A oportunidade disponibilizada pela universidade possui requisitos muitas vezes inalcançáveis para alguns estudantes

Por Alanna Jales e Júlia Miranda 

 

Créditos: Divulgação / UFMG

“Foi a melhor experiência da minha vida até hoje.” Essas foram as palavras ditas por Paula Oliveira ao descrever a importância de seu intercâmbio feito por meio do Programa de Mobilidade Acadêmica Internacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O processo, que é organizado pela Diretoria de Relações Internacionais (DRI), acontece uma vez por ano e seleciona estudantes para realizar a mobilidade internacional no ano seguinte. A iniciativa tem como objetivo promover o intercâmbio científico e cultural de estudantes brasileiros com o resto do mundo e a universidade cobre as despesas da instituição de destino de cada aluno, visando tornar o sistema mais acessível. Mas será que só essa medida é suficiente para abranger todos os estudantes? 

Os requisitos para o intercâmbio

O edital de intercâmbio da UFMG é disponibilizado no final do primeiro semestre do ano e contempla principalmente os programas Minas Mundi, Escala Estudantil e Santander Ibero-Americanas. Anteriormente, cada programa tinha seu próprio edital, mas, desde 2018, a DRI concentra todos eles em um mesmo processo, facilitando a inscrição e acesso a diversas opções de destinos. 

Para se candidatar à mobilidade internacional é necessário preencher requisitos pré-estabelecidos pela universidade, como:

  • Possuir vínculo ativo na UFMG como estudante da graduação;
  • Ter integralizado pelo menos 20% dos créditos do curso;
  • Possuir registro de Nota Semestral Global (NSG);
  • Não possuir matrícula em situação de “trancamento total”;
  • Não estar envolvido em processo administrativo disciplinar durante todas as etapas do processo.

Com os requisitos preenchidos, o estudante passa pela avaliação da universidade, que conta com três critérios. Eles são pontuados de acordo com uma tabela disponibilizada no edital:

 

O sistema de pontuação exige que o aluno tenha disponibilidade para se envolver em atividades extra-curriculares acadêmicas para que suas chances de ser alocado sejam ampliadas. Alguns critérios que fornecem mais pontos são os certificados de participação: 

  • Atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão – máximo 15 pontos;
  • Participação em eventos acadêmicos, artísticos ou técnicos – máximo 15 pontos;
  • Atividades profissionais correlatas ao curso – máximo 15 pontos; 
  • Publicações – máximo 15 pontos;
  • Participação em eventos e cursos promovidos pela DRI – máximo 15 pontos.

 A questão central no critério de pontuação é a acessibilidade dos eventos para alunos que têm disponibilidade de tempo reduzida devido ao trabalho – tanto em horário integral quanto meio-período. A DRI organiza diversas palestras e cursos que promovem conhecimento sobre diferentes temas relacionados à cultura internacional. No entanto, os eventos costumam ocorrer no período da tarde, de forma que nem todos os alunos conseguem estar presentes. A Mostra de Internacionalização, que ocorre nos dias 20 e 21 de maio de 2025, é um exemplo da limitação de horários. O Workshop de Mobilidade Internacional, que destrincha o edital de forma detalhada e ensina os estudantes a enviar os documentos para o processo, ocorre somente nos períodos da manhã e tarde – de 9h30 às 11h30, 13h30 às 15h30 e 15h às 17h.

Créditos: Instagram / DRI

Como outras universidades conduzem o processo

O Programa de Mobilidade Internacional não é uma exclusividade da UFMG. Dentre as universidades participantes, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) se destacam em nível de dificuldade. 

A UFRJ, diferente da UFMG, não disponibiliza um edital com todos os programas vinculados à universidade. No programa Mobilidade Regular, por exemplo, o número de requisitos é maior e o grau de dificuldade também:

  • Currículo Lattes ou CV;
  • Carta de Motivação;
  • Carta de Recomendação;
  • Autorização do Curso para Oficialização de Candidatura;
  • Cópia do passaporte válido por todo o período de intercâmbio;

Além disso, o currículo e as cartas de motivação e recomendação devem ser traduzidas para a língua oficial da universidade destino. Nesse caso, o estudante pode procurar um tradutor juramentado ou traduzi-lo de forma independente, se responsabilizando pelo conteúdo presente nos documentos. 

Apesar de possuir mais requisitos, o programa não conta com um sistema de pontuação, diferente da UFMG. Assim, o processo é, de certa forma, menos trabalhoso porque não requer dedicação a longo prazo, como a presença em palestras acadêmicas. 

A UFSCar também não possui um edital unificado e seu programa principal é o Mobilidade por acordos bilaterais. Diferente das universidades citadas, geralmente é disponibilizado um edital por país ao invés de um compilado com todos os países participantes da mobilidade. Isso dificulta o processo para os estudantes, que precisam ficar atentos aos diversos requisitos que cada edital exige. 

O que os estudantes que já fizeram intercâmbio falam sobre isso?

Paula Oliveira, de 31 anos, foi aluna de intercâmbio durante o 2° semestre de 2016 em Évora, Portugal, enquanto cursava História. Para ela, a experiência em outra universidade durante a graduação deveria ser obrigatória. “Foi muito engrandecedor, abrem-se novas questões, novas possibilidades, principalmente para alunos de baixa renda ou mesmo quem tem pouca oportunidade de viagem. É uma experiência que amplia muito os horizontes pessoais e acadêmicos”. 

 

Créditos: Arquivo Pessoal

A viagem só foi possível pois ela era uma aluna contemplada pelo auxílio financeiro da Fundação Universitária Mendes Pimentel (FUMP). O valor era 3.300 mil euros, que correspondia a 12.900 reais, e cobriu seu aluguel e alimentação durante os seis meses de estadia no país.

 

Créditos: Arquivo Pessoal

A escolha de Paula pelo país se deu pelo idioma, que é sua língua materna. Já para Letícia Campos, aluna de Relações Econômicas Internacionais, que teve como destino a cidade de Jena, na Alemanha, o processo foi um pouco diferente. “Fui para a Alemanha sem saber falar a língua e, para as outras opções que considerei antes da alocação, também fui influenciada pela necessidade de certificado. Descartei algumas universidades francesas, por exemplo.” 

Qual é o futuro da mobilidade internacional na UFMG?

Sem dúvidas, a seleção promovida pela universidade possui suas exigências e particularidades, como a tabela de pontuação, que torna a seleção muito afunilada, acessível apenas para aqueles que têm o privilégio de utilizar seu tempo para se dedicar à preparação do intercâmbio. Quando questionada, a DRI não se pronunciou a respeito da acessibilidade do processo e das ações promovidas pela organização para a comunidade acadêmica.

Apesar das dificuldades que o programa apresenta para os discentes da universidade, em comparação com outras universidades federais brasileiras, a UFMG incentiva e apoia a internacionalização de seus alunos de forma mais consistente. Mesmo assim, existem oportunidades de melhoria para tornar a mobilidade ainda mais atrativa e alcançável para os estudantes, dando a oportunidade de viver essa experiência transformadora.

*Reportagem produzida na disciplina de “Laboratório de produção de reportagem” sob a supervisão de Dayane do Carmo Barretos.