Por trás das câmeras: conheça a precarização do trabalho dos profissionais de jornalismo
Por Gabrielle Cardoso Silva
Certamente, trabalhar em uma redação é o sonho de muitos estudantes que ingressam em um curso de jornalismo. Sendo assim, qual estudante de jornal não se imaginou trabalhando em uma empresa de comunicação. Mas geralmente não se sabe o que de fato acontece nesses ambientes, o excesso de tarefas e as inúmeras horas de trabalho tornam-se uma pedra no sapato de qualquer jornalista.
Com as equipes cada vez menores, o trabalho em uma redação ficou cada vez mais exaustivo, os jornalistas precisam administrar o tempo e uma carga maior de funções. Além de apurar, entrevistar e escrever, o profissional da área também precisa saber editar e produzir.
Conforme o “Perfil dos Jornalistas Brasileiros” (2021), realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), e divulgado em novembro de 2021, a precarização do trabalho jornalístico avançou de maneira assustadora. Segundo a pesquisa, o número de profissionais CLT da área caiu de 60%, em 2012, para 45,8% no ano de 2021. Muitos jornalistas acabam tendo que trabalhar por conta própria, ou seja, acabam se rendendo aos trabalhos informais.
Consequentemente, os resultados dessa precarização do trabalho são as constantes crises na saúde mental desses profissionais, a aceitação de cargos menores e salários cada vez mais reduzidos.
Saúde mental
Outro dado muito importante é sobre as jornadas de trabalho, o número de jornalistas que trabalham mais de 8h por dia cresceu 42,2%, isso significa incansáveis horas de rotina de trabalho, o que tem um reflexo negativo na saúde mental. Consequentemente, esses profissionais se sentem cada vez mais cansados e estressados, o que gera distintos transtornos mentais.
Thiago, (nome fictício), de 25 anos, é estagiário de jornalismo de uma emissora de Belo Horizonte, 5h do seu dia ele passa em uma redação. Ele contou que sempre foi um sonho fazer jornalismo, especialmente trabalhar na área, pois sempre teve vontade de saber e aprender como funciona a rotina por trás de uma notícia.
Thiago conta que ama o que faz, pois foi isso que escolheu para sua vida. Além disso, ele se sente muito grato pela oportunidade de trabalhar na redação de uma emissora. Contudo, o excesso de funções, os plantões e a redução da equipe de trabalho o sobrecarrega, o que dificulta seu pleno desempenho.
“Trabalhar em uma redação é uma oportunidade e tanto, costuma ser bem prazeroso, especialmente para nós que ainda estamos cursando jornalismo. Tenho a oportunidade de aprender todo o processo por trás de um jornal, matéria ou notícia, mas os plantões e o excesso de tarefas em uma redação me deixam exaurido mentalmente e fisicamente”.
Não muito diferente de Thiago, Mallu (nome fictício), de 21 anos, estudante de jornalismo, trabalha em uma redação aqui da capital mineira. De acordo com ela, trabalhar em uma redação sempre foi um sonho, desde pequena já brincava de entrevistar avó e sua mãe para fazer matérias importantes para o seu jornal.
Ela contou, que no seu estágio faz de tudo um pouco, apura, edita, entrevista, faz cortes, cuida das redes sociais, produz e comanda o TP (Teleprompter), equipamento que exibe o texto a ser lido pelo apresentador.
“Eu gosto muito do meu estágio, em espacial das amizades que fiz nele, porém tem momentos que eu penso em desistir, as jornadas são bem longas e cansativas. Os plantões de fim de semana e feriados são os piores, só queria estar em casa com minha família ou me divertindo com meus amigos, mas estou dentro da redação torcendo para não acontecer algo tão catastrófico”.
Ainda, Mallu, contou que sua saúde mental piorou consideravelmente após sua rotina em uma redação. “Me sinto mentalmente esgotada, sonho com minhas férias, conciliar essa rotina com a faculdade é uma loucura. O que mais escuto é que essa é a vida de um jornalista e que devo me acostumar, porém, acho isso um pouco torturante”. Além de todas as questões de saúde mental e excesso de tarefas, os baixos salários também desanimam qualquer jornalista a seguir a profissão.
Baixas remunerações
Qual jornalista nunca sonhou em receber um salário igual ao do Willian Bonner? Pois bem, infelizmente não é isso que acontece na realidade. Um profissional da área aqui em BH, MG, ganha em média R$3.630,72 e o teto salarial do Estado é R$6.862,85, dessa maneira a média salarial fica entre os R$3.732,66 para um jornalista que trabalha 36h semanais. Consequentemente, os baixos salários e a quantidade exacerbada de tarefas são os principais motivos que levam muitos profissionais da área a pedirem demissão das redações.
Ana Clara Moreira, de 30 anos, formada há quase 6 anos em jornalismo, já teve várias experiências em meios de comunicação aqui de BH, como, por exemplo, Transamérica Hits, Alvorada FM e BandNews FM, atualmente ela é repórter política do jornal O TEMPO.
Segundo Ana, as vantagens de trabalhar em uma redação é a oportunidade de ter por perto visões diferentes sobre o mundo e poder debatê-las. Contudo, uma das principais desvantagens relacionadas a trabalhar em uma redação são os plantões de fins de semana e feriados, a quantidade de funções e óbvio o baixo salário. “As remunerações, que salvo exceções, é incompatível com o volume de demandas atendidas pelos profissionais”.
Ana Clara nota uma tendência de precarização do jornalismo. Com a chegada das redes sociais, o excesso de demanda e as poucas vagas dentro de redações, os profissionais aceitam ganhar menos, mesmo com um acúmulo de tarefas.
“Esse processo, além de se tornar um ciclo vicioso no mercado, traz uma série de consequências para a vida do jornalista, que vão desde a própria exaustão para atender às cobranças do dia a dia de uma redação, busca por serviços extras para complementação de renda e, em casos mais extremos, há quem desista da profissão”.
Apesar dos baixos salários e da precarização do trabalho, o jornalismo ainda é o sonho de vários estudantes do país. Logo, existe a necessidade de regulamentação da profissão e a união dos sindicatos de jornalistas para reivindicar melhores condições de trabalho.