Forró na Praça de Serviços acontece desde 2013 e conta com organização voluntária; confira a opinião de frequentadores
Por Luana Lira e Mariana de Brito
(Indicamos que antes de iniciar a leitura dessa matéria, clique aqui, aperte o play e aproveite a reportagem ao som de forró)
Tradicional das quartas-feiras, das 17h30 às 19h, no campus Pampulha, o forró que acontece na praça de serviços agrada a todos os públicos. Com playlists diversificadas de forró, o evento encanta diversas gerações que já passaram pela UFMG. Que a rotina universitária pode ser desgastante e cansativa, os estudantes já sabem. Com isso, em meio a tantos trabalhos, estágios, projetos de extensão e iniciação científica, é importante não deixar de cuidar da saúde mental e respeitar os momentos de lazer, fundamentais para o bom desenvolvimento social e acadêmico.
Nesse sentido, começam a ser cada vez mais valorizados eventos de descontração que acontecem no campus, geralmente, por iniciativa dos próprios alunos. Assim, surgiu, em 2013, o PicadeRRÓ.
Como tudo começou
Despretensiosamente, um grupo de estudantes que apreciava a cultura do forró observou o movimento que a música causava em um restaurante que frequentavam. Viram que sempre que tocava forró, as pessoas levantavam de suas cadeiras para dançar. Achando a ideia interessante, resolveram levar isso para a universidade em que estudavam.
Assim, 10 anos atrás nascia o PicadeRRÓ, uma iniciativa estudantil que promove encontros entre os intervalos das aulas entre o turno diurno/noturno de maneira informal, na Praça de Serviços, uma vez por semana para dançar forró gratuitamente. Pelo fato dos eventos serem abertos, os frequentadores são alunos, servidores e também entusiastas do forró sem relação com a comunidade acadêmica.
O PicadeRRÓ, desde então, não parou por aí. Nos primeiros anos contou com grande resistência da Reitoria em aceitar a nova atividade cultural nas dependências da universidade, hoje em dia, entretanto, eles não só são reconhecidos como um importante grupo da UFMG como também se tornaram uma referência de socialização nos campus. O evento também foi ampliado, acontece semanalmente no Campus Saúde, nas quintas-feiras, e os organizadores andam reavaliando a viabilidade de levá-lo para o Campus Direito.
O estilo musical principal do evento se manteve sendo o forró não só por conta da tradição, mas também por ser patrimônio imaterial brasileiro e ter um ritmo cativante, além de ser uma dança envolvente que pode facilmente ser aprendida por todos.
Atualmente, o PicadeRRÓ é um grupo comandado por voluntários. Eles organizam as redes sociais do evento e são responsáveis por fazer os encontros semanais acontecerem com tranquilidade e com frequência.
Como encontrar um parceiro de dança?
Segundo a “Cartilha do Bom Forrozeiro”, escrita pela própria organização do PicadeRRÓ e divulgada em seu Instagram, não é necessário ter conhecimento prévio sobre como dançar forró antes de frequentar o evento. Existem monitores disponíveis que podem te guiar na dança e os próprios frequentadores gostam de ajudar — o que foi comprovado na visita que as repórteres fizeram ao PicadeRRÓ.
Para encontrar um parceiro de dança, segundo a Cartilha, é só seguir alguns passos: localizar a pessoa com quem você quer dançar e segui-la com os olhos, esperar a troca das músicas e se aproximar com um pedido (caso você seja tímido é possível continuar observando fixamente até que a sua escolhida te tire para dançar).
Um fato interessante é que na possibilidade de você receber uma resposta negativa depois do seu pedido, ou de não ser tirado para dançar pela pessoa que você queria, o PicadeRRÓ indica procurar outro parceiro e seguir aproveitando o evento, nunca deixando nenhum dos frequentadores desconfortáveis.
Segundo os organizadores do evento, não é possível saber com precisão quantas pessoas frequentam o forró nas quartas-feiras em razão do grande fluxo de pessoas – que nem sempre ficam até o final. Contudo, estima-se que cerca de 150 pessoas circulem pelo evento, semanalmente, no Campus Pampulha.
O que pensam os frequentadores?
Luísa tem 24 anos e é estudante da graduação de Química na UFMG. Ela comenta que, ainda que não consiga vir em todas as edições do forró na praça, gosta de participar e frequenta desde 2017, quando começou seu curso.
“Eu danço forró desde muito pequena, por causa da minha mãe. Quando eu descobri que estava tendo forró na UFMG vim correndo conhecer o projeto e desde então venho aqui sempre que dá”, comentou Luísa, em entrevista às repórteres. Ela disse que estava no trabalho antes de ir ao forró e que o evento, para ela, simboliza descanso, já que a música é muito importante para seu lazer.
Carla, estudante de 18 anos de idade da Geologia na UFMG, se considera uma frequentadora assídua do PicadeRRÓ. “Vim a primeira vez por indicação de um amigo meu que é professor de forró e me contou sobre o PicadeRRÓ. Depois da primeira vez, não parei mais de vir”, comentou a estudante. “As quartas-feiras pra mim estão sendo horríveis por ter muita matéria em um dia só, então o PicadeRRÓ é a minha ‘esperança do fim do dia’, bem no meio da semana”, concluiu Carla, comentando também a importância do momento de descontração.
Sebastião Carlos e Matheus Henrique, 21 e 23 anos, saíram do restaurante universitário e foram direto para o PicadeRRÓ, aproveitando que a aula que teriam tinha sido cancelada. Ambos cursam Geografia no período noturno na UFMG. Sebastião contou, durante a entrevista, que frequenta todos os forrós na praça desde o ano passado, 2022, enquanto que Matheus disse estar ali pela primeira vez, inclusive, tentando aprender alguns passos de forró com o amigo de curso.
“Pra mim, é um momento de lazer. Antes da aula gosto de passar aqui e vou para a sala meio renovado”, contou Sebastião. “Acho muito bacana como o evento promove a integração com outros cursos, geralmente a gente fica mais fechado com as pessoas do nosso curso e estar aqui facilita a convivência com outros cursos e formação de novas amizades”, concluiu Matheus.
Isabela tem 17 anos e é caloura de Turismo. “A primeira vez que vim foi no meu segundo dia de aula, fiquei sabendo que tocava forró na praça de serviços dia de quarta e quis vir conferir. Cheguei aqui e fiquei muito feliz, a música, várias pessoas dançando, entrei logo dentro da roda para dançar também”, contou a caloura. “Amo o forró, no forró não tem tristeza”, comentou Isabela, “É uma dança que envolve, que te faz conhecer muita gente nova, muita gente legal, melhora seu humor”.
O PicadeRRÓ não é só forró
Os encontros semanais visam a saúde, pois a dança é um exercício físico; a socialização, já que muitos dos frequentadores formam novas amizades depois de se conhecerem no evento; a valorização da cultura nacional, pelo fato do forró ser tipicamente brasileiro; e também há um viés social.
Desde 2019 o PicadeRRÓ promove o Picadeiro Social, uma iniciativa que visa a arrecadação de alimentos não perecíveis. Todos os frequentadores que aderem ao projeto recebem mentoria individual para aprenderem a dançar forró com monitores com experiência. A troca é simples: 2kg de alimentos não perecíveis doados se tornam 25 minutos de aula na qual o doador pode escolher se quer aprender a conduzir ou ser conduzido ao ritmo do forró.
Com essa iniciativa o PicadeRRÓ arrecada semanalmente alimentos não perecíveis para projetos sociais da região, impulsionando não só o aprendizado da dança, mas também estimulando o ato de doar.
Construção coletiva
O momento de coletividade no PicadeRRÓ não se restringe às danças em dupla, também existe um esforço para que tudo seja construído de forma colaborativa, o que ajuda os frequentadores a realmente se sentirem parte do evento.
Dessa forma, durante algumas das edições, o público é convidado para ajudar a construir a playlist que será tocada por meio de uma enquete no Instagram. Isso torna o ambiente mais inclusivo, emotivo e também divertido.
Além disso, os frequentadores podem também se inscrever para fazerem parte da organização do PicadeRRÓ por meio das seleções divulgadas nas redes sociais do evento. Por ser um projeto que tem a estrutura de uma pequena empresa, pessoas das mais diversas graduações podem contribuir e somar na organização.