Estudantes opinam sobre as razões que levam muitos discentes a abandonarem do curso

Por Dayanna Louise

A evasão nas universidades é um desafio que o Brasil enfrenta há anos. Historicamente, bacharelados em engenharia apresentam uma evasão bastante acentuada, caracterizando-se como um grande problema na formação de engenheiros. Segundo dados do Indicador de Fluxo da Educação Superior do INEP em 2019, 68,74% dos alunos desistiram do ensino superior de engenharia entre 2012 e 2019. Existem vários motivos que podem levar um estudante a abandonar a universidade, como questões socioeconômicas e pessoais. De acordo com o relatório do PROGRAD UFMG (pró-reitoria de graduação) dos ingressantes da Universidade admitidos entre 2014/1 e 2020/2 dos cursos das Ciências Exatas e Tecnológicas a evasão média é de 35% e é maior que nas outras áreas. Em relação aos cursos de ciências exatas, a engenharia tem uma média de evasão de 30%, valor bem menor que os outros cursos da área (44%), mas ainda expressivo. 

Estudantes de Engenharia opinam sobre evasão
Créditos: Dayanna Louise

 Principais motivos que levam a evasão

“Eu não estava me sentindo no lugar certo, não via futuro no curso, sem falar que ele demandava todo o meu dia e eu não conseguia arrumar um emprego.”

André Pereira, 23 anos, ex-aluno de engenharia aeroespacial pela UFMG

O atual coordenador do curso de engenharia metalúrgica na UFMG, Pedro Henrique Rodrigues, apontou em entrevista que 25% da evasão do curso de engenharia metalúrgica é para reopção dentro das outras engenharias, pois a nota de corte do curso é muito baixa, se comparado às demais engenharias, por isso, muitos estudantes entram na engenharia metalúrgica, já com a intenção de tentar a reopção. A Metalúrgica tem a maior taxa de evasão das engenharias, com o índice de 50%. 

Ele também afirma que os principais motivos que levam a evasão nas engenharias na UFMG são: dificuldade dos alunos com os períodos iniciais; carga horária de aula elevada e turnos irregulares; dificuldade com as disciplinas de exatas devido um ensino médio ruim; ciclo básico da engenharia, pois os alunos fazem matérias mais difíceis e que não tem muita relação com a engenharia logo no início do curso. 

No Engenharia Recebe, um programa de recepção do aluno ingressante na Escola de Engenharia da UFMG, foi dito que muitas vezes a evasão dos alunos está relacionada à desmotivação para com seus respectivos cursos, principalmente devido ao fato da engenharia ter um ciclo básico e um tardio contato com a engenharia de fato.

Em entrevista para a Federação Nacional dos Engenheiros, o atual vice-reitor da UFMG, Alessandro Fernandes Moreira, que dirigiu a Escola de Engenharia de 2014 a 2018, afirmou que uma reforma na forma de ensinar é urgente. Pedro Henrique disse que a UFMG fará no ano de 2024 uma reforma curricular nos cursos de engenharia, e uma das mudanças é colocar disciplinas introdutórias nos primeiros períodos, para que os alunos possam balancear a grade mais pesada com disciplinas mais simples. Ele também informou que a UFMG pensa em regularizar os horários das disciplinas para que os alunos consigam com mais facilidade trabalhar enquanto estudam. 

Vale ressaltar que na Escola de Engenharia da UFMG, são oferecidas 13 turmas compostas por 10 cursos em turno diurno, mas apenas 3 cursos em turno noturno. O que torna ainda mais difícil para os estudantes conciliar o mercado de trabalho com os estudos. 

Pandemia

De acordo com o INEP, em 2020, 2 milhões de estudantes foram impactados pela migração para o ensino remoto durante a transição para o ensino superior. Essa migração trouxe novas demandas à docência universitária, já que grande parte do processo de aprendizagem precisou de adaptação.  

Em entrevista, Valéria da Silva, 27 anos, ex-estudante de engenharia de sistemas 2019/2 pela UFMG, disse: “Para mim, a pandemia acelerou o meu processo de desistência da Universidade. Com ela, me encontrei no mercado de trabalho e descobri que a engenharia de sistemas era muito abrangente para a carreira que eu queria seguir. Descobri que existem caminhos mais objetivos para ser um programador.”

Segundo dados do PROGRAD, em 2020, ano em que eclodiu a pandemia, o número de estudantes com vínculo inativo na Universidade oscilou de 4,4%, no primeiro semestre, para 4,7%, no segundo semestre. No ano de 2019, ano em que foram implementadas as novas Normas Gerais de Graduação — regulamentam e fornecem diretrizes, na Universidade para questões relacionadas ao regime didático-científico dos cursos de graduação — as mesmas taxas semestrais oscilaram de 7,8% a 7,7%.  

Detesto o curso, mas amo a Universidade

Créditos: Dayanna Louise

Muitos alunos, mesmo desistindo da engenharia, ainda encontram na UFMG um espaço para se divertir e encontrar os amigos, devido a vasta programação que a Universidade oferece. Gustavo Palmeiras, 23 anos, ex-estudante de engenharia elétrica pela UFMG, diz que nos seus 4 primeiros anos de engenharia ficou focado na atlética, ao invés de focar nos estudos, já que para ele, a atlética era mais interessante. No ano de 2021/1 ele desistiu do curso, mas nem por isso, deixou de frequentar a UFMG. Hoje ele é aluno de educação física pela mesma Universidade, mas passa muito tempo no prédio de engenharia para participar das atividades da atlética.