Transtornos causados nos últimos meses e risco de impacto em animais e pesquisas em andamento fazem com que o evento seja alvo de críticas da população e da UFMG
Por Bruno Pereira
A Orla da Lagoa da Pampulha, um cartão postal de Belo Horizonte, recebeu o título de Patrimônio Mundial durante a 40ª Reunião do Comitê do Patrimônio Mundial, em 2016. A orla com 18 quilômetros de extensão, que contou com a contribuição de personalidades como o arquiteto mundialmente conhecido Oscar Niemeyer, e do paisagista Roberto Burle Max na construção do complexo, oferece um espaço de turismo e cultura, como a Igreja São Francisco, o Museu de Arte da Pampulha, a casa Juscelino Kubitschek e a Casa do Baile, além de possibilitar a prática de corridas, caminhadas e outras alternativas de lazer de forma democrática e gratuita a todos que habitam ou visitam a capital mineira.
No entanto, a três quilômetros do marco zero da orla da lagoa, ao redor da esplanada do estádio Governador Magalhães Pinto, mais conhecido como Mineirão, o cenário é o avesso do cartão postal. Desde os primeiros meses do ano, a região vem passando por intervenções, como a poda de árvores, bloqueios e obras na pista para a construção de um autódromo no qual será realizada uma das 12 etapas da Stock Car Pro Series, na região da Pampulha. O bairro majoritariamente residencial, divide parte do espaço com um dos campi da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde estão situados 91 cursos da instituição, e por onde passam 60 mil pessoas por dia, entre alunos, professores, técnicos-administrativo e terceirizados. Além disso, a região também inclui a escola de veterinária, com animais e equipamentos sensíveis, o biotério central, com animais utilizados para pesquisas, além de uma estação ecológica com uma biodiversidade imensa.
Desde o anúncio do evento, a sociedade civil, por meio de entidades em prol do meio ambiente e associações de moradores vem questionando os impactos da realização da prova. A própria Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) alegou, em seus canais institucionais, ter sido informada sobre a prova pela imprensa, sem qualquer diálogo por parte dos organizadores. Além disso, reitera o temor pelos prejuízos que o evento acarretará à sua rotina, ao desenvolvimento de pesquisas, aos animais criados para experimentos, aos atendidos no hospital veterinário, além de impactar o acesso à espaços como o Centro Esportivo Universitário (CEU-UFMG) e ao Centro de Treinamento Esportivo (CTE), referência na formação de atletas e paratletas. Tudo isso soma-se ao transtorno pré-prova, que exige que duas portarias da universidade, a das avenidas Abraão Caram e Carlos Luz, sejam fechadas 20 dias antes da prova para realização de testes, treinos e tiradas de tempo.
No dia quatro de março deste ano, mesma data da volta às aulas na universidade, o bloqueio parcial da avenida Abraão Caram, um dos acessos à UFMG, para a poda de árvores antes de obras de asfaltamento para construção do autódromo, provocou congestionamentos enormes na região.
O contrato para a realização da etapa da Stock Car em Belo Horizonte foi costurado entre a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (BeloTur) e duas empresas privadas: a DM Corporate LTDA, do empresário Emanuel Messias Pinto Filho, e a SPEED Seven Participações LTDA, que tem como proprietário o advogado, empresário e ex-Presidente do Clube Atlético Mineiro Sérgio Santos Sette Câmara. As empresas foram designadas como patrocinadoras oficiais da etapa da capital mineira pela detentora dos direitos da Stock Car no Brasil, a Vicar Promoções Desportivas LTDA, no dia 15 de setembro de 2023. O contrato assinado no dia 7 de dezembro de 2023, prevê o investimento de 20 milhões de reais da PBH na construção do autódromo, além de assegurar 5 edições da prova, em um contrato válido por 6 anos.
Na reunião da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia realizada na ALMG para discutir sobre os impactos da Stock Car, só compareceram os representantes da UFMG. Estavam ausentes: o prefeito da cidade, Fuad Noman, o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), Gabriel Azevedo, representantes da Minas Arena, responsável pela administração do Mineirão e Sérgio Santos Sette Câmara, representante da Speed Seven Participações LTDA. Na época, foi ressaltado o impacto sonoro e ambiental da prova, não só pelo corte de árvores, como também para animais utilizados para pesquisa, uma vez que estes são sensíveis a sons a partir de 70 decibéis e cada um dos 36 carros envolvidos na prova emitem mais de 110 decibéis, o que provocaria a perda de animais para pesquisas, além de prejuízos para a estrutura de diversos espaços da universidade, em virtude da curta distância da pista, situada a menos de 50 metros dos espaços.
O contrato para a realização da etapa da Stock Car em Belo Horizonte foi costurado entre a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (BeloTur) e duas empresas privadas: a DM Corporate LTDA, do empresário Emanuel Messias Pinto Filho, e a SPEED Seven Participações LTDA, que tem como proprietário o advogado, empresário e ex-Presidente do Clube Atlético Mineiro Sérgio Santos Sette Câmara. As empresas foram designadas como patrocinadoras oficiais da etapa da capital mineira pela detentora dos direitos da Stock Car no Brasil, a Vicar Promoções Desportivas LTDA, no dia 15 de setembro de 2023. O contrato assinado no dia 7 de dezembro de 2023, prevê o investimento de 20 milhões de reais da PBH na construção do autódromo, além de assegurar 5 edições da prova, em um contrato válido por 6 anos.
Na reunião da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia realizada na ALMG para discutir sobre os impactos da Stock Car, só compareceram os representantes da UFMG. Estavam ausentes: o prefeito da cidade, Fuad Noman, o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), Gabriel Azevedo, representantes da Minas Arena, responsável pela administração do Mineirão e Sérgio Santos Sette Câmara, representante da Speed Seven Participações LTDA. Na época, foi ressaltado o impacto sonoro e ambiental da prova, não só pelo corte de árvores, como também para animais utilizados para pesquisa, uma vez que estes são sensíveis a sons a partir de 70 decibéis e cada um dos 36 carros envolvidos na prova emitem mais de 110 decibéis, o que provocaria a perda de animais para pesquisas, além de prejuízos para a estrutura de diversos espaços da universidade, em virtude da curta distância da pista, situada a menos de 50 metros dos espaços.
Entre os presentes na reunião, estava o Diretor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO), Gustavo Pereira Côrtes, que disse que as imagens veiculadas pela imprensa davam a impressão de que a montagem do autódromo e a realização da Stock Car poderiam se tratar de um teste do circuito, que uma vez aprovado, poderia servir de pretexto para a vinda de outros eventos automobilísticos para a cidade.
Contradições
Apesar das críticas recebidas, os patrocinadores, afirmam recorrentemente para a 98 FM e para a Rádio Itatiaia, que o evento será um sucesso e que trará impactos econômicos vantajosos para a cidade, chegando a citar, inclusive, um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), que sem publicar o estudo para consulta pública e nem revelar a metodologia adotada, afirmou que a realização da prova poderia gerar uma receita de até 1 bilhão, em cinco edições da prova, dados contestados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (IPEAD), da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG.
O contrato com a prefeitura já estava assinado desde o dia 7 de dezembro, segundo extrato do contrato disponível no Diário Oficial do Município. Mas, apesar de afirmarem que avisaram a UFMG sobre a realização da Stock Car com antecedência, Sérgio Santos Sette Câmara conta em entrevista que teve uma reunião com a Reitora Sandra Regina Goulart apenas dia 16 de janeiro de 2024. Em entrevista realizada em março, para o mesmo veículo, a Reitora reclama que a UFMG não foi consultada sobre a viabilidade da realização do evento na região, alegando que faltou um diálogo prévio.
Outro Lado
Os responsáveis pelas empresas DM Corporate LTDA e Speed Seven Participações LTDA foram contatados por telefone e e-mail, respectivamente, que não forneceram esclarecimentos sobre as questões levantadas. O Assessor do evento também foi contatado, não respondeu perguntas e bloqueou o jornalista.
Desdobramentos
No dia 29 de março de 2024 a UFMG, junto à Advocacia Geral da União (AGU), ajuizou uma Ação contra as empresas Speed Seven Participações LTDA, DM Corporate LTDA e Município de Belo Horizonte, tentando impedir a realização da prova, sob alegação de Dano Ambiental. Em despacho da juíza Adriane Luísa Vieira Trindade, da 1º vara cível de Belo Horizonte, em 12 de julho, ficou determinado que os organizadores da prova da Stock Car apresentassem em 10 dias uma proposta de mitigação dos impactos acústicos da corrida.
Em outra ação da Universidade, agora junto do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), protocolada em 4 de julho de 2024, a UFMG vem tentando o cancelamento da prova. Em despacho proferido pelo desembargador federal Lincoln Rodrigues De Faria, no dia 24 de julho de 2024, o pedido de cancelamento dos preparativos da prova foi negado. No dia 26 de julho a AGU entrou com pedido para que Lincoln reconsidere a decisão, ainda sem uma definição.
Um novo despacho foi proferido pela juíza Adriane Luísa Vieira Trindade no dia 12 de agosto, após um pedido de tutela de urgência do Ministério Público Federal (MPF), realizado no dia 9 de agosto. A decisão impede a realização de treinos para a prova, até que as medidas de mitigação acústica necessárias à proteção da saúde dos animais que habitam o Hospital Veterinário e os biotérios sejam implantadas de forma integral. A juíza solicitou ainda que seja feito um acompanhamento sonoro durante a realização da prova. A empresa designada para o serviço foi a AECOM.
Até a publicação desta reportagem a prova segue mantida, com preparativos ainda sendo feitos, e com bloqueios que vem afetando o tráfego na região, além de outros transtornos. Uma vez realizada a prova, cabe questionar como o espaço público pode ser apropriado por empresas privadas, mesmo com fortes questionamentos por parte da população.
* Reportagem produzida na disciplina Laboratório de Produção de Reportagem sob supervisão da professora Dayane do Carmo Barretos