crowdfunding é cada vez mais popular em Belo Horizonte. Conheça as origens deste modo de financiamento e descubra um dos espaços mais descolados da cidade erguido pelo financiamento coletivo: a benfeitoria.

 

“Coletivo” é uma palavra em voga. Na contramão dos acusadores da tecnologia como aparato individualizante, estes tempos de internet coincidem com grandes manifestações populares nas ruas e efervescência de movimentos e projetos culturais realizados em conjunto.

Todo mundo tem aquele amigo altamente conectado de quem já ouviu pelo menos uma vez a palavra crowdfunding. Se for um amigo mais adepto ao “aportuguesamento”, então “financiamento coletivo”. O crowdfunding (crowd de multidão, funding de financiamento) é a união de várias pessoas, geralmente anônimas umas para as outras, que contribuem financeiramente para dar forma a algum projeto. É o famoso chapéu que circula numa roda e em que cada um coloca uma moedinha. Coisa velha.

Velha mesmo. A Estátua da Liberdade foi uma que rodou o chapéu pelos Estados Unidos. À época da construção da escultura, na década de 1880, ainda faltava um pedestal para apoiá-la. E ele foi conquistado aos poucos por meio de uma campanha de financiamento coletivo elaborada pelo jornal The New York World, que trocou pequenas réplicas da estátua pela contribuição financeira de cidadãos. Se existisse internet na época, é fácil imaginar que toda a verba seria arrecadada em um dia.

Pois hoje, quando quase 40% da população mundial têm acesso à internet, o financiamento coletivo se tornou algo corriqueiro, embora nem um pouco banal. No lastro de sucessos como o site Catarse, a primeira e mais bem-sucedida rede de crowdfunding do Brasil, surgiu nas terras belo-horizontinas a Variável 5. O projeto, iniciado em 2012, define-se como uma “plataforma de financiamento coletivo, uma agência de comunicação e uma produtora cultural”, e apoia exclusivamente iniciativas culturais.

Foi nesse site que a equipe da benfeitoria encontrou seus 191 contribuidores. Hoje, a casinha dos anos 1970 na rua Sapucaí, bairro Floresta, é uma referência na cena alternativa de BH. Sabe aquele seu “amigo altamente conectado de quem todo mundo já ouviu pelo menos uma vez a palavra crowdfunding”? Ele com certeza já foi lá. E provavelmente contribuiu para o lugar existir.

Fachada da benfeitoria, no bairro Floresta.

Fachada da benfeitoria, no bairro Floresta.

 

De grão em grão

 

O espaço que é hoje a benfeitoria já tinha um caráter coletivo ainda antes da fundação oficial do espaço. Até 2014, a casinha no bairro Floresta funcionava como local de trabalho para cinco pequenas empresas, todas envolvidas com a indústria criativa.

Essa indústria é hoje responsável por 2,6% do PIB brasileiro, o que corresponde a mais de 126 bilhões de reais. Em 2013, o Brasil contava com quase 900 mil profissionais ditos “criativos”, ou seja, aqueles cujo trabalho é basicamente o manuseio de símbolos. Apenas um entre cada cinco deles, contudo, atuava diretamente com projetos criativos, e não na “indústria clássica”.

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Infelizmente, “vender arte na praia” não é uma opção em BH. De qualquer forma, a benfeitoria recebe de braços abertos exposições em diversos formatos dos artistas da cidade.

Os oito amigos que se reuniam no número 153 da rua Sapucaí fazem parte desse um quinto de profissionais que atuam diretamente na indústria criativa. Desenvolvendo desde luminárias a corantes para tecidos, sempre com um olho no design, eles utilizavam o espaço como ambiente de coworking. Isso quer dizer que dividiam o aluguel e as paredes, mas realizavam trabalhos diferentes uns dos outros. O que não impedia que um palpite aqui e ali, surgido da porta ao lado, transformasse o resultado final das cinco empresas em algo colaborativo.

Usar o espaço como escritório, porém, não bastava. E foi com a ambição de abrir as portas do lugar para a comunidade belo-horizontina que, em julho de 2014, o grupo lançou-se nas mãos de BH na Variável 5, pedindo R$20 mil para a reforma da casa que ocupavam. Em troca de contribuições de R$10 a R$8 mil, os participantes receberiam uma série de brindes, como camisetas e cartazes.

Fotos da exposição Sentimentologia: entre cores e sentimentos

Fotos da exposição “Sentimentologia: entre cores e sentimentos”, idealizada pelo coletivo Cromasomos.

 

Mas tanto dinheiro para ganhar um cartaz? Na verdade, para receber um espaço de convivência criativa, aberto de quarta a sábado, onde são realizadas festas, oficinas de arte e troca de experiências.

191 pessoas se empolgaram com a ideia e levantaram R$ 23 mil. No dia 17 de agosto de 2014 estava certo: existiria uma benfeitoria em Belo Horizonte.

 

Os benfeitores

 

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A meia luz dá o tom de permanente exposição de arte ao lugar.

Quase duas centenas de pessoas contribuíram para a fundação da benfeitoria, e hoje quase a mesma quantidade de gente passa por ela nas noites de quarta-feira a sábado.

Ouvimos alguns dos participantes do financiamento coletivo do projeto, que nos explicaram o porquê de terem decidido contribuir e um pouco do que pensam sobre esse tipo de iniciativa.

 

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Gabriel Rodrigues

Nem benfeitor, nem artista alternativo, mas feliz com o financiamento coletivo crescendo em BH.

Maria Eduarda Gambogi

Amo bares e cultura e tudo o que é bem feito.