Com 95 anos de história, o Mercado Central evidencia a identidade e a gastronomia belo-horizontina

Por Ana Luiza Almeida

Fachada do Mercado Central/Foto: Ana Luiza Almeida 

Café, queijos, temperos e uma variedade de sabores compõem a diversidade gastronômica do Mercado Central. Com 95 anos de história, o Mercado é um dos espaços turísticos que há anos marca a cultura de Belo Horizonte.  

Em 12 de dezembro de 2024, a cidade completou 127 anos, mas quando o Mercado foi criado a grande metrópole possuía apenas 31 anos. E na união das feiras da Praça da Estação e da feira da atual rodoviária, surgiu o que conhecemos hoje como Mercado Central de Belo Horizonte, inaugurado em 7 de setembro de 1929. 

O terreno, que agora dá lugar a  um dos pontos turísticos mais frequentados de Belo Horizonte, já abrigou o antigo campo do América Futebol Clube. Localizado entre a avenida Paraopeba (atual Avenida Augusto de Lima), e as ruas Goitacazes, Curitiba e Santa Catarina, o Mercado era a céu aberto e não possuía sistema de água encanada e esgoto. Pela falta de cobertura, em tempos de chuvas o espaço era coberto por muita lama e em tempos de seca, uma poeira incessante. 

Arquibancada do estádio do América/Fonte: Enciclopédia do América

O Mercado funcionou dessa forma até 1964. Por falta de condições administrativas para manter o local, a Prefeitura anunciou o espaço em um leilão e, na intenção de impedir o fechamento do centro de comércios, muitos comerciantes se juntaram criando uma cooperativa, que comprou o terreno. A partir disso, o espaço passou a ter uma cobertura, mas somente em 1973 que recebeu o nome de Mercado Central. 

Em setembro de 2024 houve uma mudança no seu nome para “Mercado Central KTO”. Essa mudança foi fruto de uma parceria com a plataforma de apostas esportivas KTO, através do modelo de naming rights, e gerou debate municipal e nacional. Mesmo com a mudança no nome, o Mercado não perdeu suas raízes e continua evidenciando a cultura e o jeito belo-horizontino de ser.

O espaço conta com mais de 400 lojas e uma variedade de iguarias, como queijos, cafés, peixes, castanhas, temperos, mas também artesanatos e produtos típicos. Além disso, recebe mensalmente mais de um milhão e duzentas mil pessoas, de belo-horizontinos a turistas de diversas regiões do Brasil e do mundo. 

Sabor e Tradição na Gastronomia e Cultura de BH

Dentre as centenas de lojas existentes está o Ronaldo Queijos Cachaças. A loja é um empreendimento familiar que carrega histórias que deixaram um legado sólido. Ronaldo, que era contabilista, trabalhava em uma escola de engenharia quando perdeu o apreço pela área, cansou de se estressar para os outros e quis se estressar para ele mesmo, conforme conta Ronaldo Filho. A partir disso, decidiu montar uma loja própria.

No início, Ronaldo Queijos e Cachaças trabalhava apenas com bebidas no geral mas, percebendo que vendia somente as cachaças, passou a investir em queijos, cachaças e doces de Minas, dando origem ao nome da loja, que foi inaugurada em março de 1994.

Ronaldo, proprietário do Ronaldo Queijos e Cachaças/ Fotos: Ana Luiza Almeida

Foram oito meses para a construção do espaço, na indecisão de qual seria o segmento. Atualmente, o estabelecimento fornece aos consumidores “produtos mineiros, cachaças, queijos e doces do estado inteiro”, reforça Ronaldo Filho. 

Para Ronaldo,  o Mercado Central é muito importante para a cultura e o turismo de Belo Horizonte, mas principalmente para a área gastronômica. Segundo ele, “tudo que você precisa para sua cozinha, para o seu restaurante, você vai encontrar aqui. Qualquer turista do mundo que vier conhecer o Mercado Central  conhecerá a hospitalidade mineira e belo-horizontina”. Ronaldo ainda reforça a importância do belo-horizontino para a propagação da cultura e da gastronomia de Belo Horizonte. Para ele, quem sustenta o mercado, em sua maioria, é a população da capital mineira. 

O proprietário conta que já atenderam diversos famosos como Dercy Gonçalves, Bruno Mazzeo, Sepultura e Gabriel Sater, cliente fiel de Ronaldo.

Além do Ronaldo Queijos e Cachaças, existem duas outras lojas administradas pela família. Ronaldo Licores e Cachaças, também dentro do Mercado Central, inaugurado em 1999, e Ronaldo Queijos e Cachaças, Empório e Café, no bairro Caiçara. Atualmente a loja é administrada pelo Ronaldo Filho. 

Daquele jeitinho

Das histórias que atravessam o Mercado Central também está a de Luiz Antônio, (74), casado com Dora, (64), nascido na cidade. Ele afirma ser um belo-horizontino raiz por ter vivenciado grande parte das transições que ocorreram no Mercado. Desde o chão coberto por poeira à mudança de nome nos dias atuais. 

Nas idas e vindas ao local, Luiz declara importante viver essas experiências em família e ter experiências gastronômicas, “comprando o que puder,  comendo pastel, andando”. Pastel, café e caldo de cana”, diz o belo-horizontino. Para ele, o Mercado Central carrega grandes histórias e “raízes” que não podem ser apagadas e que devem ser perpetuadas nas próximas gerações. 

Gastronomia, cultura e legado

Muitos devem se perguntar quem é a mulher representada pela estátua que se encontra em uma das entradas do Mercado Central. Esta mulher é Dona Lucinha.

Estátua de Dona Lucinha na portaria do Mercado Central/ Fotos: Ana Luiza Almeida

Dona Lucinha foi uma figura emblemática da culinária mineira, reconhecida por sua paixão e dedicação em preservar e difundir os sabores tradicionais da região. Sua trajetória na gastronomia deixou um legado inestimável, e sua história é contada através de seus restaurantes. Em 8 de Julho de 2023, ganhou uma bela homenagem no coração de Belo Horizonte. 

Como uma das maiores representantes da culinária mineira, Maria Lúcia Clementino Nunes, foi fundadora de uma rede de restaurantes em Belo Horizonte e São Paulo. Foi professora do primário, catequista, salgadeira, doceira, feirante, quitandeira, diretora escolar e vereadora e deixou um legado e muita representatividade para a culinária e gastronomia mineira. Em abril de 2019 faleceu com 86 anos de idade. 

A placa que faz identificação da estátua ao lado de fora do Mercado descreve o sentimento de Dona Lucinha e o que significava o patrimônio cultural para ela. Um lugar de temperos e onde se sentia em casa.

Em reconhecimento à sua importância para a gastronomia mineira, foi erguida uma estátua em homenagem à Dona Lucinha no Mercado Central de Belo Horizonte. Além disso, também é possível visitar o Armazém da Dona Lucinha no Mercado Central.

*Matéria produzida para a disciplina de Práticas Jornalísticas e Mídias Sociais, sob a supervisão da professora Dayane do Carmo Barretos.*