Por que os atletas da AAFAFICH são chamados de tilelês? Como eles estão se saindo na décima edição do Inter UFMG?
Por Natália Oliveira
“Eu sou FAFICH, eu sou legal, eu uso droga e sou bissexual” é o famoso canto entoado pela torcida da Associação Atlética da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (AAFAFICH) na beira de quadra. Os atletas, que se orgulham em serem chamados de tilelês, estão atualmente disputando o Inter UFMG contra outras 13 atléticas de perfis bem diferentes. O campeonato está há 10 anos promovendo a integração entre as atléticas de todos os prédios da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com a disputa de esportes coletivos e individuais.
A caneca oficial da AAFAFICH contém o escrito “#VEMSERTILELÊ”, o mesmo está escrito nos cartazes colados pelo prédio convocando os alunos a se inscreverem para a atlética. Mas, afinal, de onde veio isso?
Segundo o dicionário informal, o tilelê é “uma espécie de hippie contemporâneo. Geralmente gosta de astrologia, drogas alucinógenas, filosofias e crenças alternativas, etc. Usa roupas e acessórios que remetem a culturas africanas, orientais e indígenas. Muito comum em universidades”.
Segundo Clarice, licenciada em história, ex-atleta ativa da AAFAFICH e atual treinadora do time de basquete, o adjetivo tilelê foi utilizado por muitos anos como uma forma pejorativa para se remeter aos alunos da FAFICH. Para ressignificar o conceito a diretoria decidiu utilizá-lo para mostrar que “eu sou tilelê e eu tô aqui ocupando esse espaço do esporte”. Ela destaca que o movimento foi importante para mostrar que “a nossa missão e valores é de ser inclusivo”.
Complementando esse pensamento, Júlia Pimenta, mestranda em psicologia do esporte, comentou que “tem uma ideia de que tilelê não sabe jogar esporte e a ideia da AAFAFICH sempre foi trazer essas pessoas pro esporte, mostrar que essas pessoas também podem jogar esporte e que poderíamos fazer times muito unidos e fortes”. Além disso, ela ressalta a importância do esporte como forma de manutenção da saúde mental, como propõe a Organização Mundial da Saúde (OMS), e cita um exemplo pessoal de que a maioria de suas amizades ao longo da graduação foram feitas no ambiente esportivo.
Participação da AAFAFICH no meio esportivo universitário
A Atlética da FAFICH surgiu em 2013, completando já seus 10 anos, mas não é muito reconhecida no meio do esporte universitário. Segundo a presidenta, Michele Abreu, estudante de publicidade e propaganda, é um fato que o movimento de atlética está começando a se expandir agora em todo o ambiente universitário, principalmente dentro da área de Ciências Humanas. Em relação às atléticas tradicionais no meio ela comenta que “é um fato que outras atléticas como da Engenharia, Direito e Medicina são mais competitivas e tenham uma presença mais forte no âmbito acadêmico, mas isso vai do próprio interesse dos estudantes desses centros na prática esportiva, eles costumam vir de um contexto que proporcionou uma maior vivência com os esportes”.
Apesar de ser um prédio com muitos cursos, é sabida a dificuldade da AAFAFICH em formar times completos para todas as modalidades. No jogo de handebol feminino, disputado no dia 30 de abril, pelo Inter UFMG, a frase mais ouvida no pré jogo foi “Olha amiga se precisar entrar eu entro, mas eu não sei jogar não”. O mesmo aconteceu no jogo de basquete poucas horas mais tarde, no qual foi possível observar meninas utilizando tênis de corrida e chuteiras para a partida.
Mas esse é um problema observado em várias atléticas novas da UFMG. Em conversas com outras atletas pelo Centro Esportivo Universitário (CEU) foi possível perceber que o mesmo acontecia na AAFAB (farmácia e biomedicina) e também na AAFO (odontologia). Segundo a presidenta da AAFAFICH, parte da responsabilidade dessa desordem é da própria universidade. Falando sobre o caso da AAFAFICH, ela comentou que “não há nenhum auxílio da reitoria ou direção dos prédios, o máximo que conseguiram disponibilizar foi a salinha [para armazenamento e/ou venda de produtos e materiais esportivos], mesmo assim temos que lidar anualmente com a burocracia de nos regularizar quanto à FAFICH. Não temos auxílio quanto a verba, sendo que esporte é um custo bem oneroso. Felizmente temos o CEU, uma boa estrutura esportiva que estudantes da UFMG podem utilizar, mas ele também não atende a todas modalidades e tem quase nenhum investimento novo em estrutura. Logo, sempre tentamos fazer o máximo com o mínimo que recebemos”.
Para o fortalecimento da AAFAFICH no âmbito do esporte universitário, a diretoria tem ocupado mais o seu lugar dentro do prédio, por exemplo, abrindo as portas da salinha que ficaram fechadas desde a pandemia até 2022. Além disso, estão se fortalecendo nas redes sociais e participando de atividades junto aos CAs e DAs para promover a integração. Quanto a eventos, anualmente é realizada a Fafiesta pela própria diretoria para a recepção de calouros. Além disso, os faficheiros têm a oportunidade de participar dos Jogos LIU, um evento que reúne universidades de oito estados para competir em esportes coletivos e individuais e festejar em mega festas com shows de artistas com renome nacional. “Esse tipo de ação nos aproxima dos estudantes que passam a ter um maior contato com a AAFAFICH, conhecendo melhor sobre o movimento e até demonstrando interesse para entrar nas modalidades ou diretoria”.
Participação no Inter
O Inter UFMG não aconteceu no ano passado devido à falta de tempo para planejar o evento que costuma iniciar sempre em abril. Em sua primeira participação no pós pandemia, a AAFAFICH já está classificada para a próxima fase no handebol feminino e masculino, futsal feminino e masculino, vôlei masculino e basquete feminino. Os tilelês ainda irão disputar vôlei de praia, futvôlei, judô, jiu-jitsu, atletismo, natação, sinuca, pebolim, futmesa, cheer e bateria. Infelizmente, o time de basquete masculino foi eliminado na fase de grupos. Ainda restam as divulgações dos resultados da peteca, tênis de mesa e vôlei feminino.
Apesar da importância do bom desempenho esportivo, a presidenta ressaltou, também, que a participação no Inter UFMG é “uma forma de aproximar nossa atlética das outras e também oferecer um ambiente competitivo para os nossos atletas”. Dessa forma, “eles podem ser estimulados a treinarem mais para subirem de nível e enfrentar novos desafios”.