Episódio Piloto

Era dia 12 de junho, data complicada para quem é solteiro como esse repórter e que herda da tradição norte americana o dia de São Valentim, o dia dos namorados.

Tudo naquele dia inspirava amor, desde pássaros cantando até promoções de chocolates em todos os supermercados, que me interessavam mais que os pássaros.

Tive a aula no laboratório de produção de reportagem, como é de costume nas quartas feiras, e cheio de ideias e anotações, subo para o restaurante setorial 1 para almoçar.

Naquele momento, precisava terminar a tão esperada reportagem final e estava mergulhado em pensamentos sobre quais locais de Belo Horizonte eram interessantes para casais de namorados ou noivos que buscam “momentos inesquecíveis”.

O Acontecimento

Na hora que bebia pela segunda vez o famoso suco cinza do bandejão, que dizem ser de limão, olho para o lado e vejo uma moça carregando um vaso bem simples de flores amarelas. Ela se ajoelha e pede algo a quem parece ser seu namorado.

Ela o pede em casamento.

No restaurante universitário da UFMG.

Lotado.

Ele não esboça reação. Leva uma eternidade e então consegue balançar a cabeça em um tímido sim. O bandejão vai à loucura. Garotas derramam lágrimas, meninos olham perplexos, pessoas tentam filmar, as mãos do rapaz mal seguram o vaso de forma desajeitada e o repórter de soslaio observa aquele novo casal de noivos, me mostrando novamente o lado bom da vida, como no filme, e que parece que ainda existe este conceito elegante chamado amor, para além das teorias de Bauman.

As hipóteses do caso

Qual seria a minha reação caso me pedissem em casamento em um local tão inusitado? Será que aquele vaso simples, desses vendidos em supermercado, representava um momento de impulso antes de pedir o rapaz em casamento? E as pessoas que estavam do lado, supostos amigos ou conhecidos do casal? Como eu conseguirei o contato destas pessoas depois? Arriscar uma foto de ambos? Posso pensar em enviar um spotted com a foto, talvez procurar uma moça com bolsa bege no mesmo local e período? Perguntar às muitas mulheres que trabalham no local também é uma possibilidade… Muitas linhas de investigação se mostram possíveis. A comida começa a perder o interesse, tudo em volta é um momento inesquecível que, esperando encontrar no espaço, acabo encontrando no tempo, aquele tempo entre almoçar e sair foi o necessário, e justamente ao meu lado.

Timidamente capturo meio sem enquadramento aquele final de pedido, quando ela se levanta para por as alianças nas mãos dele. Porque ela escolheu aquele cenário e local específico para o grande pedido? Eles devem ter deixado vestígios.

Foto do casal por volta das 11:27. Estaria a aliança no dedo errado? (Fonte: reportagem)

Eis que surge o acontecimento digno da matéria, que só fui perceber na outra semana de aula. Então, procurei no spotted da UFMG, na data chave, por mensagens sobre o evento. E nenhum resultado encontrado.

A primeira pista surge


Um dos amigos me sugere pesquisar no Twitter do dia, e então surge a primeira pista: uma fonte confidencial também presenciou o evento, compartilhando sua visão com os amigos. Procuro por fotos, ou saber qual o curso de ambos, mesmo que fosse um nome já seria suficiente. E nenhum resultado encontrado.

Testemunha confidencial que confirma o acontecimento no Bandejão (Fonte: Twitter )

Não me dou por vencido, retorno ao restaurante e  converso com funcionárias do dia. Infelizmente, nenhuma presenciou este evento, muitas possuem escalas diversas entre o dia e a noite, e não têm lembrança dos noivos. Não é possível que outras que estiveram no dia também não presenciaram a cena.

Já meio sem esperanças, sentei e almocei por duas semanas no mesmo local e mesmo horário à procura dos noivos. E nenhum resultado encontrado

Como último sinal de esperança, elaboro uma mensagem por spotted (que é uma forma anônima de perguntar qualquer coisa pela UFMG), com detalhes sobre o evento e se alguém mais possui informações, mesmo que sejam apenas lembranças ou vídeos que indiquem pistas mais concretas. Até agora meu pedido não foi publicado.

Pode chegar a lugar nenhum, mas continuo investigando.

Considerações sobre o caso


Agora é esperar que a mensagem seja publicada e encontrar o casal. Caso seja, perguntar sobre o dia, o porquê de ser no bandejão, se foi impulso ou planejado, se é lá que eles trocaram o primeiro olhar. Caso não seja, quem sabe topar com um deles e então considerar uma continuação numa parte dois. Mas isso é história para outra matéria.

Fabricio de Andrade

“Nem só de bandejão viverá o homem”