Dossiê: Outro Olhar
Uma crônica sobre o Shopping Oiapoque, suas pechinchas e seus vendedores.
Por Bárbara Prado
O Shopping Oiapoque é chamado de shopping popular. Uma espécie de aglomeração de camelôs em espaço fechado. Bem diferente de shoppings tradicionais, para atrair os compradores, os vendedores só faltam pular na sua frente oferecendo os produtos e divulgando as ofertas.
Ao diminuir o passo pelo fato de haver uma passagem bloqueada, a moça me pergunta:
– Posso ajudar, senhora?
– Não, não, obrigada!
Na barraca da frente, um rapaz:
– Uma olhadinha?
(Só balanço a cabeça com sinal negativo).
– Produtos variados, moça!
– Olha o relógio!
Isso ao mesmo tempo em que conversam entre si. Os vendedores se conhecem, batem papo, jogam conversa fora. Às vezes interrompem para abordar um passante, mas rapidamente voltam para o assunto em que estavam. É assim com vários deles. Não notei muita variação nos perfis dos vendedores: maioria de mulheres e homens jovens.
Era por volta de 14 horas de uma quinta-feira e o local estava relativamente com pouco movimento – o que não significa que estava tranquilo de caminhar. Decidi que não me apresentaria como estudante de jornalismo que está fazendo uma reportagem. Então, mesmo não tendo a intenção de comprar nada, resolvi que pararia em alguma barraca atendendo a abordagem de algum vendedor.
– Várias camisetas, senhora!
– Quanto é aquela? – Apontei para uma que vestia um manequim.
– Está 35 reais.
– Hum! – Pensei um pouco, e antes que pronunciasse qualquer outra palavra, a moça disse:
– Faço pra você por 30!
– Então, vou dar uma olhada por aí e volto. Obrigada! – E saí.
Naquele momento, encarei fixamente a blusa que havia indicado à vendedora, como se estivesse analisando e decidindo se levaria ou não, mas na verdade mal prestava atenção em seus detalhes. Prestava atenção era nas reações da própria vendedora, desde o começo da conversa. Antes de chamar minha atenção para sua barraca, ela estava conversando com uma mulher que parecia ser a vendedora da loja ao lado. Entre uma palavra e outra, virava para o corredor e direcionava a alguém um convite para comprar suas camisetas. Foi quando a questionei sobre o preço de uma delas. Respondia minhas perguntas com rapidez, mas não deixava de dar atenção para a conversa que já estabelecia com sua vizinha. Quando me virei, as duas já estavam conversando como se não tivessem sido interrompidas.
Continuei andando e observando os vendedores. Cenas parecidas se repetiram algumas vezes. Resolvi encerrar as observações quando percebi que já tinha dado mil voltas pelos mesmos corredores de vários andares. Sentia que tanto alguns vendedores quanto alguns seguranças me olhavam desconfiados por só rondar, observar e não levar nada. Acho que foi apenas uma sensação. Não sei. Só me sentia parte do ambiente quando parava em alguma das lojas e perguntava preço. Fora isso, eu era uma intrusa ali.
Para mim, aquele lugar pertencia a eles.