Para alunos da graduação na UFMG, bolsas de estágios podem significar permanência na Universidade

Por Brenda Luiza; Edição por Beatriz Tito Borges e Isabella Veloso

Uma pesquisa realizada pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), organização privada voltada para intermediar a colocação de estagiários em empresas, entre os períodos de janeiro a junho de 2022, apontou que a média da bolsa de estágio no Brasil é de cerca de R$ 1.300. A bolsa-auxílio, como também é chamada, é oferecida em casos de estágios não obrigatórios e pretende ajudar estudantes a financiarem seus estudos. Livros, transporte, participações em eventos acadêmicos e materiais escolares, em geral, são alguns dos gastos de quem inicia a faculdade. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estudantes ouvidos pela reportagem compartilham suas realidades e contam como a bolsa de estágio influencia sua permanência na universidade.

Contas básicas, aluguel e mercado

Para Nicolle Paula, 21, graduanda do sétimo período do curso de Jornalismo na UFMG, os gastos não estão essencialmente vinculados ao complemento do estudo, já que, atualmente, usa o valor da bolsa para pagar contas básicas, como aluguel e mercado. Originalmente de Volta Redonda, Rio de Janeiro, a universitária começou o curso ainda na pandemia. Nos dois anos de ensino a distância, conseguiu um estágio na Rádio UFMG Educativa. Quando as aulas voltaram ao meio presencial, seu contrato já estava no fim. Os gastos extras que vieram com a mudança para Belo Horizonte fizeram com que ela começasse a buscar uma nova fonte de renda com mais urgência e menos critério.

“Antes de eu me mudar, nós [família] tínhamos guardado um pouco de dinheiro para casos de emergência. Acredito que se eu não tivesse conseguido um freela e depois outro estágio, minha família continuaria a me ajudar até quando desse. Não seria super tranquilo, porque aqui o custo de vida é muito caro, então não tinha muita opção a não ser conseguir um estágio logo”, relata Nicolle.

O estágio como meio de se manter na capital acabou afetando a relação de Nicolle com o curso e com a própria experiência no mercado de trabalho. “Comecei a buscar por oportunidades que tivessem uma boa remuneração acima de tudo, sem considerar gosto e interesse por determinadas áreas”, diz a estudante. Atualmente, Nicolle estagia na área de SEO, otimização para motores de busca, e produção de conteúdo. Com uma bolsa no valor de R$ 1.100, a universitária conta que seu sonho era estagiar na área de jornalismo cultural.

Oportunidades deixadas de lado

As vagas na área de jornalismo cultural oferecem uma bolsa muito baixa, fato que dificultaria a permanência de Nicolle na cidade. Segundo a estudante, alguns amigos também passam pela mesma situação. “A maioria busca um estágio com uma bolsa para se sustentar mesmo, o que é complicado, considerando que muita gente deixa de lado oportunidades que se alinham mais com seus interesses pessoais, para buscar vagas que ofereçam essa segurança financeira, sabe?”, aponta a universitária.

A Lei do Estágio, promulgada em setembro de 2008, visa o desenvolvimento do estudante para o trabalho e a vida em sociedade. Porém, quando a bolsa é responsável pela maior parte da fonte de renda, o estágio se torna trabalho. “Sinto uma pressão muito grande para entregar e entregar, com medo de perder o estágio, então acabo fazendo horas extras e trabalhando demais”, conta Nicolle sobre a cobrança feita pela empresa em que estagia.  

Vontade de trabalhar

José Hélio, 23, por outro lado, relata que a procura por um estágio veio muito mais da vontade de trabalhar em uma empresa de referência em sua área do que por questões exclusivamente financeiras. Estudante do sétimo período do curso de Engenharia Elétrica, veio da Bahia estudar na UFMG. Apesar de a bolsa de R$ 1.200 ajudar com o aluguel, o fato do dinheiro não ser uma questão urgente possibilitou que ele optasse por se dedicar, nos primeiros anos do curso, à Universidade.

“Minha primeira experiência como estagiário foi desastrosa. Eu perdi o semestre letivo por não dar conta das atividades. Além do estágio e os estudos, participava de um projeto de extensão”, relata José. Como estava se sentindo prejudicado em seu desempenho no curso, ele largou o estágio para poder se dedicar integralmente aos estudos.

Atualmente, com a maior parte da carga horária do curso integralizada, José diz que a aprendizagem prática em seu novo estágio está sendo positiva. “A empresa em que trabalho é referência em questões de projetos de engenharia. Durante meus primeiros anos de faculdade, eu tomei conhecimento dessa corporativa, e trabalhar nela se tornou algo pelo qual eu ansiava muito. E também, o estágio que eu faço cobra conhecimentos da área do meu curso que eu tenho mais interesse em seguir carreira”, afirma o estudante.

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