Existe algum padrão na forma de vestimenta dos estudantes da UFMG, mas há aqueles que fogem à regra
Por Lara Moreno
Não é de hoje que as roupas são utilizadas como forma de expressão e comunicação com o mundo externo, para além de seus usos funcionais, como proteção e adequação ao clima. Através da forma de se vestir, aspectos das personalidades podem ser demonstrados, imaginários construídos e o conforto garantido. Vários são os fatores que influenciam na forma como os estudantes se vestem para frequentar a universidade, inclusive a relação com o turno de estudo e a graduação cursada. Além disso, ao considerar que os discentes utilizam meios de transporte para chegar até o campus, questões como praticidade e sensação de segurança somam-se aos fatores utilizados para escolha de roupas a serem usadas no ambiente universitário.
Com o objetivo de entender melhor como isso se aplica na prática no dia a dia dos estudantes da UFMG, foi realizada uma pesquisa através de formulário online com 100 pessoas pertencentes a diferentes áreas da comunidade universitária. Em análise dos dados coletados, 72% das respostas foram dadas por alunos que estudam a noite, com a maior parte matriculada nos cursos de engenharias, ciências econômicas e exatas. Ou seja, o panorama construído nesta reportagem foi majoritariamente baseado na vivência de pessoas que frequentam o campus no período noturno em prédios como FACE, ICEX e engenharia.
Foi possível aferir que há um equilíbrio entre aqueles que vão de casa diretamente para a universidade, com 47% das respostas, e os que reaproveitam as mesmas vestimentas para o ambiente de estudo e trabalho, 50%. Ainda assim, apesar de a adequação ao ambiente profissional e universitário simultaneamente ser um fator considerado por grande parte dos discentes consultados, os aspectos conforto, praticidade e adequação ao clima são as variáveis mais consideradas quando se trata da escolha de peças de vestimenta. “Expressão pessoal” não fica muito atrás, com 49% das respostas contemplando este aspecto.
A maioria dos alunos percebe um padrão de vestimenta dos colegas de curso, e a maior parte deles prioriza roupas básicas, como camisetas e calças jeans. Pode-se concluir que a noção de estilo pessoal, aliada aos outros aspectos levados em consideração na pesquisa feita, perpassa em 90% dos casos a consideração de facilidade no momento de se vestir, com peças “coringa”.
Para visualizar na prática como a expressão pessoal dos alunos se traduz no dia a dia, houve o planejamento para observação pela repórter de pessoas passantes a partir de um ponto comum dentro da UFMG, a entrada da escola de Belas Artes. Tal local foi escolhido estrategicamente pensando em averiguar uma possível relação de contraste com as respostas obtidas pelo formulário, cuja maior parte dos alunos que responderam pertencem ao ramo de ciências consideravelmente diferentes das artes.
Um grupo de alunos passantes foi consultado e compartilharam como geralmente levam camisetas extra na mochila para evitar se sujarem nas aulas multimídia, com materiais como argila e tintas, mas que têm de prontidão outra opção para se expressarem da forma como ficam mais confortáveis.
Mariana, estudante de Gestão Pública disse: “eu gosto de me vestir de maneira confortável e que combine para me sentir mais segura na hora de voltar da faculdade”, e ainda brincou que gosta de usar croppeds para a faculdade “porque é jovem”.
Para além desses relatos, o conjunto casual de camiseta e calça jeans foi visto em diversos alunos, mas houveram algumas pessoas que se destacaram e saíram deste padrão. Foi o caso de Andrea Dário, uma mulher de 60 anos, aluna do mestrado e modelo viva para os discentes de Artes Visuais. Durante nossa conversa, Andrea afirmou que busca se expressar ao máximo através das roupas e que se veste de maneira excêntrica desde os 16 anos, o que causa estranhamento nas pessoas na rua: “já fui apedrejada! Quando entro no ônibus, direto tem pessoas que se cutucam, olham torto, mas eu enfrento mesmo! Já perguntei à mulher o que ela estava olhando, pois se ela podia estar baranga, eu podia estar linda, do meu jeito!”. Contou que é modelo e posa nua para os alunos pintarem representações suas, e nessas ocasiões, pinta os pêlos pubianos e os mamilos pois segundo ela, são parte do que ela veste também.
Andrea foi uma personagem que mostrou que as pessoas podem se vestir não só com peças consideradas básicas mas que podem transgredir o considerado “normal”, dentro e fora do ambiente universitário. Ao dizer que proporciona uma “reeducação dos sentidos” com sua forma de se expressar e que “não separa a artista da persona”, provou que a área de atuação tem sim influência na forma como se veste para frequentar a universidade e que é uma das exceções quando se trata da forma de se vestir para estudar, indo além dos 90% de alunos que afirmaram se vestir de maneira casual.