Por Yasmin Oliveira; Edição: Maria Eduarda Castro e Matheus Almeida
O Programa de Apadrinhamento recebe, a cada semestre, os intercambistas recém-chegados à UFMG. Vindos de várias universidades espalhadas pelo mundo, os intercambistas são recepcionados pelos seus padrinhos ou madrinhas e chegam a participar de eventos e encontros organizados pelo Setor de Acolhimento da DRI (Diretoria de Relações Internacionais). No entanto, o que era para ser prático e objetivo, ao auxiliá-los, acaba trazendo dificuldades.
As programações realizadas incluem várias atividades, pensadas na troca cultural e nas experiências entre os envolvidos. Mas, como muitos padrinhos e madrinhas fazem estágio, esses não conseguem participar de forma efetiva. Rafaela Lacerda, estudante de Relações Públicas na UFMG, relata que, devido ao fato dessas programações serem durante a semana, os padrinhos e madrinhas que estudam e trabalham não conseguem estar tão presentes nesses encontros, o que não impede, o contato com o afilhado, mas restringe, de alguma forma, essa relação.“Minha experiência como madrinha foi super tranquila. Eu tento me fazer o máximo presente, porém os compromissos que tenho com relação ao estudo e ao trabalho impedem uma maior aproximação, mas nada muito negativo.”
Salomé Beltran veio de Bogotá para UFMG estudar Sociologia e acredita que as ações da DRI conseguem aproximar os intercambistas da cultura brasileira, por meio de atividades e eventos, mas diz que nem sempre há afinidade com o seu padrinho ou madrinha, o que não impede o contato com outras pessoas.“As atividades são importantes nas primeiras semanas, mas depois disso você conhece muitas pessoas e não precisa ficar o dia inteiro com a sua madrinha”, relata.
Dylan Angeles, por sua vez, intercambista vindo da Cidade do México para estudar Administração, conta que participou de muitas atividades da DRI durante o semestre e chegou a visitar diversos lugares como o Parque das Mangabeiras, Praça do Papa, Inhotim e Ouro Preto. Angeles diz que, apesar de ter tido quatro padrinhos, não teve muita afinidade com eles. “Sinto que muita gente se inscreve por causa dos seus pontos, pelos privilégios que vão ser dados a quem quiser fazer intercâmbio. O problema é que eles se inscrevem, mas não fazem nem metade. De todas as pessoas que conheci no intercâmbio, muitas não conheciam seus padrinho”, conta.
O mexicano ainda relata que no momento que os intercambistas chegam, eles têm que lidar com questões burocráticas como fazer documentos, sacar dinheiro, trocar o chip do celular, e que teve dificuldades para realizar as tarefas. “Você chega sozinho e não conhece ninguém, então você pensa: ‘Vou recorrer aos meus padrinhos’, mas depois eles vão embora.”
Dylan cita que teve duas madrinhas “adotivas” que o ajudaram no cotidiano, seja para traduzir algo ou tirar xerox, mas também para sair e conhecer outras pessoas. Além disso, diz que muitos intercambistas se sentem sozinhos e tristes, e alguns chegam a ficar depressivos por não conseguirem se adaptar. “Os brasileiros são muito recepcionistas, amáveis e calorosos, mas para fazer amizade a longo prazo não é tão fácil. Percebi isso porque intercambistas, afinal, só fazemos festas entre nós”.
Em vista dos depoimentos, o Programa de Apadrinhamento, apesar de ter muitos inscritos e proporcionar aos intercambistas momentos descontraídos, divertidos e de muito conhecimento, infelizmente, acaba por restringir, em alguns aspectos, a experiência dos intercambistas na universidade em detrimento do abandono dos padrinhos.
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