Após as diversas perdas, veio a reviravolta: aprendi a vencer as casas de apostas

Por Arthur Donovan


Da próxima vez que passar pela televisão e notar que está sendo transmitido um jogo de futebol, preste atenção nos patrocinadores e note que a maioria esmagadora são casas de apostas. O mercado de apostas esportivas cresce exponencialmente no Brasil, de acordo com estimativa do portal BNL Data é esperado que o ramo fature R$12 bilhões no país, um aumento de 71% em relação aos ganhos de 2020.

Tendo em vista esse cenário fica difícil acreditar que há pessoas que conseguem viver disso. E realmente, a porcentagem de apostadores que de fato ganham da casa é mínima. A maioria das pessoas enxergam como uma atividade esporádica que pode ou não render algum lucro, e é assim que perdem dinheiro.

Porém, nesse meio onde o entusiasmo e a emoção se misturam com a possibilidade de ganhos monetários substanciais, há aqueles que buscam ir além do simples entretenimento e se aventuram no caminho de se tornarem apostadores profissionais.

Imagem: Divulgação

Diferente dos jogadores casuais, o apostador profissional enxerga além da sorte, dedicando tempo e esforço para estudar as nuances do universo dos jogos de azar. Com uma abordagem analítica e disciplinada, esses indivíduos buscam identificar padrões, explorar probabilidades e tomar decisões embasadas em sólidos conhecimentos.

Meu nome é Arthur Donovan e, nessa reportagem, pretendo mostrar todo o caminho que percorri até me inserir nesse meio e me tornar um apostador profissional.

Início conturbado

No começo, eu era igual a todas aos outros apostadores iniciantes, com o ego enorme e a certeza de que poderia ser esperto o suficiente para derrotar a casa de apostas e os milhares de profissionais que estão por trás dela. 

Por incrível que pareça, no começo eu até consegui extrair algum dinheiro, porém, hoje entendo que isso não foi fruto do meu conhecimento, mas sim resultado de uma quantidade elevada de sorte. O perigo que ronda os apostadores amadores é esse, experimentar vitórias surpreendentes os faz pensar que são capazes de vencer a casa de apostas e essa sede de conseguir dinheiro com algo que você gosta precede a sua ruína.

Após esse começo bom, vieram as derrotas frustrantes. Meu dinheiro foi embora e eu não estava satisfeito, colocava mais alguns reais na esperança de que minha sorte voltasse. É claro que não deu certo, perdi tempo, perdi dinheiro e adquiri um certo vício que não ajudou em nada na minha vida (até aquele momento).

A virada de chave

Depois de perder dinheiro diversas vezes, eu pensei em finalmente parar. É aí que entra meu amigo Yan, o maior responsável pela minha virada de chave nas apostas esportivas. Nós já fazíamos apostas juntos, mas daquela maneira insustentável que descrevi anteriormente. Quando eu cansei de ficar frustrado com as perdas, o Yan estava em um processo de aprendizado sobre maneiras e métodos para vencer as casas de aposta. Ao ver isso, eu decidi embarcar junto com ele nessa árdua caminhada.

Não foi de um dia para o outro e muito menos fácil. Em meados de fevereiro, nós começamos a estudar e entender como realmente funcionam as casas de apostas e por que é tão difícil extrair lucro delas. Como é de se imaginar, esse caminho é repleto de números, fórmulas e equações. Por cursar jornalismo e estar mais familiarizado com cursos de humanas, no começo fiquei extremamente inseguro e em dúvida sobre a minha capacidade.

Vamos simplificar. Primeiramente, para extrair lucro da casa você precisa de um método, escolhemos um conhecido e relativamente básico chamado de método comparativo de odds. Basicamente, consiste em comparar quanto as casas oferecem para determinada aposta e escolher a casa que paga mais. Não vou entrar nas diversas nuances que envolvem o nosso método, o que importa é que estava dando certo. Sim, pela primeira vez conseguimos extrair valor da casa sem apostar na aleatoriedade, estávamos seguros e utilizando conhecimentos concretos para realizar nossas apostas.

O segundo passo foi validar o nosso método. Isto é, você não pode afirmar que o seu método funciona se você não tiver um volume de apostas considerável para embasá-lo. Pois então, decidimos que íamos fazer aquilo e começamos a focar de verdade em apostar dia e noite. É aí que entra o principal desafio do apostador profissional, o psicológico. Conversei com alguns apostadores profissionais sobre o principal desafio que enfrentaram na trajetória deles e as respostas coincidem:

“Inicialmente, o fator psicológico é o maior, ter a paciência e confiança, que, por exemplo, em um momento de “prejuízo”, a maré de azar irá passar e seremos lucrativos novamente.

Yan, apostador profissional e dono da página “DV Tips”

“Acho que o maior desafio de um apostador, é ter psicológico pra lidar com os ganhos e, SOBRETUDO, perdas. Não existe método e gestão de banca sem psicológico, esse vem em primeiro, antes de absolutamente tudo. E todo dia é uma luta pra ter esse controle. Depois que você compreende que o mercado tira dinheiro do bolso dos impacientes e coloca no dos pacientes, você começa a entender como realmente funciona a coisa.”

Malone, apostador profissional e dono da página “BetMalone”.

As palavras deles são perfeitas na minha concepção. Nesse começo, foi muito difícil entender que o método não era infalível, ou seja, nem sempre eu iria ganhar. Inclusive, depois desse começo bom, tivemos uma sequência muito ruim que nos deixou negativos financeiramente em relação ao dinheiro que tínhamos colocado na casa de aposta. Mas não nos deixamos abalar, continuamos firmes no nosso propósito de fazer das apostas mais do que um mero passatempo. 

Após o primeiro mês, tivemos um lucro de 100% sobre a nossa banca e ficamos boquiabertos. Muitos apostadores profissionais consideram incrível um lucro desses durante o ano, e em 30 dias conseguimos esse resultado. Aquilo tudo parecia mentira, e percebemos que um mês não era suficiente para validar um método. Continuamos fazendo a mesma coisa, aprimorando as nossas fórmulas, descobrindo novos conceitos e afiando a nossa metodologia.

A consolidação

Nos meses de fevereiro e março obtivemos lucros de aproximadamente 250% sobre a banca e estávamos confiantes no nosso aprendizado. Estávamos apostando bastante, com muita variedade de mercados e sempre buscando dicas e conselhos de apostadores profissionais que estavam a mais tempo no ramo.

Dessa forma, tivemos a ideia de expandir o nosso conhecimento para outras pessoas através da criação de uma página no Twitter e no Telegram. As páginas funcionam através das tips, que são sugestões de apostas enviadas a outras pessoas. Isso não é uma tarefa simples, requer responsabilidade e segurança, pois estamos lidando com o dinheiro e a saúde mental de outros indivíduos. Sabíamos que caso realmente entrássemos nesse mundo, teríamos que fazer as coisas do jeito certo, sem iludir os nossos seguidores. Sobre essa responsabilidade, conversei com o apostador Bonfanti, que prefere ser chamado de investidor esportivo:

“Acredito que um dos desafios principais é saber lidar com o público que me segue. Quanto mais pessoas, maior a responsabilidade. Saber lidar tanto com os greens (ganhos) como com os reds (perdas) também é muito importante. Mas acredito que por já ter essa experiência de tanto tempo com o canal, isso acabou se tornando algo natural.”

Bonfanti, investidor esportivo e dono do canal “Bonfantips”

No dia 06 de abril, finalmente criamos o nosso canal de apostas esportivas. Desde então, mantivemos o nosso método com alguns ajustes e o resultado vem sendo muito satisfatório. Considero esse o dia que realmente me considerei um apostador profissional, é claro que o conceito varia de acordo com cada pessoa, mas para mim é simples: quando você entende as maneiras que a casa ganha e desenvolve um método que extrai valor dessa casa, você se tornou um apostador profissional.

Hoje, o nosso canal no Telegram, que é onde enviamos as apostas, conta com mais de 700 inscritos e posso dizer que considero as apostas esportivas o meu trabalho. Afinal, faço apostas o dia todo e elas são a minha principal fonte de renda.

É possível viver disso?

Tendo passado por tudo isso e enxergando um futuro de uma carreira como apostador profissional, surge a dúvida: é possível viver apenas apostando?

“Viver de aposta na minha concepção é você passar a sua vida inteira apenas com o lucro proveniente das apostas. E esse lucro precisa ser suficiente para bancar a sua vida e a vida daqueles que dependem de você (seus filhos e sua família eventualmente). Pela minha experiência, o dinheiro disponível para ser extraído das casas amadoras é muito limitado e não dá pra bancar a vida. Claro que se você estiver entre os 1% daqueles que ganham dinheiro nas casas profissionais, você pode ter uma chance, mas isso não é uma coisa que deveria ser considerada por ninguém que está começando. Eu prego apostas como uma diversão lucrativa.”

Gabriel, dono do canal “The Smart Bettor”

“Acho que essa pergunta depende bastante do conceito de ”viver”. No Brasil temos muitos problemas como limitação e liquidez das linhas, o que atrapalha bastante quem trabalha com a stake alta. Respondendo a pergunta, acredito que dê pra viver, dentro do meu conceito de ”viver”, mas é inegável que existem muitos empecilhos para que isso seja posto em prática. Vender seu conhecimento é uma coisa bem atrativa para um apostador profissional e não tem nada de errado nisso, afinal, ninguém gosta de trabalhar de graça.” – Malone, apostador profissional e dono da página “BetMalone”.

Malone, apostador profissional e dono da página “BetMalone”

As opiniões variam, mas alguns fatos são importantes de serem ressaltados. As casas de aposta tem os seus métodos para se defenderem de apostadores que são lucrativos sobre elas, o principal é a limitação: a casa limita as contas que são muito lucrativas, permitindo que a pessoa apenas faça apostas com valores ínfimos, insuficientes para tirar um lucro real. 

Portanto, os apostadores buscam diferentes fontes de renda no próprio mundo das apostas para não depender apenas do lucro gerado na casa. Grupos pagos, criação de conteúdo são algumas das formas de viver do mundo das apostas que não se baseiam exclusivamente em retirar lucro da casa. É claro que tem um lado ruim, alguns influenciadores fazem parcerias com as casas e ganham dinheiro com revenue share. Essa prática consiste em criar um link de afiliado para entrada na casa, e a partir do momento que algum seguidor entra e cria a conta, o influenciador ganha uma porcentagem das perdas dessa pessoa.

Derrubando o estigma

No Brasil, as apostas esportivas têm sido associadas a um estigma social e culturalmente negativo por muitos anos. Isso está enraizado em várias percepções existentes no imaginário da sociedade brasileira. Em primeiro lugar, há uma associação com o vício e consequente endividamento e ruína financeira. Além disso, há a relação de que as apostas são uma forma de “dinheiro fácil”, promovendo a preguiça e a falta de produtividade. Ainda, há também uma preocupação válida em relação a atividades ilegais nesse meio, como a lavagem de dinheiro e a manipulação de resultados. Essa última que foi agravada recentemente com a investigação do Ministério Público sobre as máfias que compraram jogadores de alto escalão do futebol brasileiro para tomarem cartões amarelos de propósito.

Desde 2018, foi aprovada a Lei 13.756, que regulamenta as apostas esportivas no Brasil. O processo anda a passos curtos, mas é crucial para que atividades ilegais sejam mais difíceis de acontecer, o que pode tornar o estigma associado às apostas mais brando, na medida em que as pessoas passam a enxergar a atividade de forma legítima.

Além do mais, os apostadores profissionais também são importantes para essa mudança de imaginário. Na medida em que promovem a conscientização sobre as práticas responsáveis, sendo elas: o entendimento dos riscos envolvidos, o estabelecimento de limites financeiros e a busca de ajuda quando necessário. Vamos ver o que os próprios apostadores têm a dizer em relação ao assunto:

“Extremamente cruciais, pois são eles que permitem mostrar o outro lado da moeda. Sabemos que no Brasil, aquele que se diz “apostador profissional” é tido como um “viciado” ou “sortudo”, mas através desses apostadores, é possível mostrar que, apesar de haver sorte, o mercado das apostas esportivas vai muito além de um momento de acaso e dos seus escândalos.”

Yan, apostador profissional e dono da página “DV Tips”

“Com certeza. Mas o grande problema, na minha opinião, é o próprio ”apostador” supostamente profissional. Quantas pessoas devem existir que se denominam apostador/tipster/trader etc. nas redes sociais? Quantos destes realmente fazem um trabalho honesto e não vendem algo ilusório? Se eu fosse chutar aqui agora, diria que uns 80% das pessoas desse meio trabalham dessa forma aqui no Brasil. O recente escândalo foi lamentável, mas acredito que a imagem do apostador ser prejudicada, passa muito por esse meio que vivemos, não é uma coisa nova. Essa é uma grande crítica que faço no meu perfil, inclusive.”

Malone, apostador profissional e dono da página “BetMalone”.

Com isso, percebe-se a importância do trabalho de um apostador profissional. A responsabilidade não está restrita apenas à sua própria vida, mas também à vida das pessoas que você influencia e ajuda durante o caminho. Hoje, entendo que não estou apenas tirando lucro da casa de apostas, mas sim ajudando a transformar o mundo das apostas esportivas no Brasil para um ambiente saudável e de aprendizado.