Sete alunos falam sobre a realidade da graduação e do ingresso na vida profissional

Por Douglas Herculano

Estou no quinto semestre do curso de Jornalismo da UFMG e faz apenas alguns meses que eu deixei de ver minha graduação, em si, como uma grande prioridade em minha vida. Apesar disso, estou longe de querer realmente desistir ou mudar de carreira, logo é necessário que eu lide com minha insatisfação. No entanto, como esperar mudanças naquilo que está completamente fora do seu controle?

Eu sempre tive outras ambições fora do Jornalismo e ainda pretendo segui-las com bastante foco e paixão. Minha intenção era que minha graduação também fosse alvo de minha determinação e uma certa expectativa foi criada por se tratar da melhor federal do país. Tal fato gera a pergunta: eu não estou gostando disso aqui, mas se aqui é o melhor lugar para se estar, então para onde devo ir?

Foto da placa do Colegiado de Jornalismo.

A resposta, no fim das contas, é para lugar nenhum. Muitas coisas estão fora de nosso controle e por mais que a universidade tenha falhado em suplantar diversas de minhas expectativas, ainda sim é um espaço rico de oportunidades, só basta querer. E esse é um ponto muito delicado e que entra em contato com o que eu descobri conversando com outros seis estudantes da minha turma. Mas falarei disso mais adiante.

Há alguns meses atrás, enquanto escutava relatos e opiniões de outros alunos, alguns dos quais foram entrevistados para esta escrita, eu costumava dizer sempre a mesma coisa a mim mesmo e também à outras pessoas que perguntavam sobre como era o meu curso. O resumo era que a graduação em Jornalismo da UFMG tinha um propósito simples, mas que não parece claro a priori: o curso não existe para ensinar pessoas a fazerem jornalismo em si, isto é, suas técnicas, mas sim para fazer com que seus graduandos sejam bons jornalistas quando então se encontrarem no campo profissional. No entanto, se o mercado de trabalho quer estagiários que saibam fazer jornalismo e a graduação não nos ensina as técnicas e práticas esperadas pelos contratantes, onde os estudantes vão aprender isso?

E se não é isso que o curso de Jornalismo da UFMG ensina, então o que ele ensina? Quais são as oportunidades que ele gera? O que novos calouros devem esperar entrando no curso? A resposta seria: um ambiente acadêmico rico. É exatamente isso que o aluno Felipe Borges diria a quem pensa em ingressar na faculdade e é algo que ele já esperava anteriormente, de modo que nunca se decepcionou. Ele continua animado com o curso e participa de um grupo de pesquisa da universidade. Felipe sabia onde estava entrando, está conduzindo seu progresso universitário com grande foco acadêmico e sua única queixa é que ainda existem professores com algumas visões antiquadas para o meio. Ou seja, ele sabe do foco acadêmico e seu desejo é que esse foco se intensifique ou melhore. No entanto, os outros cinco alunos com quem conversei pensam diferente. 

Diego Graim comenta que se sente sozinho num ambiente em que todos devem se encaixar num tipo de pensamento que não deve ser questionado. Maria Luísa Leal cita a falta de experiência de campo dos professores(que são renomados academicamente) como grande parte de sua insatisfação. Ronan Resende comenta que nunca aprendeu nada no curso que esperava aprender ou que veio a precisar em seu trabalho. Isabel Gonçalves cita uma falta de estrutura e uma grande burocracia para o uso dos espaços e dos equipamentos da universidade. Por fim, Pedro Sena questiona a forma como o próprio Jornalismo parece se desvalorizar e como isso impacta a vida do profissional negativamente.

Diego, Maria Luísa, Ronan, Isabel e Pedro possuem muitas queixas diversas com o curso, mas todos convergem em um ponto: o foco da UFMG é completamente centrado no desenvolvimento da pesquisa acadêmica. Mas, por exemplo, se apenas 2 das 20 pessoas da minha turma (ingresso em 2021) querem seguir carreira acadêmica (especialização, mestrado, doutorado e/ou carreira como professor universitário), o que os outros 90% estão fazendo no curso e o que é ensinado para eles?

É inegável que o simples ingresso no curso abre inúmeras portas profissionais nas áreas do Jornalismo, do Marketing e da Assessoria e esse é um grande diferencial da UFMG. No entanto, é como se a universidade abrisse portas que seus alunos irão atravessar sem estar preparados para o que existe do outro lado. 

Das 24 matérias obrigatórias do curso, somente quatro ensinam técnicas ou preparam os alunos para algum tipo de produção, sendo que dessas, uma é sobre fotografia e outra é sobre marketing. Das 53 matérias optativas, são sete laboratórios (focados em produções práticas) e duas oficinas. Logo, fica claro que a preparação profissional do curso é focada na teoria. Mas se 90% da minha turma entrou na graduação para seguir posteriormente para o mercado de trabalho, por que a UFMG não parece estar preocupada em preparar seus alunos para tal ambiente?

Conversei com a Professora Dra. Vanessa Cardozo Brandão que é a atual Coordenadora do Colegiado de Jornalismo da UFMG e pude conhecer a visão do “outro lado”. Em primeiro lugar, ela salientou que a experiência de se estudar na UFMG é única, demasiado rica e que não deve ser vista como um mero curso de técnicas profissionalizantes. Ela também confirmou minha visão inicial sobre o curso: a de que o foco da graduação é desenvolver a capacidade teórico-crítica de seus alunos para que seus potenciais sejam superiores, em meio ao mercado de trabalho, a daqueles vindos de outras universidades.

E é com base nessa visão que ela responde a pergunta feita anteriormente “se o mercado de trabalho quer estagiários que saibam fazer jornalismo e a graduação não nos ensina as técnicas e práticas esperadas pelos contratantes, onde os estudantes vão aprender isso?” da seguinte forma: o mercado de trabalho sabe do potencial acima da média dos alunos da UFMG e está pronto para recebê-los e treiná-los. No entanto, parece que esqueceram de contar essa parte para os alunos que se sentem somente desamparados.

Um último ponto interessante levantado pela Coordenadora é que a UFMG não é somente rica em oportunidades mas também no quesito liberdade. Segundo ela, os alunos que esperarem um modelo fechado de técnicas ensinadas uma atrás da outra ficarão muito frustrados, enquanto que aqueles que tenham atitude para usufruir de sua autonomia para construir seu percuso universitário da forma mais rica possível terão maior sucesso. Logo, em nenhum momento ela nega que não há aconselhamento, não há orientação e os alunos precisam “se virar”. Ela também não nega que existe uma falha educacional na transposição dos alunos do Nível Fundamental para o Nível Superior e que dessa forma todos chegam numa nova estrutura sem saber exatamente o que está acontecendo.

No fim, a realidade é que os alunos têm que aprender sozinhos à medida que vão ingressando e mudando de trabalho, quase que colocando os trilhos na frente do trem com este já em movimento. Isso desencoraja, mas não o suficiente para a desistência. Digo isso em relação ao fato de que nem eu, nem qualquer um dos seis entrevistados pensam em realmente desistir, mas sim em concluir a graduação, obter o diploma e seguir suas vidas profissionais da mesma forma que a acadêmica: sozinhos. 

Fontes:

Depoimentos de Felipes Borges, Diego Graim, Maria Luísa Leal, Ronan Resende, Isabel Gonçalves, Pedro Sena e Vanessa Cardozo Brandão.

https://ufmg.br/cursos/graduacao/2698/87157