O bairro preocupa os moradores pela falta de segurança e afasta universitários de fora que poderiam fazer nele sua casa.

Repórter: Hiago Martins; Editores: Diogo Borges e Douglas Herculano

Seja pela facilidade, praticidade ou necessidade, diversos estudantes universitários se alocam nos bairros em torno da UFMG. Contudo, a insegurança é um fator essencial para se analisar em relação à vivência nesses bairros, destacando-se negativamente o São Francisco. Levando em conta um levantamento realizado entre janeiro e agosto de 2022 pelo jornal Estado de Minas, juntamente com a Polícia Militar de Minas Gerais, o bairro fica em segundo com maior número de ocorrências de crimes violentos entre os bairros universitários, com 47 casos, estando atrás apenas do São Luiz (69), região em que se concentram moradores luxuosos, movimentação dos eventos e jogos do Mineirão.

Há uma série de fatores que fazem o bairro São Francisco ser uma opção de escolha dos estudantes da UFMG, sendo o mais óbvio deles a proximidade com o campus Pampulha. Entrando pelo Colégio Militar, os alunos têm fácil acesso aos prédios da FAFICH, FAE, CAD 2 e o Restaurante Setorial 1. Outro fator importante é o valor acessível do aluguel na região. Segundo o site de locação QuintoAndar, o aluguel médio do bairro gira em torno de R$ 1 mil, valor bastante em conta quando comparado com bairros como Liberdade ou Ouro Preto, nos quais o aluguel costuma ficar em torno de R$ 3 mil.

Figura 1: Mapa dos bairros universitários entorno do Campus Pampulha via satélite/ Imagem: Google Maps

Pela imagem acima, é possível observar uma diferença fundamental entre o São Francisco e os outros bairros que compõem o entorno da universidade: a falta dos telhados de cerâmicas, elemento característico das residências da região. Por outro lado, é possível reparar o grande número de lajes acinzentadas, característica dos galpões que formam a arquitetura do bairro e limitam a quantidade de zonas residenciais.

igura 2: Galpões do bairro São Francisco, Belo Horizonte/ Fotos: Hiago Martins

Esse fator, em conjunto com a escassez de comércio, contribui para a sensação de insegurança da região. “Não vou mentir, é perigoso. Não é muito movimentado e à noite começa a ficar muito isolado”, comenta Ivonete, 43 anos, moradora do bairro desde que nasceu. “Há uns anos atrás eu fui assaltada. Eles vinham de manhã e aproveitavam que o ponto (de ônibus) estava cheio”. Segundo relato da comerciante, o bairro também é alvo dos assaltantes pela facilidade de fuga pelo Anel Rodoviário, em especial para os numerosos casos de roubo de carro que tem assolado a região.  

Para alunos da UFMG, principalmente aqueles que precisam ir ou voltar da universidade à noite, a falta de segurança do bairro é um desafio ainda maior. Passar pelo Centro de Treinamento Militar não parece melhorar a sensação de insegurança de andar por um caminho entre dois terrenos baldios e mal iluminado. Como observado na imagem abaixo.

Caminho de acesso à UFMG pelo bairro São Francisco/ Foto: Hiago Martins

Marco, aluno de pedagogia na FAE, morador do bairro há menos de 1 ano, comenta que nunca teve um problema mais “sério”, mas busca tomar algumas prevenções como sempre andar com mais pessoas, buscar caronas etc. Para ele, a falta de políticas públicas de prevenção a crimes é um dos principais fatores para o bairro ser um alvo fácil. 

Quando olhamos para a distribuição de bases policiais e delegacias na região entorno do bairro isso fica ainda mais evidente. Ouro Preto, Liberdade e São Luiz têm, pelo menos, uma unidade de prevenção e São Francisco nenhuma. As imagens abaixo, tiradas do Google Maps, mostram bem essa diferença.

Mapa dos bairros universitários da UFMG. Em vermelho, mostra as bases de segurança da PM em Ouro Preto, Liberdade e São Luiz/ Imagem: Google Maps

Mapa dos bairros universitários da UFMG. Em vermelho, mostra as bases de segurança da PM em Ouro Preto, Liberdade e São Luiz/ Imagem: Google Maps

Mapa dos bairros universitários da UFMG. Em vermelho, mostra delegacias mais próximas do campus UFMG Pampulha/ Imagem: Google Maps

Todos esses elementos aumentam a sensação de insegurança que preocupa os estudantes que residem no São Francisco. Sem esperanças de políticas públicas para ajudar a combater o problema, os universitários buscam saídas por conta própria. Evitar sair durante à noite, andar acompanhado e sempre estar atento, por exemplo, são algumas das prevenções adotadas pelos estudantes da UFMG para lidar com o problema que não parece ter solução num futuro breve.

O bairro que poderia ser uma opção mais acessível para os estudantes de uma das melhores universidades do Brasil, acaba sofrendo com o perigo recorrente, afastando possíveis moradores e assolando os que já vivem lá, forçados a adotarem medidas próprias de segurança, que nem sempre são o suficiente.

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