Falta de organização no funcionamento dos bandejões prejudica estudantes

Por Melissa de Souza

Retomada de aulas e atividades presenciais na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) gera superlotação nos restaurantes universitários (RU) no início do semestre letivo de 2022. Desde o dia 28 de março, filas desproporcionais têm se formado frente aos restaurantes, ocasionando complicações para os estudantes que optam almoçar e jantar nos restaurantes. Desgaste e atraso em compromissos são algumas dificuldades encontradas pela comunidade universitária ao enfrentar filas enormes. Alunos de diversos cursos se manifestaram nas redes sociais e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG levantou algumas soluções para resolver a questão.

Os restaurantes universitários da UFMG sempre viabilizaram uma alimentação saudável e de qualidade aos estudantes e à comunidade de maneira mais acessível. A Fundação Mendes Pimentel (FUMP), que organiza os restaurantes, também nivela alunos com vulnerabilidade socioeconômica, possibilitando até mesmo o acesso gratuito a estas refeições. Devido às vantagens em consumir no popular “bandejão”, a quantidade de pessoas que se direcionam aos restaurantes nos horários de almoço e janta é grande. Com o retorno presencial, houve um aumento considerável na procura pelos restaurantes, sobrecarregando o serviço ofertado.

Fila no Restaurante Universitário Setorial I (Imagem: Melissa Souza)

Perspectiva dos estudantes

Devido ao funcionamento irregular, diversos alunos sentiram-se prejudicados e foram submetidos a condições desagradáveis que tornaram a experiência de viver a universidade pública e ter uma boa alimentação um grande incômodo. Muitos alunos que se utilizam dos bandejões para poupar o tempo de cozinhar para si próprio estão desistindo de consumir nos RUs, como é o caso de Pedro Oliveira, estudante de jornalismo.

“O preço é excelente e há praticidade tanto em tempo, quanto em deslocamento, mas se eu tiver que esperar mais de 30 minutos para comer, compensa ir para casa e fazer algo para comer lá para evitar fadiga e cansaço”, relata.

No entanto, aqueles que não possuem outra opção senão aguardar, acabam passando por aborrecimentos. Dentre as principais queixas dos universitários está a demora no atendimento dos caixas. Além do longo tempo de espera nas filas causarem atrasos em aulas e compromissos, os RUs não possuem estrutura para comportar tantas pessoas do lado de fora, fazendo com que estudantes cansados e com fome esperem cerca de 20 minutos embaixo de sol. A falta de bebedouros externos também é citado por muitos como insatisfatório. Para a estudante Yasmin Lombardi, a situação é prejudicial principalmente no jantar, que antecede suas aulas.

“Quando fico na fila o que mais prejudica é ter que comer rápido com medo de atrasar para a aula e perder algo importante, além de ter que ficar esperando com fome e, às vezes, cansada, porque no horário do jantar, por exemplo, o dia já está quase acabando. É muito frustrante para as pessoas que estão voltando da pandemia e querem ter uma experiência universitária completa, ter que enfrentar essas filas”, conta a aluna.

Ao ser questionado sobre o funcionamento dos restaurantes universitários, Pedro conta sobre sua perspectiva. Para ele, a falta de organização acaba sendo prejudicial no sentido de lhe tomar um tempo em que poderia se dedicar a atividades acadêmicas ou extra curriculares, mas os benefícios trazidos pelo bandejão se sobressaem.

“É difícil não enxergar essa situação enquanto estudante, visto que sou um. Não me parece um descaso da FUMP ou da própria universidade. Acho que é uma má organização e compreendo que depois de dois anos afastados o volume de estudantes querendo viver e reviver os restaurantes é enorme. A logística precisa realmente melhorar para atender a demanda”, disse. 

Acontecimentos recentes

As filas são ainda mais demoradas para aqueles que realizam o pagamento por cartão, uma vez que o processamento das máquinas de cartão levam um tempo a mais do que o troco no dinheiro. Apesar dessa fila ser menos utilizada, com um número menor de pessoas, ela é a mais demorada.

No dia 6 de abril, os restaurantes universitários do campus Pampulha anunciaram que a partir do dia 7 de abril o pagamento através de cartão estaria suspenso por tempo indeterminado. A providência trouxe ainda mais queixas dos estudantes, pois ao invés de solucionar os problemas do bandejão, acaba retirando uma opção mais viável para muitos estudantes.

Diante da situação, o DCE se posicionou contra a dinâmica que estava sendo feita e se manifestou em prol de um retorno com permanência, para que estudantes consigam se manter na universidade. A organização, que representa os estudantes de graduação e pós-graduação, formulou algumas propostas para a Reitoria da UFMG:

  • Aumentar a quantidade de caixas de atendimento;
  • Comprar mais impressoras de carteirinhas e realizar mutirões nas unidades;
  • Aumentar o tempo de funcionamento do bandejão;
  • Colocar bebedouros nas filas e fila única para quem é gratuitidade;
  • Instaurar sistema de créditos nas carteirinhas para agilizar o pagamento nas catracas ou realizar venda prévia de tickets como solução temporária.

Além da Reitoria da UFMG, as questões também foram levadas para a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) e para a FUMP. O DCE-UFMG também criou um abaixo-assinado online que foi protocolado com mais de 24 páginas de apoio dos estudantes. O documento foi entregue à Reitoria no dia 7 de abril, exigindo a solução dos problemas supracitados. Também foram criadas as hashtags #ReitoriaDiminuiAFila, #RetornoSóComPermanência para impulsionar o movimento nas redes sociais.

A desaprovação e a baixa eficácia da medida fez o pagamento através do cartão retornar, porém, as demais exigências não foram solucionadas, mesmo com a atuação de organizações estudantis. Após mais de um mês de retorno presencial, os restaurantes continuam com os mesmos problemas e sem previsão de melhoria. As filas enormes permanecem, com pouca sinalização e organização e dentro do restaurante é nítido a falta de funcionários para dar conta do volume de usuários do bandejão.

Atuação da FUMP

Ao conversar e entrevistar alguns estudantes é perceptível que todos têm muitas ideias e propostas sobre o que pode ser feito para melhorar o funcionamento dos restaurantes universitários da UFMG. Por outro lado, ao entrar em contato com a assessoria de comunicação da FUMP e questionar sobre a viabilidade das sugestões dadas pelos alunos, foi esclarecido que algumas ações já foram ou estão sendo tomadas e, que outras, são inviáveis.

A fundação informou que a implementação do pagamento via Pix, por exemplo, está fora de cogitação, pois, diferente das máquinas de cartão, que geram um relatório no final do dia contabilizando todas as entradas no caixa, o pagamento instantâneo não permite esse controle. Contudo, há um projeto de instalação de uma carteirinha universitária recarregável, na qual os estudantes poderão carregar com o valor que desejarem, facilitando a entrada nos RUs. Ainda não há previsão para o projeto ser colocado em prática.

Outro cenário tem sido acerca da comida do bandejão, em que muitos estudantes relataram nas redes sociais sobre objetos encontrados nas refeições, como pedras, pedaços de plástico e larvas. Em relação às queixas dos estudantes sobre a situação das filas e sobre as polêmicas recentes acerca da comida, a assessoria também se pronunciou. Foi ressaltado que os problemas só poderão ser solucionados se os estudantes realizarem reclamações formais, para que seja feito o monitoramento oficial.

Em casos como esses, os alunos devem enviar as reclamações formais, anexando fotos e/ou vídeos do ocorrido para o e-mail comunica@fump.ufmg.br ou através do “Fale conosco” no site da instituição. A FUMP solicita, ainda, que os estudantes façam a ampla divulgação dessa informação, uma vez que a partir das reclamações documentadas, medidas serão tomadas, mas, que até o momento, pouquíssimos relatos chegam até eles pelos meios de comunicação formais.

Além disso, a assessoria esclareceu que não houve corte de verbas ou de funcionários, e que, ao contrário, foram contratadas mais pessoas no início do semestre letivo e que a instituição ainda está recrutando outros servidores. A contratação também se dá por mais um projeto da FUMP, que é a reabertura do segundo andar do restaurante setorial II.