Dossiê: Outro Olhar

Uma crônica sobre gritos em mais de um idioma no Shopping Oiapoque.

Por Anna Cláudia Pinheiro Gomes

 

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Jovens orientais conversam sobre 我不知道 no corredor do shopping popular Oiapoque

 

Olha o pen drive! Olha o pen drive! É baratinho, moça!

Vem dar uma olhadinha, moça, do que você está precisando?

As ofertas dos vendedores do Shopping Oiapoque, no centro de Belo Horizonte, se perdiam em meio aos diversos sons. A rádio Oiapoque anunciava as ofertas da loja “Tudo junto e misturado”, enquanto o pagode que tocava naLoja do Shurek” concorria com o sertanejo que vinha da “Loja do Paulinho”.

Churros! Churros! Olha os churros!

O anúncio até parecia do Seu Madruga, mas vinha mesmo é de uma simpática senhora, que carregava uma caixa que parecia maior que ela. Na direção contrária, uma moça passava oferecendo açaí com leite ninho.

Esse sábado eu vou poder beber, minha mulher vai para o Rio!

Um vendedor desabafava com o colega ao lado sobre a mania de sua esposa em reprimir seu vício. Embora o tom fosse alto, a conversa parecia particular, mas não deixou de chamar a atenção da senhora que organizava os perfumes em um estande de beleza próximo. A roupa completamente rosa e o cabelo loiro e alisado a faziam parecer uma versão envelhecida da Barbie. O olhar de reprovação, porém, em nada lembrava a alegre expressão plastificada da boneca.

对不起,但我不会说普通话。我不知道他们谈

Era realmente difícil distinguir os sons que enchiam o shopping, mas o que ouvi ao caminhar por um dos corredores de eletrônicos superava a mistura de pop, rock, sertanejo, pagode e venda de churros do restante do espaço.

Dois jovens orientais (supus que fossem chineses, afinal, o made in china marca presença nas etiquetas dali) conversavam animadamente. O rapaz, de um lado do corredor, em uma loja que vendia óculos, mochilas, eletrônicos e diversos outros produtos; a moça, do lado oposto, encostada em uma escada. Ela subia um degrau, parava, subia outro, parava. Quando fazia menção de ir embora, o rapaz rapidamente dizia algo e a moça voltava, gargalhando, parava novamente, colocava a mão na cintura, fazia charme. Acho que ele era bom de lábia.

是好奇?好吧,我还是挺!

们都在谈论这样一个伟大的动画,使得它看起来就像是非常有趣的。

我很好奇,想知道,包括猜我是不是很谨慎,我的观察,因为他们开始看我在几分钟一个可疑的脸。

A cada passo que eu dava, as conversas em chinês aumentavam. E minha curiosidade também. O máximo de português que eles falavam era o preço dos produtos, quando perguntado. Os diálogos mais acalorados — e, provavelmente, mais interessantes —, ah, esses eram na língua deles, que eu não entendia uma palavra!

Famílias inteiras se reuniam em lojas ou andavam para lá e para cá com crianças no colo. Em um balcão, por cima do vidro que protegia capas de celular e miniaturas de carros, uma mãe colocara deitado seu bebê. Enquanto eu observava, a menininha virou os olhos puxadinhos para meu lado, atenta. Pensei que ela fosse chorar, dando sua contribuição para os sons do ambiente, mas ela apenas sorriu, e, por alguns segundos, tornou aquele bloco o lugar mais sereno do Shopping Oiapoque.