Como os mecanismos de controle sobre as mulheres perpetuam desde a Caça às bruxas até os dias atuais

Por Izabella Caixeta e Melissa Souza

Ao longo da história da humanidade, as mulheres sempre sofreram com o ódio apenas por serem mulheres. Vistas como seres inferiores aos homens, as mulheres sempre sofreram com diversos tipos de violência e o auge se deu durante a Idade Média, entre os séculos XV e XVIII, período conhecido como Caça às Bruxas e eternizado no imaginário popular.

Créditos: Kat Smith

Nesse período as mulheres foram perseguidas, presas, torturadas e assassinadas por serem consideradas “bruxas”, quando, na realidade, elas foram condenadas por incomodarem, de alguma forma, a estrutura social da época. Além disso, o fato que mais marcou o período foi a forma como essas mulheres eram mortas, sendo jogadas às fogueiras.

Atualmente, as fogueiras, no sentido literal, não são mais utilizadas, mas o jornalismo e seus mecanismos podem ser considerados fogueiras simbólicas, nos quais queimam as reputações, carreiras e vivências das mulheres, ainda em vida, ou não, ao passar por um processo de julgamento ao retratar suas histórias.

Para discutir sobre o assunto, entrevistamos a jornalista e Doutora em Comunicação pela UFMG, Bárbara Caldeiras, que pesquisou sobre a metáfora do jornalismo como fogueira moderna em sua tese, em especial, com mulheres vítimas de feminicídio. Segundo Bárbara, o ato de “queimar” as mulheres vítimas de feminicídio, por exemplo, é uma forma do jornalismo mostrar à sociedade quais mulheres devem viver e quais não.

Desumanização das mulheres

“Um animal imperfeito,
Sem fé, sem lei, sem medo,
Sem consistência.”

(ditado francês do séc. XVII sobre as mulheres)

Créditos: Reprodução


Consideradas inferiores por várias sociedades ao longo do tempo, é no período medieval, na transição do feudalismo para o capitalismo, que a mulher perde o espaço que ocupava em diversas funções remuneradas e se resume à reprodução e trabalhos domésticos. Segundo Silvia Federici, em seu livro “Calibã e a Bruxa”, havia mulheres que exerciam atividades como ferreiras, açougueiras, padeiras, entre outras. Na Alemanha haviam aproximadamente duzentas funções exercidas por mulheres, e na Inglaterra algumas guildas, como a da indústria da seda, eram controladas por mulheres.

A transição para o capitalismo, então, provocou uma mudança estrutural criando novas classes trabalhadoras com hierarquias baseadas no gênero para intensificar e ocultar a exploração da classe dominante, a burguesia, dona dos meios de produção. Isso destituiu o poder das mulheres e culminou na caça às “bruxas”.

Não se sabe ao certo quantas pessoas foram mortas por acusação de bruxaria, pois muitas eram executadas em pequenas vilas onde não havia registros dessas atividades. Segundo a BBC, historiadores calculam que entre 80 mil a 100 mil pessoas foram levadas a julgamento por bruxaria entre 1400 e 1750, sendo 80% mulheres, e pelo menos metade sofreram com torturas ou condenadas à fogueira.

Silvia afirma em seu livro que muitos estudiosos do período de perseguição das mulheres acusadas de bruxaria, que até algum tempo atrás eram apenas homens, retratavam tais mulheres como “tolas miseráveis que sofriam com alucinações”, pervertidas, desonradas, ou outras caracterizações que “tiram a culpa dos caçadores das bruxas e despolitiza seus crimes”, em um movimento de misoginia.

Do mesmo modo, a feminista americana Robin Morgan afirma em “Sisterhood is Powerful” que “as bruxas sempre foram mulheres que se atreveram a ser corajosas, agressivas, inteligentes, não conformistas, curiosas, independentes, sexualmente liberadas, revolucionárias”.

Bárbara também explica que a Caça às Bruxas teve como principal alvo mulheres pobres e camponesas, movida pela crença de que o Diabo precisava de agentes humanos para fazer o mal, e as mulheres seriam, dentro de um raciocínio misógino, as responsáveis por essa espécie de ponte. “Portanto, a Caça às Bruxas existiu suportada pela demonização da mulher com raízes clássicas e cristãs. E é isso que faz as fogueiras estarem acesas ainda hoje de outras formas”, explica a jornalista.

Fogueiras da atualidade


Em paralelo, podemos afirmar que até os dias atuais, as mulheres que ousam usar suas vozes para questionar o mundo ou lutar por espaços continuam a ser coagidas, perseguidas e silenciadas, geralmente com argumentos de ordem moral, para “queimar” sua credibilidade na “fogueira” do julgamento público.

Créditos: Anna Shvets

Hoje, o jornalismo é capaz de queimar mulheres das mais diversas formas através de rótulos que são colocados nelas. A mídia não só se utiliza de termos pejorativos para fazer referência a certas mulheres, como também banaliza determinados fatores ao noticiar certos assuntos. Esse mecanismo, que atua como fogueira nos dias atuais, julga as mulheres, em primeira mão, e depois inflama a opinião pública, que nunca se posiciona de forma amena.

O mesmo acontece no tribunal das redes sociais, onde os julgamentos são feitos de maneira extremamente rápida e, na maioria das vezes, injusta. Isso porque a vítima não tem a oportunidade de se defender dos comentários impiedosos, ofensivos e não sugeridos. Conhecidos como “hates” na internet, os comentários cheios de ódio gratuito se tornaram comuns nas redes sociais, mas sempre carregam um peso maior quando se trata de mulheres.

Entre as principais formas de violência contra a mulher no ambiente digital estão as filmagens de atos sexuais sem consentimento, vazamento de imagens intimas e o stalking, revela pesquisa realizada pelo Instituto AVON. O estudo ainda revela que mesmo se tratando de um crime cibernético, as consequências na vida das vítimas são reais: 45% das entrevistadas afirmaram que os assédios tiveram impactos no dia a dia, uma a cada três mulheres afirmaram sentir isolamento da sociedade e mais de 30% tiveram efeitos psicológicos sérios, sendo que 14% dessas mulheres tiveram pensamentos suicidas.

Além disso, quando um acontecimento vira um dos assuntos mais comentados na internet após ter sido noticiado por algum jornal, a situação é ainda mais difícil. Independente de serem figuras públicas ou não, de estarem agindo em seus direitos e até mesmo de estarem vivas, o jornalismo não é condescendente. O machismo existente na sociedade patriarcal em que vivemos é refletido ali toda e qualquer vítima pode ser incendiada apenas pela sua condição de mulher.

Porém, alguns recortes são mais desqualificados pela mídia do que outros. Assim como na Idade Média, onde as mulheres lançadas às fogueiras eram as mais vulneráveis, a atualidade repete o modus operandi. As mulheres pobres, negras e transsexuais sofrem ainda mais com os discursos ditados pelo jornalismo e aquelas que optam por não serem mães ou não continuar com a gestação são duramente expostas e criticadas. Até mesmo as mulheres que são mães que não atendem a um padrão sofrem com as narrativas, afinal, de acordo com a mídia, mães devem se dedicar unicamente aos seus filhos.

O jornalismo como fogueira em casos de feminicídio


Há, ainda, aquelas que foram vítimas de feminicídio e que mesmo depois de mortas, sofrem com a violência de terem suas histórias distorcidas, diminuídas e narradas com termos pejorativos e desqualificantes. Essas mulheres, normalmente, são retratadas como amantes, infiéis e loucas e o jornalismo acaba por recorrer a um sistema que as divide entre aquelas que mereciam viver e as que não mereciam.

Crédito: Anete Lusina

Segundo estudo realizado pelo Instituto Patrícia Galvão, no Brasil, 3 a cada 10 mulheres foram ameaçadas de morte por um parceiro ou ex-parceiro, e uma a cada 6 mulheres já sofreram uma tentativa de feminicídio íntimo, o que corresponde a 13,7 milhões de brasileiras. Apesar disso, aproximadamente um terço dos brasileiros entrevistados culpabiliza a vítima pelo crime.

Nesse sentido, a Doutora em Comunicação Bárbara Caldeira explicou a metáfora que compara o jornalismo como uma das fogueiras atuais, sendo este um mecanismo que queima as mulheres vítimas de feminicídio, mesmo depois de suas mortes. Para ela, as mulheres não são mais jogadas às fogueiras, mas ainda têm suas histórias queimadas ao serem violentadas pela mídia.

“Pela matriz cristã, conservadora e eurocentrada, mulheres são tomadas como merecedoras pela própria violência que sofreram. Reafirmadas como seres desviantes e imperfeitos em sua gênese que existem em associação com a lascívia, a devassidão, a mentira, a traição, o infortúnio, o próprio mal. E são muitas as maneiras como essas reiterações se dão”, afirma a pesquisadora.

Em sua tese, Bárbara encontrou cinco chaves que mostram como o jornalismo opera nos casos de feminicídio. São elas: a exaltação da beleza da mulher como algo que provoca a violência; a narração da vítima de feminicídio a partir da categoria de amante; a ênfase na vítima de feminicídio como mulher infiel quando houve suspeita ou confirmação de traição por parte dela; a concentração da cobertura na ocupação da vítima relacionada à sexualidade e a projeção de uma mulher que não se concretiza.

“Apresentar uma mulher impossível como o único modelo aceitável e digno da vida é não só desumanizar as mulheres, como uma recusa à compreensão da dimensão sistemática do feminicídio. Se é preciso ser perfeita para não ser morta e perfeição é incompatível com a vida, sempre há um motivo anunciado para que o feminicídio seja plausível”, conclui.

Confira a seguir a entrevista com Bárbara Caldeira

O que foi o período da Caça às Bruxas, entre os séculos XV e XVIII, e de que forma ele afetou as mulheres da época?

Bárbara Caldeira – A Caça às Bruxas européia tem início no século XV, atinge seu apogeu nos séculos XVI a XVIII, e se dá por uma complexa rede de fatores. Geralmente se fala do fenômeno como uma perseguição religiosa mas, mais do que isso, a Caça às Bruxas foi uma perseguição social (especialmente de mulheres) e de modos de vida.

A Europa estava assolada por guerras religiosas, crises econômicas, a instabilidade da Reforma Protestante e as suas respostas. O sentimento de insegurança das pessoas estimulou a crença de que havia uma forte intervenção do Diabo (uma criação cristã) no mundo terreno. Havia todo o processo de pauperização das mulheres por conta da política dos cercamentos e a preparação do terreno para o sistema capitalista, que depende do controle das mulheres para existir. Havia também a ascensão da Medicina (exclusivamente para homens) e a necessidade de confrontar os modos de ser e saber dessas mulheres (parteiras, erveiras, curandeiras).

O mais importante, porém, é que a Caça às Bruxas foi uma perseguição em massa de mulheres, em especial pobres e camponesas. O que alimenta a Caça às Bruxas é a crença de que o Diabo precisa de agentes humanos para fazer o mal, e as mulheres seriam, dentro de um raciocínio misógino, as responsáveis por essa espécie de ponte. Portanto, a Caça às Bruxas existiu suportada pela demonização da mulher com raízes clássicas e cristãs (e é isso que faz as fogueiras estarem acesas ainda hoje de outras formas).

As mulheres foram perseguidas, demonizadas, julgadas, torturadas e mortas. As “confissões” das supostas bruxas eram, na verdade, forjadas a partir de tortura.

Quais eram as características de uma mulher considerada bruxa e quais implicações ela sofria?

BC – A Caça às Bruxas foi fortemente um movimento de controle do comportamento, especialmente das mulheres. Em 1486, há a publicação do Malleus Maleficarum, que em português é conhecido como “O Martelo das Feiticeiras”, de autoria de Kramer e Sprenger, dois inquisidores, que reforçou as teorias misóginas de que as mulheres estavam diretamente ligadas ao “crime” da bruxaria, uma vez que foi por conta de uma mulher (Eva) que o pecado chegou ao mundo.

A obra se baseia em um vasto conjunto de autores cristãos e da Antiguidade Clássica e se dedica a listar o que seriam vícios e defeitos das mulheres: fracas e débeis, com um comportamento de “sexualidade desenfreada”, moralmente inferiores e, por isso, mais suscetíveis a Satã.

Quanto mais sozinha fosse essa mulher, no sentido de não contar com uma estrutura masculina, mais ela era desprotegida e alvo fácil das acusações de bruxaria. A Caça às Bruxas persegue especialmente mulheres, pobres, idosas e mulheres com comportamentos que fugiam às normas da época.

Essas mulheres consideradas desviantes eram responsabilizadas, por exemplo, por colheitas sem sucesso ou pelo infortúnio do vizinho, cuja vaca parou de dar leite. Eram culpadas por fenômenos naturais e até mesmo pela morte de bebês por conta das péssimas condições sanitárias e de nutrição da época e por doenças (as denúncias e os tribunais afirmavam que elas haviam ofertado a criança ao Diabo).

Toda mulher que incomodava a sociedade de alguma maneira estava suscetível a acusações assim, que eram encorajadas especialmente por folhetos que circulavam mais amplamente a partir da criação da prensa móvel (1450).

Como as bruxas da antiguidade se aproximam das mulheres que são jogadas nas fogueiras atuais?

BC – O que as fogueiras faziam era ensinar mulheres a serem mulheres como convinha à ordem da época por meio da penalização das que desviassem das expectativas. E o julgamento vinha de todos os lados. Os processos contra essas mulheres corriam não apenas na Igreja, mas também no aparelho jurídico (juízes civis e eclesiásticos). A própria população local era incitada a denunciar o comportamento dessas mulheres.

As fogueiras nunca afetaram todas as mulheres da mesma maneira. Mesmo na Caça às Bruxas européia, quem queimava majoritariamente eram mulheres pobres e camponesas. Por uma série de fatores: pela facilidade de fazer vítimas pelas quais ninguém reclamaria, pelo desejo de aniquilar as mulheres empobrecidas, principalmente as idosas, mas, também, pela ameaça que muitas dessas mulheres, vivas, representavam à campanha moral engendrada por várias instituições, especialmente Estado e Igreja.

Hoje, fogueiras ainda ardem quando mulheres são agredidas e mortas e quando o jornalismo as desqualifica e incendeia, por exemplo, que é o que defendo na minha tese. Estão inflamadas a partir da misoginia, do racismo, da maternidade e heterossexualidade compulsórias, do recorte de classe. Mulheres queimam de diferentes maneiras. Mas nenhuma está a salvo do fogo, e o mesmo acontece hoje.

Ao contrário das fogueiras da antiguidade em que as bruxas eram, literalmente, queimadas, atualmente as fogueiras operam de outra forma. Como o jornalismo contribui para a condenação das mulheres nos dias atuais? De que maneira as mulheres são condenadas pelo jornalismo?

BC – Na minha pesquisa de doutorado, criei a metáfora do jornalismo como uma espécie de fogueira simbólica que queima as mulheres vítimas de feminicídio em uma praça pública imaterial a partir da maneira como as narra, com caráter exemplar e tendo como base uma apreensão da mulher como figura demonizada advinda de raízes clássicas e cristãs. Essa foi minha contribuição teórica para o campo, que não debatia sobre isso.

O jornalismo, ao narrar as mulheres vítimas de feminicídio, recorre a (e alimenta) um sistema de valores que divide as mulheres entre aquelas que mereciam viver e as que não mereciam. As mulheres são narradas em categorias fixas e pejorativas, como se as resumissem (amante, infiel, lasciva) e são desumanizadas uma vez que o único comportamento aceitável de uma mulher (um paralelo com Maria) é impossível.

Pela matriz cristã, conservadora e eurocentrada, mulheres são tomadas como merecedoras pela própria violência que sofreram. Reafirmadas como seres desviantes e imperfeitos em sua gênese que existem em associação com a lascívia, a devassidão, a mentira, a traição, o infortúnio, o próprio mal. E são muitas as maneiras como essas reiterações se dão.

As fogueiras não acontecem nos mesmos moldes mas estão aí. Mulheres há séculos pagam a conta da misoginia não apenas com a vida, mas também com a vida depois da vida, com a sua memória. Julgadas, revitimizadas, expostas ao escárnio, queimadas em praça pública imaterial diante de gritos que ecoam na opinião pública.

De que maneira as mulheres são condenadas pelo jornalismo?

BC – No meu trabalho, encontrei cinco chaves dessa desqualificação das mulheres para essa nova morte jornalística em casos de feminicídios. Cada uma dessas chaves corresponde a uma ideia do Malleus Maleficarum, que concatena o raciocínio que suportou a perseguição de mulheres na Caça às Bruxas e, para mim, é constantemente atualizado pelo jornalismo:

A primeira é a exaltação da beleza da mulher como algo que provoca a violência. Nessa chave, o jornalismo cria a relação de que é a beleza da mulher que leva o homem a “perder a cabeça” e matá-la para manter para si o que entende que é seu por direito. As mulheres, assim, seduzem e agradam, mas também destroem. Isso está muito presente em um estereótipo da femme fatale, a mulher que representa perigo mas seria irresistível, mas também na Antiguidade Clássica pela figura das sereias.

Na segunda chave, o jornalismo narra a vítima de feminicídio a partir da categoria de amante. Ao construir a figura da “amante” como o que mais importa em um feminicídio, o jornalismo recria a ideia da mulher destruidora de lares que agride a paz do suposto Éden que é o matrimônio do homem casado, no qual ele, assim, não é implicado. Quando o homem a assassina, a justificativa é de preservar o casamento que a mulher tentadora trabalhou para romper.

Na terceira, o jornalismo enfatiza a vítima de feminicídio como mulher infiel quando houve suspeita ou confirmação de traição por parte dela, reduzindo-a a isso. A traição, para a mulher, é evidência para o jornalismo do seu suposto desvio de caráter e imundície, enquanto, para o homem, é uma necessidade física. O jornalismo, justificando a morte dessa forma, afirma que a mulher infiel é indigna da vida, evocando a “honra masculina”.

Na quarta, está a concentração da cobertura na ocupação da vítima relacionada à sexualidade (quando as vítimas são prostitutas, garotas de programa, strippers). Para o jornalismo, muitas vezes, o homem, seja marido ou cliente, matar uma mulher prostituta é menos grave do que a prostituição em si.

Em um quinto movimento, há a projeção de uma mulher que não se concretiza. A maternidade, aqui, aparece como atributo na contraposição da mulher ruim (Eva) e da mulher boa (Maria). As narrativas jornalísticas se compadecem de uma mulher quanto mais ela for dessexualizada e encerrada no papel de mãe, mas nenhuma parece ser boa o bastante.

Apresentar uma mulher impossível como o único modelo aceitável e digno da vida é não só desumanizar as mulheres, como uma recusa à compreensão da dimensão sistemática do feminicídio. Se é preciso ser perfeita para não ser morta e perfeição é incompatível com a vida, sempre há um motivo anunciado para que o feminicídio seja plausível.

É possível combater a perseguição contra as mulheres que persiste através do tempo?

BC – Essa é uma pergunta sem resposta fácil. Pelo viés do jornalismo, o trabalho precisa ser voltado para a formação dos e das jornalistas de modo a compreender as mulheres como seres humanos complexos, e não encerradas em modelos duais que, de uma forma ou de outra, as condena.

Há um avanço atual no Brasil de um pensamento conservador muito ancorado em ideias tiradas de contexto de escritos bíblicos que dá a sensação de que caminhamos um passo para frente e três para trás. Acredito que esse combate é um trabalho contínuo e vigilante das mulheres, não só das gerações que já passaram por aqui, mas da minha e das que virão. E esse movimento precisa considerar marcadores como raça, classe, orientação sexual etc. para perceber que as mulheres são queimadas de maneiras diferentes e que as ações precisam partir disso.