a paisagem sonora é dominada pelo barulho do trânsito e pelos gritos de vendedores anunciando produtos. Já em outros pontos da cidade, as passarelas não apresentam essa agitação, são calmas e tranquilas, pouco ou quase nada utilizadas.
Para entendê-las melhor e ver como se dá o comércio nas suas proximidades, os repórteres da Transite – movimento em revista visitaram passarelas na Estação Lagoinha, na Estação São Gabriel, no Minas Shopping, no Shopping Del Rey.
A mais movimentada
A passarela da Estação Lagoinha é a mais movimentada da cidade. Liga a rodoviária e o centro ao bairro Lagoinha e à estação de metrô. Lá, é comum encontrar vendedores ambulantes com todo tipo de produto, às vezes até com a mesma mercadoria e separados por alguns metros. A passarela conta com duas bancas de jornal estrategicamente localizadas, uma em cada saída. A que fica próxima à saída do centro, inclusive, se destaca por reunir uma enorme coleção de livros e revistas tão antigos quanto a passarela, um verdadeiro sebo à céu aberto.
Adaptações
O local que cerca a passarela da Estação São Gabriel passou por mudanças. Alguns ônibus, as linhas alimentadoras do BRT, foram deslocados para uma nova estação e agora não é permitido vender nenhum tipo de produto ali. Assim, alguns vendedores foram para a passarela que liga a estação ao bairro Primeiro de Maio ou em algum lugar perto para aproveitar o fluxo de pessoas.
Poliana conhecia bem o movimento da antiga estação e sofreu com as mudanças. Ela chega para trabalhar por volta das 9h30 e sai entre 22h e 23h. No seu carrinho, encontramos balas, pelinhas e biscoitos. Ela vai e volta com ele todos os dias e leva aproximadamente 30 minutos em cada um desses deslocamentos. Às vezes, reveza com o marido no trabalho, pois possuem um filho: ele pega para trabalhar às 19h para ela ficar com a criança. Mas Poliana volta para buscar o carrinho, já que Gledson, o marido, é cadeirante.
Onde os Wilsons trabalham
Próximo ao Minas Shopping e abaixo da passarela que liga o centro comercial a outras partes da avenida Cristiano Machado, está Wilson. Ele começou a trabalhar com 9 anos de idade e, 14 anos depois, está no mesmo local. Trabalhando das 10h às 21h, ele conta com a ajuda do pai, de quem herdou o nome, em parte do dia. Eles não enfrentam, atualmente, problemas com a fiscalização, porque Wilson pai conseguiu, há aproximadamente 17 anos, uma licença da prefeitura para vender seus produtos.
De acordo com ele, há uns dois anos a prefeitura começou a cassar alguns alvarás e a proibir a existência de qualquer tipo de camelô e vendedores ambulantes de um modo geral. Foi um período complicado, mas ele e o pai conseguiram manter sua licença. Eles têm clientes fiéis, que no geral compram os mesmos produtos: balas ou saquinhos de pipoca. Todo dia, repõem a mercadoria e dizem que isso é fundamental, uma estratégia para atrair clientes, pois o carrinho fica mais chamativo quando cheio. Faça chuva ou faça sol, lá está um Wilson.
Paraíba em BH
Outra passarela bastante conhecida na capital é a que se localiza em frente ao Shopping Del Rey e liga os dois lados da Avenida Presidente Carlos Luz. Abaixo de uma das entradas da passarela, José Severiano, mais conhecido como Seu Paraíba, monta o seu carrinho de guloseimas há mais de 13 anos. Entre as mercadorias, há balas, pipocas, chips, pirulitos, chicletes e chocolates. A opção por se tornar ambulante veio em 2001, quando seu Paraíba ficou desempregado e teve dificuldades para arrumar outro emprego, já com quase 50 anos.
Segundo o ambulante, há alguns anos a fiscalização era mais intensa e os fiscais, quando vinham, tomavam todo o carrinho dele. No entanto, atualmente, “eles aparecem de vez em quando e fica mais fácil resolver a situação”. Seu Paraíba está na passarela todos os dias da semana até às 17 horas, mas conta que o melhor horário para vender é na parte da manhã, das 6h às 12h.
Ainda na passarela do Shopping Del Rey, há um outro tipo de comércio: o carro de lanches da Simone Ferreira, com cachorro quente, salgados, café e balas. Ela está na região há três anos e, ao contrário do Seu Paraíba, possui licença para funcionar. Nos anos em que está lá, pelo que ela se lembra, a fiscalização só apareceu duas vezes. Mas, como está em dia com todos os documentos, nunca teve nenhum problema.
O maior público do carrinho da Simone são os empregados das grandes empresas que se localizam no anel rodoviário, como a fábrica da Coca-Cola, e o melhor horário para vender é das 5h às 10h da manhã.
Os alvarás concedidos pela Prefeitura
A prefeitura exige um alvará para qualquer pessoa que queira vender algo nas ruas da cidade, mas não são todos que conseguem. Existe uma legislação complicada e muito restritiva a ser cumprida. Além de existir regras gerais para comércio, não são todos os tipos de mercadorias que podem, pela lei, ser vendidas nas ruas. Já as que podem contam com especificações próprias de higiene, forma de exposição e até mesmo o tipo de carrinho que poder ser utilizado. Muitos vendedores agem conforme a lei, mas a grande maioria não possui o alvará.
Esses, normalmente, não se sentem confortáveis para conversar sobre o seu trabalho, ficam desconfiados, com medo de que as informações fornecidas possam atrapalhar o negócio. É visível a normalidade com que a fiscalização é vista pelos ambulantes – alguns sabem até detalhes sobre o trabalho dos fiscais. Disseram, por exemplo, que são dois fiscais por regional e que se eles passam por uma passarela significa que vão demorar a passar por lá novamente. Para não terem suas mercadorias apreendidas, o jeito é um só: correr.