Paixão por games que vai muito além dos gadgets
Nem mesmo a estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo de Futebol da FIFA 2018, na Rússia, foi capaz de desanimar os milhares de fãs que compareceram ao Mineirinho para vibrar com um jogo online de tiro: o Counter-Strike: Global Offensive. No maior evento do tipo já realizado no Brasil, a torcida, vinda de diversas cidades e países, vibrou em cada lance dado por oito das melhores equipes de CS:GO do mundo.
Mais de sete mil pessoas estiveram presentes em cada dia do campeonato, que aconteceu de 15 a 17 de junho de 2018. Numa disputa por prêmios que somaram US$ 200 mil dólares, os torcedores vestiram a camisa e foram ao estádio para se encontrarem com amigos, verem os seus ídolos, pegarem autógrafos, comprarem produtos ligados aos times e ao universo dos jogos, dentre outros motivos.
A equipe da Transite também marcou presença para conhecer de perto o evento, entender melhor os e-sport e descobrir afinal quem são os torcedores que compõem essa torcida que fez bonito em Belo Horizonte.
Mas afinal, o que é CS:GO?
O Counter-Strike: Global Offensive é um jogo online de tiro em primeira pessoa multiplayer lançado em 2012 pelas empresas estadunidenses Valve Corporation e pela Hidden Path Entertainment. O jogo faz parte de uma sequência de jogos Counter-Strike que se iniciou em 1999, ainda na época do boom das lan houses pelo mundo. Veio trilhando um caminho de sucesso com várias versões ao longo dos anos e foi o jogo mais vendido pelo site da Valve no Brasil em 2015, de acordo com dados do site SteamSpy.
O Counter-Strike se passa num cenário de disputa entre times de terroristas e contra-terroristas que batalham entre si, realizando um ato de terror (explodindo bombas, fazendo reféns) e prevenindo-o (desarmando bombas, resgatando reféns). Envolve estratégia, tática, comunicação e articulação entre as equipes. E o CS:GO provavelmente teve mais destaque ainda por trazer novidades como a possibilidade de os usuários fazerem upload de conteúdo colaborativo, tais como mapas, armas, e cenários de jogo personalizado. Quando um usuário faz upload de uma skin (revestimento de arma), que é depois revendido pela plataforma, parte da renda gerada é repassada aos criadores do recurso.
Segundo o site da ESL, “para o Brasil, o Counter-Strike é mais do que apenas um jogo. Há um sentido de comunidade e de família que foi construído ao longo dos últimos anos.” O jogo mobiliza um coletivo que se forma em torno das transmissões de partidas e de jogadores que se tornam mundialmente conhecidos e se profissionalizam na área. Mas é principalmente pelos campeonatos que acontecem em todo o mundo e movimentam fãs presenciais e também nas transmissões pela internet que o CS:GO chama a atenção. Os campeonatos são transmitidos geralmente nas plataformas de streaming do YouTube e Twitch TV, e, a partir de 2018, também através do Facebook. Esse universo mobiliza toda uma indústria ligada e essas competições, além dos jogadores, narradores, comentaristas, dentre outros personagens que se profissionalizam e se especializam em CS, tornando-se celebridades que encantam fãs no mundo todo.
E então, o que foi o ESL One Belo Horizonte?
Anunciada em 28 de março de 2018, a ESL One: Belo Horizonte foi a primeira edição de um dos mais prestigiados eventos de CS:GO na América Latina. Realizado pela Electronic Sports League (ESL), o ESL One começou em 2014, com a primeira edição sediada em Colônia, na Alemanha, sua sede principal. Desde então, a competição já teve 20 edições, realizadas em cidades como Nova Iorque, Birmingham, no Reino Unido, Katowice, na Polônia, entre outras. E foi um sucesso, principalmente quanto ao público, já que os 10.941 ingressos para a edição belo horizontina se esgotaram. Segundo Leo De Biase, CEO do ESL, o resultado do evento foi muito positivo, com grande interação e engajamento do público, até mesmo com a participação de quem assistiu as transmissões de casa. “Foram três dias de arenas insanas. Os times estão muito felizes”, disse De Biase. Vale destacar que o CEO, além de ser brasileiro, joga Counter Strike e gosta de jogos de tiro em geral. Ele considera que videogame está em seu DNA e já anuncia, animado, que há planejamentos de novos eventos no Brasil para Rio de Janeiro em novembro (a final da Pro League Rainbow Six), e que está em negociação para trazer novos eventos para o Brasil em 2019.
As equipes participantes da competição foram as convidadas SK Gaming, Mousesports, FaZe Clan, Team Liquid; e as classificadas Torqued, BIG, Space Soldiers e NTC (Não Tem Como). Estas últimas quatro equipes foram classificadas a partir das qualificatórias norte-americana, sul-americana e europeia. Grande parte do público foi torcer pelos brasileiros, que estiveram em três desses times: SK Gaming, NTC, que foi a estreante brasileira em eventos presenciais, e Team Liquid. Mas a torcida, em geral, era maior pela SK, equipe que tinha o jogador Coldzera como líder e estava no topo do ranking da HLTV, TV criada pela empresa Valve para transmissão de campeonatos.
E quem levou a melhor foi a equipe europeia FaZe Clan, faturando o prêmio principal de US$ 100 mil dólares. Eles entraram vestidos com a camisa da seleção canarinho e segurando a bandeira brasileira e tiveram o apoio da torcida na final.
E os torcedores? Vamos (tentar) conhecê-los um pouco?
Conversamos com alguns torcedores e abaixo você vai conhecer um pouco sobre o que os levou ao evento e como eles se relacionam com o universo dos jogos. Encontramos pessoas com diferentes perfis, jogadores e não jogadores de CS:GO, muitos adolescentes e jovens, e histórias interessantes de suas relações com os jogos.
Seja também um jogador e tente descobrir quem é quem nesse jogo de perfis dos torcedores do ESL One Belo Horizonte:
Quiz criado por Bruno Esteves com GoConqr
Clique e conheça alguns torcedores
No ESL One, por conta da idade do público, as bebidas mais vendidas eram refrigerante e água. “Se fosse futebol, com certeza já estaria uma turma aqui bebendo, nem cerveja eu teria mais (risos)” finalizou a vendedora que ficou sabendo do evento enquanto trabalhava na feira do Mineirinho. Mais deslocado ainda, estava o José Carlos tentando vender camisas da seleção brasileira de futebol. Também sem saber nada sobre o que erroneamente chamou de “Strike”, ele foi até lá com a esperança dos torcedores quererem comprar alguma camisa ou bandeira mas se viu frustrado com o interesse quase nulo do público. Pra ele, mesmo com a Copa do Mundo, os torcedores estão traumatizados após o 7×1 contra a Alemanha na Copa de 2014 (que aconteceu ao lado do Mineirinho, no Mineirão). Se já é difícil vender uma camisa da seleção após o 7X1 em um jogo de futebol, imagina em um campeonato de Counter Strike…
Conhecendo o CS:GO – Um espectador de CS apresentando o jogo para uma total noob
Pedro: Boltz? Torcedor: É, aquele gordinho. Pedro: O de blusa preta? Torcedor: (Pergunta com uma cara desconfiada) Porra, mano. Cê é media do evento e não conhece o Boltz? Pedro: (Responde envergonhado) Não.
Imagens ESL One Belo Horizonte 2018
As comemorações no encerramento do campeonato
Reportagem